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Grêmio cai com cartola "pé-frio"
Flavio Obino repete fracasso de seu 1º mandato e engorda lista de insucessos com rebaixamento
FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE
Para uma pessoa em especial, o
rebaixamento do Grêmio foi lamentável. O presidente Flavio
Obino incorporou mais uma nódoa, talvez a maior de todas, ao
seu incrivelmente desastroso histórico como dirigente do clube.
Ele assumiu o cargo, pela segunda vez, em janeiro de 2003. O time
não só não conquistou nada no
período como acumulou insucessos. Foi último no Gaúcho-03 e só
se livrou do rebaixamento no Brasileiro-03 na última rodada.
Neste ano, foi eliminado do Estadual pelo modesto Ulbra e anteontem, ao empatar em 3 a 3 com
o Atlético-PR em Erechim (RS),
tornou-se o primeiro a cair para a
Série B do Nacional de 2005.
Somadas as campanhas de 2003
e 2004, o Grêmio, campeão mundial em 1983, bi brasileiro (81 e
96), bi da Libertadores (83 e 95) e
maior vencedor da Copa do Brasil
(89, 94, 97 e 2001), já é o pior time
do Brasileiro de pontos corridos.
Nada mais natural que, com o
clube na Série B pela segunda vez
(já caíra em 1991), o presidente integre com destaque a relação de
culpados que se faz nessas ocasiões. Mas, no caso de Obino, não
falta munição aos inquisidores
-e boa parte dela está relacionada ao passado.
Ele foi presidente antes entre
1969 e 1971. Quando assumiu, o
Grêmio vinha embalado pela conquista do hepta no Gaúcho, feito
que jamais voltou a repetir.
Nos três anos sob Obino, a série
foi interrompida no Estadual -o
Inter ganhou todos, abrindo caminho para o octa- e, nos demais torneios, o Grêmio não obteve nenhum título significativo.
"Dizem em Porto Alegre que ele
é azarado. Eu acho que ele é incompetente mesmo. Faz uma política antiga, de feudos. Não tem
credibilidade nem carisma. Como
é muito educado, inventam essa
de pé-frio", afirma o advogado
Marcelo Aiquel, um dos líderes
do movimento SOS Grêmio, fundado em abril de 2003.
"Quando nos demos conta que
o Obino iria repetir exatamente o
que havia feito há 30 anos, lançamos um grito de alerta para que a
história não se repetisse", conta.
As bordoadas no cartola vêm de
todos os lados, inclusive do Conselho Deliberativo, onde ele ainda
conta com apoio de parte dos 319
integrantes. "Ele não se impõe.
Bota pessoas ao lado dele mas não
as comanda. Quando vê, estão
mandando mais do que ele", diz o
conselheiro Luiz Carlos Dalpai.
A política de reforços foi o calcanhar-de-aquiles de Obino. Nos
dois anos de sua gestão, o clube
contratou mais de 40 jogadores,
entre os quais Baloy, Cocito e Fábio Bilica. Ao mesmo tempo, dispensou o goleiro Danrlei, ídolo da
torcida, e deixou ir embora bons
atletas, como Rodrigo Fabri, Anderson Polga, Basílio e Tinga.
Obino evita tratar com empresários de jogadores, o que fez o
clube ser boicotado por alguns
deles. "Como não existe mais passe, não sei por que procurar empresários, se posso negociar com
o próprio atleta. Se puder ser direto, melhor. Só falo com o agente
se for necessário."
Alguns se queixam ainda da falta de influência do dirigente nos
bastidores. "Nunca vi uma direção ficar tão submissa. Parece que
estão satisfeitos com a interdição", diz Alexandre Martau, integrante da torcida Alma Castelhana, a maior do clube, sobre o fato
de o Grêmio ter perdido cinco
mandos de campo no STJD por
objetos atirados em campo.
Gentil, afável, voz rouca, Obino,
de 68 anos, não se altera com as
críticas. Escolhido por aclamação
pelo Conselho Consultivo para liderar o time no seu centenário,
em 2003, argumenta que pegou
do antecessor, José Alberto Guerreiro, o clube quebrado e com salários atrasados e que agora as finanças estão em dia. "Duvido que
tenha um clube no Brasil que pague os salários antecipadamente,
como aqui", gaba-se.
Não é bem assim. O Grêmio tem
uma dívida de pelo menos R$ 95
milhões (a maior parte fiscal e trabalhista), e reponde a diversos
processos na Justiça do Trabalho
(só o de Danrlei beira os R$ 3 milhões) e, embora esteja mesmo
com os salários mais enxutos (o
maior é o de Christian, R$ 70 mil
mensais) e em dia, deve a boa parte dos funcionários valores referentes a dissídios coletivos.
"Gigolô de água"
Diante de perguntas sobre a crise do time, Obino costuma exaltar
outras áreas de sua gestão, como o
site do clube, o que lhe faz alvo de
chacota da mídia gaúcha. Outros
episódios reforçam o folclore em
torno do cartola, que, no ano passado, chamou o vestiário do Grêmio de "buraco do amor" e causou uma crise no elenco ao criticar o técnico Tite e os jogadores.
Conversa que veio a público porque Obino, após entrevista, esqueceu de desligar o celular.
Sobre o seu tabu de títulos, ele
diz: "Sou da história do Grêmio,
estou no clube há 60 anos. Sempre
que o Grêmio ganhou, eu ganhei
junto. Mas sem dúvida não ganhei como presidente. Acontece,
o futebol é cíclico".
Casado, três filhos, advogado e
jornalista (editou revistas e jornais do clube no passado), Obino
atua hoje no ramo do agronegócio. Planta arroz no interior gaúcho e vende sistemas de irrigação,
motivo pelo qual colegas de clube
brincam chamando-lhe de "gigolô de água".
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