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BASQUETE
Vaiavivavôlei
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Digo que é muito fácil ser
ouro no vôlei, que se trata de
um esporte diminuto e sem apelo
global, que não há outro campeonato nacional de qualidade fora
do eixo Itália/Japão/Brasil.
Sustento que o propalado exemplo de administração não passa
de um castelo de cartas erigido
sem transparência pelo dinheiro
público, que tudo desabaria sem o
patrocínio do Banco do Brasil.
Afirmo que o jogo empolga pouco, mecânico e repetitivo.
Recorro a boçalidades que realmente nada têm a ver comigo.
"Vôlei e masculino não podem
conviver na mesma frase!"
Rejeito até as boas lembranças
da infância, o prazer de sacar
"por cima", as partidas improvisadas com a rede estendida sobre
o asfalto. Tento me convencer de
que tudo foi só estratégia para me
aproximar das levantadoras e daqueles shortinhos cavados de
lycra -que, não obstante, eram
mesmo beeeem interessantes.
Como todo basqueteiro, eu me
enervo com o sucesso do vôlei.
Não fosse a liturgia do cargo e o
compromisso tácito com o leitor,
ai desses xaropes que se abraçam
a cada pontinho. Afunda, Melk!
Mas aí desembarco do fim de
semana de descanso e leio a entrevista de José Roberto Guimarães na contracapa deste caderno:
"Nosso jogo está muito feijão-com-arroz. A gente precisa incrementar, sair dessa mesmice. Eu
passo 30, 40 minutos por treino
fazendo bola em dois tempos, e
usamos isso no jogo uma única
vez. Isso irrita. As levantadoras
precisam arriscar mais. Vai delas
quererem aprender e fazer".
Reparo que em nenhum momento o técnico faz festa para a
seleção feminina, que acabava de
selar a classificação para o Mundial de 2006, sem perder um único
set, diante do ginásio lotado de
Cabo Frio e das câmeras da TV.
Recordo-me de outra entrevista, de Escadinha, considerado o
melhor líbero do planeta, acerca
do trabalho de Bernardinho:
"Uma vez eu estava treinando sozinho com ele e só tinha 30 minutos de quadra. Ele acabou comigo. Às vezes você acha que, pelo
fato de estar sozinho e com pouco
tempo, não pode trabalhar direito. Isso não existe, você pode fazer
o melhor treino da sua vida".
Disparo um google, avanço a
madrugada e noto que Zé Roberto e Bernardinho não costumam
falar em "detalhes" ou "sorte".
Garimpo em vão por declarações deles que sejam reconfortantes -um "nós estamos no caminho certo" ou um "faltam somente pequenos ajustes".
Percebo que, para ambos, campeões olímpicos e ainda assim inconformados, os ajustes à sua
frente nunca s(er)ão pequenos.
Lembro que os dois buscaram
conhecimento no exterior, estudaram a geometria do esporte,
compreenderam a importância
da capacitação atlética para o sucesso de uma equipe. Que, sem cerimônias, implodiram estruturas
da "escola brasileira" e construíram outras. Que inventaram um
novo jeito de treinar e jogar.
Constato que o basquete nacional nunca se atreveu a dar esse
passo. Que, sem foco e atitude,
ainda trabalha como se o "desmico" fosse a última das bossas.
Descubro como o vôlei é legal.
Cortada 1
Ter convocado adolescentes para o grupo de treino foi uma decisão
sábia da comissão técnica. Caio e Rafael, tapa-buracos de última hora, estão penando na Copa América. Mas imagine ter de pedir socorro a pivôs veteranos que nem engataram a pré-temporada por aqui...
Cortada 2
Nossos pivôs pegaram mais rebotes no ataque (32) do que na defesa
(28), sinal de falta de balanço defensivo. O time se atira todo à tabela
do adversário e abre a retaguarda. Por isso toma tantas cestas bobas.
Cortada 3
Os brasileiros deviam treinar mais bandejas. São em média quatro
cestas fáceis desperdiçadas por partida até agora em Santo Domingo.
E-mail melk@uol.com.br
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