São Paulo, sábado, 30 de setembro de 2006

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JOSÉ GERALDO COUTO

Gente como a gente


É preciso ser rígido para coibir a violência das organizadas, porém sabendo que elas são formadas por jovens comuns


QUEM TEM medo das torcidas organizadas? Já vou logo respondendo: eu tenho. Da Gaviões, da Mancha, da Independente... de todas, sem exceção. E qualquer pessoa que já tenha topado na rua com um bando uniformizado de jovens eufóricos e/ou enfurecidos que avançam chacoalhando carros e chutando sacos de lixo sabe do que eu estou falando.
O que fazer? Banir, simplesmente, as organizadas é a resposta mais simplista e precipitada. É óbvio que, se elas existem e atraem um número crescente de adeptos, tanto nos bairros pobres da periferia como entre a classe média, é porque atendem a algum tipo de desejo ou necessidade. Ou, antes, ocupam um vácuo deixado por outras formas de organização social.
A adolescência é uma fase ao mesmo tempo maravilhosa e terrível da vida da qual nem sempre -ou quase nunca- saímos ilesos. É um período de turbulências afetivas e hormonais que coincide com a formação do caráter do sujeito.
Quando se pensa nas verdadeiras milícias urbanas em que se transformaram as principais torcidas organizadas, é preciso levar em conta que é dessa massa humana em ebulição que elas são constituídas.
Isso não as exime da necessidade de controle e dos rigores da lei. Aliás, a lei deveria ser mais severa e eficiente para coibir abusos, violências e arruaças promovidos pelas torcidas e seus membros.
Bani-las, porém, é um atalho inócuo e perigoso. "Quanto mais as torcidas organizadas forem empurradas para a ilegalidade, mais marginais e clandestinas elas serão. E mais integrantes com perfil semelhante vão atrair", afirma a policial civil Margarette Barreto, chefe da Delegacia de Crimes Raciais e de Intolerância, em reportagem publicada pela revista "Placar" de outubro.
Confirmando o acerto da declaração da delegada, um dirigente da Torcida Independente do São Paulo admite, na mesma reportagem, que a venda de camisas da facção aumentou quando ela foi proibida de entrar nos estádios. "O cara lá no bairro dele vê as notícias no jornal de que a Independente bateu mais, matou etc. e vem aqui comprar a camisa", diz, num depoimento tão esclarecedor quanto inquietante.
Volto à pergunta: o que fazer? Não tenho a receita mágica, mas penso que se deve tentar transformar essas organizações por dentro e por fora.
Por dentro, mudando seu foco de ação, da violência para a participação criativa na vida do time e das comunidades que o apóiam. Isso só poderá ser feito se os torcedores pacíficos "tomarem" essas entidades, isolando os delinqüentes.
Por fora, por meio de uma atuação conjunta da polícia, da mídia e dos próprios clubes no sentido de condenar e reprimir qualquer atividade anti-social da organizada e de seus membros. A lei deve ser dura, mas é preciso lembrar que quem a transgride é gente como a gente.

JUIZ AMIGO
As frases de Edmundo, sugerindo que o Palmeiras trate os juízes com carinho e presentes para que eles não prejudiquem o clube, renderiam tese sobre a sobrevivência do "homem cordial" brasileiro, que, na acepção de Sérgio Buarque de Holanda, não é necessariamente um sujeito bonzinho, mas alguém que resiste a se adaptar às regras da impessoalidade demandadas pela sociedade democrática moderna.

POR QUE ME UFANO
O ministro do Esporte, Orlando Silva Jr., disse que, entre os estádios brasileiros, só a Arena, do Atlético-PR, tem condições de se adaptar às exigências da Fifa para sediar jogos de Copa. Pelo que entendi, isso significa que todos os outros seriam construídos do zero. Mas Silva Jr. está "convencido" de que a Copa-2014 será no Brasil. Então tá.

jgcouto@uol.com.br


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