São Paulo, segunda-feira, 30 de agosto de 2004

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VÔLEI

Estatísticas apontam erros do time e fazem Ricardinho diminuir arsenal de jogadas

Com dicas de computador, seleção triunfa sem utilizar sua maior arma

Flávio Florido/Folha Imagem
Jogadores da seleção, que ontem tiveram de abandonar a criatividade e abusar dos ataques com bolas altas a pedido do técnico Bernardinho, comemoram vitória


DOS ENVIADOS A ATENAS

Os louros foram para os jogadores. Mas um programa de computador também teve papel fundamental na vitória que rendeu o segundo ouro olímpico à seleção.
A maneira como os comandados de Bernardinho costumam atuar acabou modificada durante a decisão, ontem, contra a Itália. Motivo: informações produzidas pelo sistema de estatística e análise tática criado pela comissão técnica da equipe brasileira.
Para ser campeão olímpico de vôlei pela segunda vez, após 12 anos, o Brasil cravou 3 sets a 1 (parciais de 25/15, 24/26, 25/20 e 25/22), diante de 9.350 pessoas no Estádio da Paz e Amizade.
O triunfo completou de forma bem-sucedida a "missão Atenas", acionada pelo técnico há quase um mês e cujo objetivo era o topo do pódio da Grécia.
Ontem, após um primeiro set em que, nervosos, os italianos abusaram de erros, a seleção começou a ter problemas com o saque do rival, que fazia estragos na recepção brasileira.
"Começamos a ter dificuldades para manter nossa característica, que é a velocidade. Alguma coisa precisava ser feita", contou Ricardo Tabach, um dos auxiliares técnicos de Bernardinho.
A resposta veio dos números.
A comissão técnica observou as planilhas e percebeu que a equipe precisava mudar a forma de atacar nos momentos em que o levantador Ricardinho não recebia a bola em perfeitas condições.
"Não poderíamos tentar jogadas rápidas. Estávamos errando muito. Então preferimos uma tática mais cadenciada, erguendo bolas altas na ponta, tendo paciência para colocá-las no chão", relatou Tabach.
A mudança, provocada pelos dados do programa, fez a seleção abandonar sua principal característica, a variação de jogadas.
O software que armazena e exibe todas essas informações foi desenvolvido em 1996 e acompanha Bernardinho desde os seus primeiros passos na seleção masculina. O funcionamento é simples.
Dentro da quadra, Tabach carrega um laptop com o desempenho de cada atleta em todos os fundamentos. É a parte técnica da programação.
O viés tático é comandado por Roberta Lima, criadora do programa, das arquibancadas. Ela observa o posicionamento e as jogadas do rival. Depois, repassa o que vê para um computador.
A informação chega imediatamente a outro laptop no banco de reservas do Brasil, que está conectado em rede a outro notebook situado no mesmo local.
Dali, os resultados passam pelo auxiliar Chico dos Santos e fecham o ciclo quando chegam aos ouvidos de Bernardinho.
"Todos sabem que o Bernardo é um estrategista. A importância desses números é muito grande. Nesta final, sem dúvida, nos ajudou muito", contou Tabach.
Com os dados na cabeça, o treinador pôde dedicar atenção especial a Ricardinho nos pedidos de tempo e mudar o esquema de jogo da seleção.
"Ele tinha parado de raciocinar, não estava distribuindo muito bem", disse Bernardinho.
A partir da mudança de estratégia, a equipe engrenou e dominou o terceiro e o quarto sets.
Fechado o jogo, Ricardinho foi o primeiro a abraçar o técnico. Depois, caiu no choro, como quase todos os outros, em especial o capitão Nalbert, que chegou à Olimpíada após se recuperar de lesão no ombro e se despede da seleção. Todos ajudaram a jogar Bernardinho para o ar e, para finalizar a festa, deram um mergulho coletivo na quadra. (LUÍS CURRO, ADALBERTO LEISTER FILHO E GUILHERME ROSEGUINI)


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