São Paulo, sexta-feira, 30 de junho de 2006

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"Eles jogam das 8h às 18h", diz Henry

Atacante francês se atrapalha ao associar técnica dos brasileiros ao pouco tempo que crianças do país passam na escola

Companheiro de Gilberto Silva no Arsenal diz que jogo será especial porque atletas se conhecem e até rirão uns para os outros em campo


FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A HAMELN

O atacante francês Thierry Henry associou ontem a técnica do futebol brasileiro ao fato de as crianças do país jogarem bola todo o tempo. De acordo com ele, na França não ocorre o mesmo fenômeno, porque as crianças são impedidas pelos pais de jogarem sempre, já que precisam ir à escola.
O que era para ser elogio e saiu como um preconceito (ou no mínimo um estereótipo exagerado) foi dito ontem, dois dias antes do jogo entre os países pelas quartas-de-final, em entrevista coletiva em Hameln, base do time na Alemanha.
Quando emitiu a opinião, o craque do Arsenal respondia a uma pergunta sobre ao que o futebol brasileiro lhe remete.
"É um time com uma identidade, que joga bola o tempo todo. Se eles ganham de 3 a 0 sem jogar bem, é uma catástrofe para o país. Existe uma identidade, como na Argentina, que não existe entre nós. Eles jogam na praia, na rua, até na estrada eles param para jogar... Eles nascem jogando futebol. Quando eu era pequeno, ia à escola das 8h às 17h, e minha mãe não me deixava descer para jogar. Eles jogam das 8h às 18h! Então, a técnica acaba vindo por isso", afirmou.
Henry, atleta esclarecido, símbolo de campanhas anti-racistas, fez a declaração em meio a vários comentários positivos sobre os colegas brasileiros. "São jogadores sem comparação. Não podemos ignorar as cinco estrelas no uniforme deles nem tudo o que fizeram na história do futebol. Mas estamos aqui para ganhar, não para sonhar com o título."
A partida de amanhã em Frankfurt oporá muitos companheiros de time. Henry joga no Arsenal com Gilberto Silva. Zidane atua ao lado de Ronaldo, Roberto Carlos, Robinho e Cicinho no Real Madrid. Vieira, Thuram e Trezeguet vestem a mesma camisa alvinegra que Emerson, na Juventus. Há casos ainda no Lyon (Juninho com Malouda, Abidal, Coupet, Wiltord e Gouvou) e no Bayern de Munique (Lúcio e Zé Roberto com Sagnol).
Questionado pela Folha se as coincidências poderiam tornar o jogo diferente, Henry afirmou: "Temos muito respeito entre nós, e já joguei muitas vezes contra todos. Espero que seja um jogo bonito e, como nos conhecemos tão bem, às vezes você verá as pessoas em campo rindo para as outras. Será um jogo especial".
O atacante, que tem dois gols na Copa (contra Coréia do Sul e Togo), mas ainda não repetiu as atuações de gala do Arsenal, negou que haja desunião na seleção francesa, com os mais experientes formando um grupo com poder paralelo. "Antes de um jogo como o contra a Espanha, estava difícil convencer as pessoas de que estamos unidos. Talvez agora entendam."
Reserva no Mundial de 98, Henry revelou que ficou decepcionado por não ter participado da final contra o Brasil. "Eu deveria ter entrado cinco minutos após o intervalo, mas Marcel [Desailly] foi expulso. Eu disse para mim mesmo: "p..., Marcel, que m...", vou ficar sem jogar a final. Mas esqueci rapidamente, e tudo foi lindo."


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