São Paulo, sexta-feira, 30 de junho de 2006

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Foco

Bandeiras nas janelas ofuscam o fantasma do nazismo na Alemanha

PAULO SAMPAIO
DO ENVIADO A BERLIM

Pendurar a bandeira na janela durante a Copa do Mundo é, no Brasil, uma expressão quase lúdica de patriotismo. Na Alemanha, o fantasma do nazismo dá um peso bem maior à demonstrações nacionalistas -até eles estão surpresos com o aquecimento da torcida desde o começo do torneio.
"Nem mesmo em feriados nacionais você vê carros ou apartamentos com bandeiras nas janelas", diz a médica Dominica Rufer, 31. "Sei que é por causa do esporte, mas o alemão perde um pouco o senso de medida."
O humorista Dieter Nuhr, 43, diz que aconteceu com a torcida alemã uma espécie de "inversão térmica" em relação à do Brasil: "Nós não acreditávamos na vitória, mas o time começou a apresentar um futebol bom, então esquentamos; já o Brasil, que é favorito desde sempre, tem uma porção de moleirões, e a torcida, que costuma ser forte, esfriou...".
Para alguns entrevistados, que a princípio consideram a pergunta sobre as bandeiras nas janelas inocente, este é um momento de festa. "Assim demonstramos receptividade aos visitantes. É como se disséssemos: gostamos do nosso país, queremos que vocês gostem também'", explica o administrador de Jorg Schneider, 47.
Porém, quando se quer saber se, por motivos históricos, o ufanismo é desencorajado na Alemanha, todos no boteco olham. "Vou tirar a bandeira dali depois da Copa", diz, quase se desculpando, Brigitte Lipinski, 56.
A secretária Manuela Klein, 33, que também bebe no local, diz: "Ainda hoje esse passado nos faz ser cuidadosos. Não é à toa que dois terços do nosso hino nacional não são cantados, uma parte porque remete a um tempo em que o país era muito maior e foi exaustivamente repetido durante o nazismo, lembra ela, que se recusa terminantemente a traduzir o trecho suprimido.
Em muitas bandeiras penduradas lê-se "It's your Heimspiel" que quer dizer algo como "Você está jogando em casa", tem de ganhar".
Parado no sinal em um Mercedes Benz, com duas bandeirinhas fincadas acima de cada porta, o empresário Marcos Pausch, 38, diz que tem outra, maior, no porta-malas. "E uma na janela de casa. Você não pode pendurar a do Brasil?", diz, sem agressividade.


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