São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasil arrisca com australiano

Presença de Brett Hawke, técnico de César Cielo, no time nacional causa insatisfação antes de Pequim

"Fico honrado pelo Brasil confiar em mim. Irei ajudar qualquer atleta", afirma ele, aposta da confederação para obter pódio olímpico


MARIANA LAJOLO
ENVIADA ESPECIAL A MACAU

Alto, corpo atlético, excelente nadador, o australiano Brett Hawke, 33, passaria despercebido à beira da piscina do centro aquático de Macau não fosse por um detalhe: ele enverga a camisa do Brasil.
O motivo para sua presença na seleção atende pelo nome de César Cielo. Após a conturbada campanha em Sydney-2000, a confederação brasileira decidiu arriscar e convocar um estrangeiro para a comissão técnica.
Naqueles Jogos, o Brasil levou três estrangeiros que pouco contribuíram com a equipe e criaram um clima ruim no time. "Eles acabaram com a união da equipe", diz Coaracy Nunes, presidente da CBDA. "Mas agora fizemos trabalho visando o César e o grupo."
Hawke foi recebido na equipe com ressalvas. Ao menos um técnico e dois atletas ouvidos pela Folha não ficaram satisfeitos com a convocação (preferiam brasileiros). Mas, com a inclusão de dois treinadores nacionais e a postura de Hawke, o clima parece tranqüilo.
Técnico da Universidade de Auburn, Hawke sabe quando o pupilo sai da água insatisfeito só de olhar. Nessas horas, prefere o silêncio. Quando fala, porém, sabe como atingir Cielo.
"Só de olhar, ele sabe o que eu preciso. Também temos temperamento parecido. Ele também era estourado quando não nadava bem. Ele me dá vários toques para isso não me prejudicar", diz o brasileiro.
Além do velocista, os outros dois principais nomes da "tropa de elite" do país também serão acompanhados de perto por seus treinadores. E, assim como Cielo, Thiago Pereira e Kaio Márcio também guardam relação de simbiose com eles.
"Fico honrado em o Brasil confiar em mim. Sou próximo do César, mas irei ajudar qualquer atleta. Não procuro glórias para mim, só quero ajudar o César e o Brasil a atingirem suas maiores glórias", afirma.
O técnico divide o mesmo espaço na piscina de Macau com Fernando Vanzella e Rosane Carneiro, responsáveis por Thiago Pereira e Kaio Márcio.
Um telefonema de Thiago fez Vanzella deixar o Pinheiros após 13 anos para comandar o Minas. O treinador, formado em educação física e que teria pela primeira vez um time em suas mãos, aceitou o convite, deixou a família em São Paulo e foi morar em Belo Horizonte.
A distância da família, também comum a Thiago, além da sintonia na piscina, aproximou ainda mais os dois. "Tenho relação próxima não só com o Thiago, mas com toda a equipe. Nós formamos uma família", afirma o treinador.
Na água, Thiago deslanchou, levou seis ouros no Pan e atingiu o recorde mundial dos 200 m medley em piscina de 25 m em menos de dois anos.
"O Vanzella me ajudou a evoluir muito", diz o nadador.
Na mesma época em que Thiago começou a trabalhar com o novo técnico, Kaio Márcio resgatou Rosane Carneiro para retomar a parceria iniciada nas categorias inferiores.
"Já pensava em fazer outra coisa da vida", relembra Rosane. "Mas Kaio me convenceu."
Rosane ganhou o cargo de técnica, mas também se tornou uma espécie de psicóloga e até de segunda mãe do nadador.
"Sei provocar, mexer com os brios dele. Dou apoio quando ele precisa, mas também sei dar bronca e exigir mais. Ele é tranqüilo, mas às vezes precisa de um tranco", diz a técnica. Ontem, ela começou a dar os primeiros trancos antes da estréia nos Jogos de Pequim, no primeiro treino da equipe completa em Macau.


Texto Anterior: NBA: Justiça condena ex-juiz à prisão por armação
Próximo Texto: Sem-técnico contornam o problema
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.