São Paulo, segunda-feira, 30 de julho de 2007

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Fim de feira

Brinde para quem assistiu ao jogo do Brasil, disputa pelo sétimo lugar no torneio masculino de basquete encerra, em tom melancólico, as competições do Pan

MÁRVIO DOS ANJOS
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

No Rio, onde o Pan adquiriu ares de Carnaval e Copa, foi inevitável o domingão de cinzas. Num dia de céu nublado e no frio, percebia-se que Cauê já pedira o boné no RH da Odepa.
Mas, às 16h, a bola ainda tinha um último dever. Era preciso que Canadá e Ilhas Virgens decidissem na Arena Multiuso o sétimo lugar do basquete masculino. Coisa fina, antes que a cerimônia de encerramento, como um monumental e indizível "Domingão do Faustão", injetasse mais melancolia na ressaca pan-americana.
Canadá x Ilhas Virgens era um dos "brindes" inclusos no ingresso da final entre Brasil e Porto Rico. Entre um e outro, ainda houve uma partida da seleção baba dos EUA, que conquistou o quinto lugar ao derrotar o medíocre Panamá.
A torcida carioca, que sempre identifica nos EUA um rival, adotou o Panamá. "Ah, sou panamenho, com muito orgulho, com muito amôôô-or" era o melhor grito na arena.
Mas eram os EUA, a pátria da NBA, o time de George W. Bush, a galera que chamou o Rio de Congo. Fazia sentido. E Canadá x Ilhas Virgens? Nem o Sportv 3, o canal mais alternativo do Pan, transmitiu ao vivo -no máximo, flashes durante a final de duplas do tênis.
Entre as cerca de 50 testemunhas remanescentes do jogo do Brasil, além dos voluntários e profissionais em ação, só as meninas do softbol do Canadá tinham motivos para torcer.
"Viemos aqui porque não tinha outro jogo, e eles são nossos amigos", afirmou a arremessadora Danielle Lawrie, 20. "Só que, sem torcida e num ritmo morno, está meio chato."
Mas havia interessados, como Elen Rosa, 22, estudante de educação física e técnica do time mirim feminino do Fluminense. "É tão difícil ver um torneio desse tipo aqui que a gente tenta aproveitar até o fim."
A treinadora não tinha previsto ir tão longe. "Paguei R$ 60 para ver o Brasil, mas, depois, fui ficando. Queria ver os EUA, mas achei o time fraco, com muitos erros de passe e definição", avaliou. "Das Ilhas Virgens eu até gosto, são raçudos."
E havia outro esporte pegando fogo, ainda sem nome, que consiste em pedir pins, camisas ou seja lá o que for para os atletas e qualquer um que pareça ter um crachá mais legal.
A campeã foi Lorrayne Zacharias de Souza, 13, aluna de Elen. Do lado da quadra por onde os atletas saíam nos intervalos, ela fazia "psiu", ao lado de outros pidões, tentando conseguir alguma recordação dos estrangeiros. Nos nove dias em que compareceu à arena do Pan, conseguiu munhequeira colombiana, testeira mexicana, suporte de joelho panamenho e um par de tênis tamanho 50.
"Nem sei o nome dele, só sei que era o 10 dos EUA", afirmou Lorrayne. Era do ala Shane Foster, 21, que atua na Universidade de Vanderbilt.
Como os tênis sobravam bastante nos pés 42 da menina, sua mãe, Ivanice, pediu a um voluntário que tentasse trocar o presente por um menor. "Para ver se ela usa, né? Senão vai ficar só na estante", disse a mãe.
Ah, sim, e teve o jogo. A 17 minutos do início da festa de encerramento, coube ao Canadá a última vitória do Pan, ao bater as Ilhas Virgens por 69 a 60. Gentil, o canadense Jermaine Anderson ficou com a bola nos segundos finais, em vez de tentar arremesso. Ganhou palmas.
"O nome do jogo é "bola na cesta", e é isso que fazemos", disse Carl Krauser, das Ilhas Virgens, que deu uma versão simples para o espírito olímpico. "Podia ter sido com ginásio vazio que não teria problema, ainda assim ia curtir."


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