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Paulista-98 pode consolidar sistema de castas
JOSÉ GERALDO COUTO
especial para a Folha
O patrocinador do Campeonato Paulista de 98, o Grupo
Vale Refeição, diz que vai tratar o torcedor como cliente.
Nem precisa tanto. Já haverá
um grande avanço se o torcedor for tratado como gente, isto é, se ficar livre das filas sob
sol ou sob chuva, apertos desumanos e desconfortos de toda
ordem que sofre hoje em dia.
Há algumas novidades dignas de debate no projeto do
Campeonato Paulista-98.
Uma delas é o fato de os chamados quatro clubes grandes
-Corinthians, Palmeiras,
Santos e São Paulo- terem o
privilégio de só entrar na segunda fase da competição.
Esse tipo de distinção, conferida "a priori", tende a consolidar um intolerável sistema
de castas entre as agremiações.
Claro que, em favor da racionalização dos campeonatos,
pode e deve haver gradações
entre os clubes. O sistema de
divisões está aí para isso.
Só que a permanência de um
time numa determinada divisão depende de seu desempenho na competição, ainda que
às vezes ocorram excrescências, como a manutenção de
Fluminense e Bragantino na
Série A do Campeonato Brasileiro deste ano.
Se quando a regra é justa
ocorrem barbaridades como
essa, imagine o que pode acontecer quando já se parte de
uma regra injusta.
Mutatis mutandis, é como se
a Fifa decidisse que, a partir de
agora, Brasil, Alemanha, Itália e Argentina têm lugar vitalício na fase final da Copa do
Mundo, sendo dispensados de
disputar eliminatórias.
Uma política desse tipo tende a esvaziar a competitividade e incentivar o comodismo.
Do mesmo modo, a atribuição de cotas drasticamente diferenciadas para os clubes
mandantes de jogos (R$ 500
mil para os "grandes", R$ 100
mil para os "pequenos", se entendi bem) parece confirmar a
"política social" da elite brasileira: que os ricos fiquem mais
ricos, e os pobres, mais pobres.
O raciocínio deveria ser inverso. Se a intenção é manter
competitivo o campeonato estadual, os clubes do interior
devem ter chance de se capitalizar e, sobretudo, o direito de
disputar de igual para igual
com os "grandes".
Tal como está sendo esboçado o novo Campeonato Paulista, parece que a disputa "pra
valer" é entre quatro clubes, e
os outros entram como coadjuvantes, como os garotos fraquinhos ou mancos que eram
"café-com-leite" nos jogos de
infância.
Uma pergunta acessória: até
quando a Lusa -que tem matado um leão por dia nos últimos anos- vai ser excluída da
confraria dos grandes?
Por falar em Lusa, é preocupante o fato de o clube abrir
mão de jogar uma partida em
seu estádio para cedê-lo a um
culto religioso.
A cidade de São Paulo já perdeu vários de seus mais tradicionais cinemas para as seitas
evangélicas. Será que agora
vai perder também os seus estádios esportivos?
Nada contra as religiões e os
cultos, por mais boçais que às
vezes eles sejam. O problema é
a ocupação de um espaço de
cultura e lazer -destinado,
pelo menos em princípio, ao
cultivo da convivência democrática entre os diferentes-
por uma tendência unívoca e,
quase sempre, totalitária.
Matinas Suzuki Jr., que escreve nesta coluna
às terças, quintas e sábados, está em férias
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