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entrevista
As mães são o meu exemplo, diz treinador
DA REPORTAGEM LOCAL
Mamães, sensibilidade e
combate à preguiça. Dunga
nunca treinou uma equipe
profissional, mas já tem na
ponta da língua os preceitos
que devem norteá-lo no comando da seleção. Na noite
de anteontem, ele conversou
com a Folha, por telefone.
(GUILHERME ROSEGUINI)
FOLHA - Suas qualidades de líder sempre são exaltadas por
quem atuou ao seu lado como jogador. Em quem você se espelha?
DUNGA - Não fico procurando exemplos na política nem
no esporte. Me espelho mesmo é nas mães. Quem tem
paciência pra agüentar filhos, marido, trabalho, brigas
internas e consegue apaziguar as coisas? Quem sabe a
hora de puxar as orelhas no
momento certo? Quem fica
feliz com o sucesso dos outros? Só as mães. São verdadeiras líderes, e podemos
aprender com elas lições que
podem ser transportadas para o cotidiano do futebol.
FOLHA - Ao anunciar sua contratação, a CBF informou que buscava um técnico vibrante, motivador. Mas só isso basta na seleção?
DUNGA - Tudo é importante.
Acredito que a sensibilidade
é algo fundamental. É preciso conhecer bem cada jogador, para saber em que momento é preciso fazer cobranças ou elogios, para ter
em mente quem pode brilhar, quem pode resolver a situação nos momentos complicados. Fui atleta e tive técnicos que sabiam sugar o que
eu tinha de melhor. Eles me
conheciam. Quero poder fazer o mesmo agora.
FOLHA - Você estréia no próximo dia 16, contra a Noruega. Já
pensou em como motivar o grupo, especialmente após a malfadada campanha na Alemanha?
DUNGA - Estar na seleção já é
uma motivação. Eu valorizo
muito isso, talvez por não ter
sido um craque. Sempre tive
vontade de vencer. Quem
ocupa um posto tão cobiçado
deve ter a exata noção da importância do Brasil. Lembro
de uma frase do Ricardo Rocha [zagueiro campeão do
mundo em 1994] que acho
muito interessante. Ele dizia
"eu quero é entrar na banda,
não importa o instrumento
que vou tocar." Este espírito
de entrega precisa existir.
FOLHA - Você sempre declarou
gostar de treinar duro. Pretende
tornar mais árduas as práticas da
seleção, tão criticadas na Copa?
DUNGA - É preciso avaliar
caso a caso. Não vou chegar
agora e dar um treino de 3
horas só para dar resposta
por causa do último Mundial. Os jogadores acabam de
sair de férias, é um momento
complicado. Mas, quando tiver tempo, aí seguirei as coisas em que acredito. Pô, 180
milhões querem jogar na seleção brasileira. Não pode
haver preguiça. Com 14 ou 35
anos, nunca liguei de sair cedo da cama para treinar. Sacrifício momentâneo, satisfação duradoura. Os jogadores vão ter que entender isso.
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