São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 2000

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FUTEBOL
Técnico, que depõe hoje, recebeu depósitos de empresários em 30 contas
Ciranda bancária é trunfo da CPI contra Luxemburgo

MARÍLIA RUIZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Explicar de forma convincente o porquê de alguns empresários ligados ao futebol terem depositado dinheiro em suas contas: essa será uma das missões de Wanderley Luxemburgo em seu depoimento na CPI do Futebol, hoje.
Um dos membros da comissão adiantou à Folha que já foram identificados "mais de dez, cerca de 15 depósitos de empresários nas contas de Luxemburgo."
Outro fato a ser explorado é o de o ex-técnico da seleção ter movimentado 30 contas correntes em diferentes bancos nos últimos sete anos - período investigado pela CPI do Senado.
Todos esses dados foram retirados dos vários documentos que a CPI recebeu do Banco Central, do Ministério da Fazenda e de juntas comerciais e imobiliárias. São mais de quinhentas páginas que atestam sobre o patrimônio que o técnico acumulou e o dinheiro que ele movimentou desde 1993.
Segundo o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), presidente da CPI do Futebol, as perguntas que serão feitas a Luxemburgo hoje serão baseadas muito mais nas revelações da quebra de sigilo bancário e fiscal imposta ao treinador do que nas denúncias feitas por sua ex-assessora Renata Alves.
Michel Assef, um dos advogados de Luxemburgo, disse que seu cliente não tem nada de novo para contar, mas que irá depor de "livre e espontânea vontade".
Dias contestou Assef.
"Não faz parte da nossa estratégia adiantar o que temos, mas a história dos R$ 400 mil (depósito identificado em uma conta do técnico no Bradesco), tão comentada, é muito pequena perto do que será abordado", disse Dias.
"Aquela história que ele contou no Cartão Verde (programa da TV Cultura) é muito fantasiosa. Que foi que ele fez com os R$ 400 mil? Guardou onde?", declarou o senador Geraldo Althoff (PFL-SC), relator da CPI no Senado.
Segundo Marcos Malucelli, um dos advogados de Luxemburgo, o dinheiro depositado em 9 de abril de 1997, na conta de Luxemburgo no Bradesco, é o mesmo que volta a aparecer em um depósito de 30 de outubro do mesmo ano.
Althoff ainda afirmou ter sido Luxemburgo convocado a depor pela CPI, e não ter o treinador se proposto a fazê-lo.
Mas as denúncias da ex-assessora também devem ter um papel importante no depoimento (veja quadro nesta página).
A intenção é tentar pegar o treinador em contradição, já que, desde o depoimento de Renata Alves, muitas das denúncias feitas por ela já teriam sido apuradas.
"Precisamos saber a versão dele sobre todos os fatos. Sobre a "embaixada" (casa na Barra da Tijuca, no Rio, onde, segundo a ex-assessora do técnico, ele se reunia com empresários e dirigentes para negociar jogadores e resultados de partidas), sobre sonegação fiscal e sobre evasão de divisas. Também queremos saber se ele tem contas no exterior e qual era a relação dele com a Renata", disse o senador Geraldo Cândido (PT-RJ), membro da CPI.
Para tanto, Althoff vai dividir os assuntos das denúncias contra Luxemburgo entre os 11 senadores que integram a comissão, que só hoje saberão por qual tema estarão responsáveis.
"Estamos atuando na defensiva. Não queremos que vaze nada antes do tempo", disse o relator.


Colaborou Fábio Victor, da Reportagem Local

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