São Paulo, domingo, 30 de outubro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

JUCA KFOURI

Doping à brasileira


Não é a primeira vez que o Ladetec erra feio. E é hora de quem foi prejudicado ir adiante

TIRANTE A DEMAGOGIA que se faz em torno da antidopagem, com punição em vez de ajuda aos atletas pegos com resquícios de drogas sociais, cada vez mais fica comprovado que os exames, ao menos no Brasil, não são confiáveis.
E o caso do jogador de vôlei de praia Pedro Solberg não é o primeiro, embora seja mais grave que o anterior aqui denunciado em 10 de abril de 1998, sob o título "O doping oculto".
É claro que o erro agora constatado é ainda pior por ter posto sob suspeita de querer levar vantagem ilícita um atleta respeitável -e herdeiro de nome e sangue acima de quaisquer suspeitas, não fosse filho da guerreira Isabel.
É hora de não deixar por isso mesmo, até porque a família do campeão mundial de 2008 gastou R$ 140 mil para provar sua inocência.
E o Ladetec, o único laboratório autorizado a fazer exames antidoping no Brasil pela Agência Mundial Antidoping (Wada), é reincidente.
Tanto que, faz 18 anos, ajudou a CBF a esconder um caso de doping acontecido no Campeonato Brasileiro de 1993 em jogo entre São Paulo e Bahia, vitória por 2 a 0 para o tricolor paulista, no dia 18 de setembro daquele ano, no Morumbi.
O episódio veio à luz cinco anos depois, aqui relatado e documentado com base no relatório do Ladetec, que, ao ser perguntado, se fez de esquecido, embora, em seguida, a própria CBF tenha reconhecido e atribuído a ocultação a erros no transporte da urina coletada no jogo.
Sim, escândalo feito, alegou-se que entre a coleta e a chegada do material à Ilha do Fundão, sede da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que abriga o laboratório, transcorreram nada menos que 20 dias, tempo suficiente para invalidar o resultado do exame.
Mas jamais foram esclarecidas as razões para mesmo assim o exame ter sido realizado e seu resultado, positivo, ter sido enviado a Marco Antônio Teixeira, tio do presidente da CBF e, à época, farmacêutico que é, responsável pela área (hoje, e há muitos anos, por razões também nunca explicadas, ele submergiu discretamente embora na importante função de secretário-geral da entidade).
E agora o responsável pelo Ladetec não quer falar para não correr o risco, segundo ele, de "ser descredenciado pela Wada por alguma leviandade que possa dizer".
Wada? Malwada, isso sim.
Ora, o grave então é falar, não é fazer errado?
Que fale o ministro do Espor... Ah, deixa pra lá.

blogdojuca@uol.com.br


Texto Anterior: São Paulo revive era de vacas magras
Próximo Texto: Ronaldinho encara raiva de gremistas
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.