São Paulo, sexta, 30 de outubro de 1998

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Nem perto do título Hakkinen consegue seduzir fã

do enviado a Suzuka

De onde estava, segurando uma câmera fotográfica junto a outras garotas, a adolescente Shinae Inowe, 14 anos, não conseguia tirar fotos de seu ídolo, David Coulthard.
Ele caminhava dos boxes para a sala de entrevistas montada pela McLaren em Suzuka. Um loiro magro tapava o campo de visão das garotas, que pediam, gesticulando, que se movesse.
O loiro magro era o finlandês Mika Hakkinen, o número um da McLaren e o piloto com mais chances de sagrar-se campeão da F-1 neste fim-de-semana.
Informada da identidade de Hakkinen, a jovem esboçou surpresa mas, segundos depois, voltou a gritar o nome de Coulthard.
Hakkinen é assim. Ninguém o nota e, quando sua presença é percebida, não consegue causar grandes emoções.
Dá para descobrir as razões vendo-o conversar com a imprensa, com amigos e com mecânicos.
Aos 30 anos, Hakkinen é a antítese do herói carismático, características visíveis em campeões como Ayrton Senna e Alain Prost.
Ele encarna o estereótipo dos nórdicos, frio e equilibrado. Hakkinen não ri, não demonstra nervosismo, não é simpático, não é antipático, não é místico, não responde a perguntas que abordem (ainda que de maneira longínqua) aspectos de sua vida pessoal nem fala mal de outros pilotos (também não faz muitos elogios).
Uma repórter o perguntou se tinha amuletos ou se era místico. "Não vejo muito sentido em ficar carregando objetos sem função nos bolsos", disse ele.
Outro repórter perguntou se, para se acalmar, ele fazia piadas ou alguma brincadeira. "Para começar, eu não costumo ficar nervoso. E não vejo motivo em ficar rindo e falando coisas bobas como: olha, eu vou entrar no carro; veja, vou começar os treinos. Não consigo ficar concentrado ao brincar."
Hobbies? "Nunca tive." Passatempos? "De vez em quando vou ao cinema ou janto com amigos."
Um mecânico da equipe diz que Hakkinen parece frio, mas que, no fundo, é sensível. Se for verdade, não deixa transparecer, nem quando provocado.
Questionado sobre como se sentia ao ouvir todos dizerem que Michael Schumacher, da Ferrari, é um piloto muito melhor que ele, respondeu, sem alterar a voz ou as feições: "Não me altero. Quando entrei na F-1, achava que podia ser o melhor piloto. Hoje, acho que há muitos outros pilotos velozes. Vários critérios definem um bom piloto. Estou entre os melhores."
Outro mecânico diz que Hakkinen ficou ainda mais sério depois do acidente que sofreu em 95, na pista de Adelaide, na Austrália, onde seu McLaren chocou-se com uma barreira a 200 quilômetros por hora. O episódio teria ressaltado ainda mais seu calculismo.
Hakkinen nasceu em Helsinque e começou a correr de kart aos seis anos de idade. Passou pela F-Ford e pela F-3 até chegar à F-1, na temporada de 91, pela Lotus. Em 93, foi contratado pela McLaren, transformando-se no segundo piloto de Senna. (MA)


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