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Punição é farsa jurídica típica das ditaduras
MARCELO DAMATO
DO PAINEL FC
Só crê quem quiser que o motivo real da suspensão do Gama
foi a ida do clube à Justiça comum. Trata-se, sim, de uma retaliação política ao time que enfrentou o poder dos dirigentes.
Para ver que o roteiro jurídico
para a punição segue o padrão
dos Estados autoritários, basta
examinar os antecedentes.
Em primeiro lugar, tecnicamente, não foi o Gama quem foi
à Justiça, mas o diretório do
PFL e o sindicato dos técnicos
do Distrito Federal.
Em segundo, nunca se cogitou
uma sanção a Botafogo-RJ, São
Paulo e Federação Estadual do
Rio, que apelaram à Justiça comum em ações similares.
Os exemplos não param aí.
Em 1998, o Vasco, com liminar
da Justiça do Trabalho, adiou
jogo do Brasileiro, numa ação
do sindicato dos atletas do Rio.
Há um ano, o Bahia, usando
um testa-de-ferro, foi à Justiça
usando a tese da ação pró-Gama (direitos do consumidor),
para não jogar a final do Estadual-99 no estádio do Vitória.
Em ambos os casos, a CBF,
agora travestida de "guardiã"
do estatuto da Fifa, não esboçou
a mínima reação.
O Clube dos 13, que hoje também repudia o ato do Gama,
não só não advertiu o Bahia,
seu filiado, como engendrou nova virada de mesa para colocá-lo na primeira divisão.
Desobedecer leis e seus próprios regulamentos são tradição
na entidade nacional e no organismo que reúne os clubes mais
poderosos do país.
Aliás, o Clube dos 13 nasceu,
em 1987, do maior golpe do futebol nacional, que alijou do
torneio de elite (Copa União) o
vice-campeão e o terceiro colocado do Brasileiro de 1986.
Viradas de mesa nos Brasileiros são feitas pela CBF desde a
primeira edição, em 1971. Como
a punição ao Gama, são baseadas em todo tipo de argumento,
vide a de 1997, que "pescou" o
Fluminense para a Série A.
Se o Gama vai dobrar mais essa decisão, não se sabe. Mas o
caso jogou o futebol do país em
outro grande mar de lama.
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