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Fim de feira
Brinde para quem assistiu ao jogo do Brasil, disputa pelo sétimo lugar no torneio masculino de basquete encerra, em tom melancólico, as competições do Pan
MÁRVIO DOS ANJOS
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
No Rio, onde o Pan adquiriu
ares de Carnaval e Copa, foi
inevitável o domingão de cinzas. Num dia de céu nublado e
no frio, percebia-se que Cauê já
pedira o boné no RH da Odepa.
Mas, às 16h, a bola ainda tinha um último dever. Era preciso que Canadá e Ilhas Virgens
decidissem na Arena Multiuso
o sétimo lugar do basquete
masculino. Coisa fina, antes
que a cerimônia de encerramento, como um monumental
e indizível "Domingão do Faustão", injetasse mais melancolia
na ressaca pan-americana.
Canadá x Ilhas Virgens era
um dos "brindes" inclusos no
ingresso da final entre Brasil e
Porto Rico. Entre um e outro,
ainda houve uma partida da seleção baba dos EUA, que conquistou o quinto lugar ao derrotar o medíocre Panamá.
A torcida carioca, que sempre identifica nos EUA um rival, adotou o Panamá. "Ah, sou
panamenho, com muito orgulho, com muito amôôô-or" era
o melhor grito na arena.
Mas eram os EUA, a pátria da
NBA, o time de George W.
Bush, a galera que chamou o
Rio de Congo. Fazia sentido. E
Canadá x Ilhas Virgens? Nem o
Sportv 3, o canal mais alternativo do Pan, transmitiu ao vivo
-no máximo, flashes durante a
final de duplas do tênis.
Entre as cerca de 50 testemunhas remanescentes do jogo do Brasil, além dos voluntários e profissionais em ação, só
as meninas do softbol do Canadá tinham motivos para torcer.
"Viemos aqui porque não tinha outro jogo, e eles são nossos amigos", afirmou a arremessadora Danielle Lawrie, 20.
"Só que, sem torcida e num ritmo morno, está meio chato."
Mas havia interessados, como Elen Rosa, 22, estudante de
educação física e técnica do time mirim feminino do Fluminense. "É tão difícil ver um torneio desse tipo aqui que a gente
tenta aproveitar até o fim."
A treinadora não tinha previsto ir tão longe. "Paguei R$ 60
para ver o Brasil, mas, depois,
fui ficando. Queria ver os EUA,
mas achei o time fraco, com
muitos erros de passe e definição", avaliou. "Das Ilhas Virgens eu até gosto, são raçudos."
E havia outro esporte pegando fogo, ainda sem nome, que
consiste em pedir pins, camisas
ou seja lá o que for para os atletas e qualquer um que pareça
ter um crachá mais legal.
A campeã foi Lorrayne Zacharias de Souza, 13, aluna de
Elen. Do lado da quadra por onde os atletas saíam nos intervalos, ela fazia "psiu", ao lado de
outros pidões, tentando conseguir alguma recordação dos estrangeiros. Nos nove dias em
que compareceu à arena do
Pan, conseguiu munhequeira
colombiana, testeira mexicana,
suporte de joelho panamenho e
um par de tênis tamanho 50.
"Nem sei o nome dele, só sei
que era o 10 dos EUA", afirmou
Lorrayne. Era do ala Shane
Foster, 21, que atua na Universidade de Vanderbilt.
Como os tênis sobravam bastante nos pés 42 da menina, sua
mãe, Ivanice, pediu a um voluntário que tentasse trocar o
presente por um menor. "Para
ver se ela usa, né? Senão vai ficar só na estante", disse a mãe.
Ah, sim, e teve o jogo. A 17 minutos do início da festa de encerramento, coube ao Canadá a
última vitória do Pan, ao bater
as Ilhas Virgens por 69 a 60.
Gentil, o canadense Jermaine
Anderson ficou com a bola nos
segundos finais, em vez de tentar arremesso. Ganhou palmas.
"O nome do jogo é "bola na
cesta", e é isso que fazemos",
disse Carl Krauser, das Ilhas
Virgens, que deu uma versão
simples para o espírito olímpico. "Podia ter sido com ginásio
vazio que não teria problema,
ainda assim ia curtir."
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