São Paulo, sexta-feira, 30 de junho de 2000


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Punição é farsa jurídica típica das ditaduras

MARCELO DAMATO
DO PAINEL FC

Só crê quem quiser que o motivo real da suspensão do Gama foi a ida do clube à Justiça comum. Trata-se, sim, de uma retaliação política ao time que enfrentou o poder dos dirigentes.
Para ver que o roteiro jurídico para a punição segue o padrão dos Estados autoritários, basta examinar os antecedentes.
Em primeiro lugar, tecnicamente, não foi o Gama quem foi à Justiça, mas o diretório do PFL e o sindicato dos técnicos do Distrito Federal.
Em segundo, nunca se cogitou uma sanção a Botafogo-RJ, São Paulo e Federação Estadual do Rio, que apelaram à Justiça comum em ações similares.
Os exemplos não param aí. Em 1998, o Vasco, com liminar da Justiça do Trabalho, adiou jogo do Brasileiro, numa ação do sindicato dos atletas do Rio.
Há um ano, o Bahia, usando um testa-de-ferro, foi à Justiça usando a tese da ação pró-Gama (direitos do consumidor), para não jogar a final do Estadual-99 no estádio do Vitória.
Em ambos os casos, a CBF, agora travestida de "guardiã" do estatuto da Fifa, não esboçou a mínima reação.
O Clube dos 13, que hoje também repudia o ato do Gama, não só não advertiu o Bahia, seu filiado, como engendrou nova virada de mesa para colocá-lo na primeira divisão.
Desobedecer leis e seus próprios regulamentos são tradição na entidade nacional e no organismo que reúne os clubes mais poderosos do país.
Aliás, o Clube dos 13 nasceu, em 1987, do maior golpe do futebol nacional, que alijou do torneio de elite (Copa União) o vice-campeão e o terceiro colocado do Brasileiro de 1986.
Viradas de mesa nos Brasileiros são feitas pela CBF desde a primeira edição, em 1971. Como a punição ao Gama, são baseadas em todo tipo de argumento, vide a de 1997, que "pescou" o Fluminense para a Série A.
Se o Gama vai dobrar mais essa decisão, não se sabe. Mas o caso jogou o futebol do país em outro grande mar de lama.


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