São Paulo, quarta-feira, 30 de agosto de 2006

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TOSTÃO
Sociedade do espetáculo


Tevez saiu do Corinthians pois se sentiu abandonado ou foi só um pretexto para ser negociado na Europa?


EM UMA entrevista para a televisão, Tevez, que é um gigante, uma fortaleza dentro de campo, mostrou que fora de campo é um jovem frágil e carente. Um jornalista argentino, que não lembro o nome, disse, dias antes do Tevez chegar ao Corinthians, que o craque tinha muitas qualidades pessoais, mas que sofria da síndrome do menino abandonado, por achar que não era amado nem compreendido.
Se Tevez abandonou o Corinthians por causa da grosseria e do preconceito do Leão, ele tem certa razão, ainda mais com a carta de autorização do Kia, que teria sido dada antes de o jogador ir embora. Tevez teria saído por se sentir abandonado, como já aconteceu no Boca Juniors. Ou foi tudo um pretexto, uma pressão que ele fez para ser negociado para um dos grandes times da Europa? Não sei.
Essa carência afetiva, característica do ser humano em proporções bastante variáveis, é muito marcante entre os jogadores de futebol. Uma das razões disso é a relação paternalista dos clubes com os atletas. Em vez de psicólogos para exercerem trabalhos a médio e longo prazo, desde as categorias de base, os dirigentes e treinadores preferem os motivadores com suas palestras óbvias e teatrais antes das partidas. Parece um show.
Isso tem a ver com a atual sociedade do espetáculo, nome do livro escrito pelo filósofo Guy Debord em que as aparências, as imagens, o marketing e as representações se tornaram mais valorizadas do que os fatos, a verdade e a realidade.

Evolução
O Campeonato Brasileiro continua equilibrado, emocionante, mas com pouca qualidade. Após a Copa do Mundo, o Palmeiras é o time mais eficiente. A equipe melhorou o preparo físico e definiu um esquema tático e um estilo de jogar.
O Palmeiras está menos afobado e tocando mais a bola. Uma das razões disso foi a troca feita pelo Tite de volantes truculentos, apenas marcadores, como Marcinho Guerreiro e Alceu, por outros mais hábeis, com mais mobilidade e que defendem e atacam, como Wendel e Francis. Alceu foi jogar na zaga, onde sempre deveria atuar.
Há uma bem-vinda tendência no futebol brasileiro e mundial de escalar volantes mais leves, com mais habilidade, que marcam e atacam, como Mineiro, Josué, Tinga e Xavi, entre outros.
Dunga não parece gostar disso ao escalar Gilberto Silva e Edmilson, dois bons volantes, mas que tocam a bola e não vão recebê-la de volta mais à frente. Raramente passam do meio-campo. Talvez Dunga queira repetir o estilo da excelente dupla de volantes de 1994 formada por ele e Mauro Silva. Mas os tempos são outros.

Ascensão
O Vasco é o melhor dos times do Rio, apesar de ter um modesto elenco. As principais razões disso são a continuidade e a competência do Renato Gaúcho. O mesmo acontece no Grêmio com o Mano Menezes. Os seis times mais bem colocados no Brasileiro foram os únicos que não trocaram de treinador. A melhor maneira de um time ganhar de um outro teoricamente superior fora de casa -o Vasco é a equipe com melhor campanha no campo do adversário- é iniciar a marcação mais atrás e contra-atacar com velocidade e eficiência, como faz o Vasco.
Renato, em vez de ser chamado de retranqueiro, como já aconteceu, deve ser reconhecido como um bom estrategista. Fora o favorito São Paulo e o Inter -já classificado para a Libertadores-, há muitos times com chances iguais de conseguir uma vaga na competição continental. O Vasco faz parte desse grupo.

tostao.folha uol.com.br


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