São Paulo, segunda-feira, 30 de agosto de 2004

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VÔLEI

Conquista de 1992 foi decisiva para brasileiros estrearem no esporte e traçarem metas

Primeiro ouro inspira e sela destino da geração bicampeã

DA REPORTAGEM LOCAL

O saque fulminante de Marcelo Negrão acertou em cheio a quadra holandesa. Maurício, eufórico, saiu em disparada rumo à arquibancada à procura do irmão. Era campeão olímpico.
No Brasil, adolescentes que assistiam à cena começavam a pensar que podiam seguir os passos do levantador. Doze anos depois, dez deles estavam na quadra com Maurício para repetir o feito.
Foi a medalha de ouro em Barcelona-1992 que deu o empurrão que faltava para os campeões de hoje se dedicarem ao vôlei.
"A gente estava em Juiz de Fora. Ele ficou muito empolgado. No ano seguinte, já estava no clube", relembra Ana Maria, mãe do oposto André Nascimento, que tinha, na época, 13 anos.
O mesmo aconteceu com os meios-de-rede Rodrigão e Gustavo e com o ponta Dante. Até aquela conquista, vôlei para eles se resumia a uma rede armada na rua, amarrada em portões.
"Ele ainda era menino, mas já adorava o Tande. Quando ele o conheceu, realizou um sonho", diz Daniela, mulher de Rodrigão.
O oposto Anderson usou a conquista como incentivo. Com 1,90 m, tinha medo de não passar nas peneiras e, por isso, aventurou-se como goleiro de futebol em Belo Horizonte até os 18 anos.
Para outros jogadores, a conquista do ouro serviu para reafirmar uma escolha.
Ricardinho, aos 16 anos, já estava nas categorias de base do Banespa. O adolescente viu a conquista na casa dos pais, em São Paulo. Dias após o título, disse em entrevista a uma revista que seria o futuro levantador da seleção.
André Heller também previu seu futuro. Deitado no sofá de casa, em Novo Hamburgo (RS), pensou em seguir os passos do ídolo Carlão. No ano seguinte, aos 17 anos, teve sua primeira convocação para a seleção juvenil.
Bem mais agitados estavam Nalbert e Escadinha.
O capitão, que começava a se profissionalizar aos 18 anos, estava com um grupo de amigos na casa em que morava. "Até hoje eu me lembro da tensão, da expectativa, da queima de fogos... Foi uma festa", afirma o fã de Carlão.
Escadinha, então com 16 anos, ainda jogava pelas quadras de clubes de bairro quando reuniu a família em Pirituba, em São Paulo, para assistir à final de Barcelona.
"Nós quase quebramos a mesa de vidro da minha mãe de tanto bater a cada ponto do Brasil", relembra sua irmã Suezi. "Ele já sonhava em um dia estar ao lado de Giovane, Maurício...", diz.
Giba também queria seguir os passos de um dos campeões. Foi em Carlão que o atleta se inspirou. Ele gostava de ver os jogos da seleção ao lado da mãe, Solange, em Curitiba. Em 1993, aos 16 anos, foi convocado pela primeira vez para a seleção infanto-juvenil.
Alheio a tudo isso, nas ruas de Itumbiara (GO), Dante, 11, costumava amarrar uma corda através da rua para usar como rede de vôlei, mas gostava mesmo, como a maioria dos garotos, de futebol.
"Ele era tão menino... Ficou contente, mas nem pensava no que podia acontecer", conta o pai, Roberto. (MARIANA LAJOLO)


Colaborou Edgard Alves, enviado especial a Atenas


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