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"Eles jogam das 8h às 18h", diz Henry
Atacante francês se atrapalha ao associar técnica dos brasileiros ao pouco tempo que crianças do país passam na escola
Companheiro de Gilberto Silva no Arsenal diz que jogo será especial porque atletas se conhecem e até rirão uns para os outros em campo
FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A HAMELN
O atacante francês Thierry
Henry associou ontem a técnica do futebol brasileiro ao fato
de as crianças do país jogarem
bola todo o tempo. De acordo
com ele, na França não ocorre o
mesmo fenômeno, porque as
crianças são impedidas pelos
pais de jogarem sempre, já que
precisam ir à escola.
O que era para ser elogio e
saiu como um preconceito (ou
no mínimo um estereótipo exagerado) foi dito ontem, dois
dias antes do jogo entre os países pelas quartas-de-final, em
entrevista coletiva em Hameln,
base do time na Alemanha.
Quando emitiu a opinião, o
craque do Arsenal respondia a
uma pergunta sobre ao que o
futebol brasileiro lhe remete.
"É um time com uma identidade, que joga bola o tempo todo. Se eles ganham de 3 a 0 sem
jogar bem, é uma catástrofe para o país. Existe uma identidade, como na Argentina, que não
existe entre nós. Eles jogam na
praia, na rua, até na estrada eles
param para jogar... Eles nascem
jogando futebol. Quando eu era
pequeno, ia à escola das 8h às
17h, e minha mãe não me deixava descer para jogar. Eles jogam
das 8h às 18h! Então, a técnica
acaba vindo por isso", afirmou.
Henry, atleta esclarecido,
símbolo de campanhas anti-racistas, fez a declaração em meio
a vários comentários positivos
sobre os colegas brasileiros.
"São jogadores sem comparação. Não podemos ignorar as
cinco estrelas no uniforme deles nem tudo o que fizeram na
história do futebol. Mas estamos aqui para ganhar, não para
sonhar com o título."
A partida de amanhã em
Frankfurt oporá muitos companheiros de time. Henry joga
no Arsenal com Gilberto Silva.
Zidane atua ao lado de Ronaldo, Roberto Carlos, Robinho e
Cicinho no Real Madrid. Vieira,
Thuram e Trezeguet vestem a
mesma camisa alvinegra que
Emerson, na Juventus. Há casos ainda no Lyon (Juninho
com Malouda, Abidal, Coupet,
Wiltord e Gouvou) e no Bayern
de Munique (Lúcio e Zé Roberto com Sagnol).
Questionado pela Folha se
as coincidências poderiam tornar o jogo diferente, Henry
afirmou: "Temos muito respeito entre nós, e já joguei muitas
vezes contra todos. Espero que
seja um jogo bonito e, como
nos conhecemos tão bem, às
vezes você verá as pessoas em
campo rindo para as outras. Será um jogo especial".
O atacante, que tem dois gols
na Copa (contra Coréia do Sul e
Togo), mas ainda não repetiu
as atuações de gala do Arsenal,
negou que haja desunião na seleção francesa, com os mais experientes formando um grupo
com poder paralelo. "Antes de
um jogo como o contra a Espanha, estava difícil convencer as
pessoas de que estamos unidos.
Talvez agora entendam."
Reserva no Mundial de 98,
Henry revelou que ficou decepcionado por não ter participado da final contra o Brasil. "Eu
deveria ter entrado cinco minutos após o intervalo, mas
Marcel [Desailly] foi expulso.
Eu disse para mim mesmo: "p...,
Marcel, que m...", vou ficar sem
jogar a final. Mas esqueci rapidamente, e tudo foi lindo."
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