São Paulo, domingo, 30 de dezembro de 2001

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FUTEBOL

Empréstimo ainda é a maneira preferida dos times para contratações

Após 9 meses da Lei Pelé, clubes insistem em "passe"

MAÉRCIO SANTAMARINA
RICARDO PERRONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Nove meses depois de a Lei Pelé entrar em vigor, determinando a extinção do passe, os clubes brasileiros ainda negociam seus atletas da mesma forma como ocorria antes da nova regulamentação.
O empréstimo continua sendo a maneira preferida da maioria dos times para contratar jogadores, como se o passe ainda existisse.
Os dirigentes evitam pagar multas rescisórias aos concorrentes, graças a acordos para ter os jogadores por empréstimo.
Para evitar perder atletas mediante o pagamento de multas, os clubes têm antecipado a renovação dos contratos. Depois de o compromisso ser renovado, alguns deles são negociados por empréstimos temporários.
No São Paulo, esse procedimento foi feito com o meia Souza, que após a sua renovação foi emprestado ao Atlético-PR. Agora ele deve retornar ao clube paulista.
"Acredito que isso venha ocorrendo por uma acomodação inicial. Os clubes ainda estão se acostumando com a nova lei", afirmou Rogério Caboclo, diretor financeiro do São Paulo.
Em sua proposta para quitar a dívida que o Flamengo tem com o Corinthians pela aquisição do atacante Edílson, o vice-presidente de futebol do clube carioca, Walter Oaquim, tratou a questão do passe anteontem como se a Lei Pelé não vigorasse.
Ele disse que o seu clube estava interessado em ficar com ""metade do passe" do meia Ricardinho em troca do meia-atacante Petkovic e do perdão da dívida.
Para o advogado Marcílio Krieger, 62, especialista em direito esportivo, a Lei Pelé não conseguiu na prática alterar a estrutura da legislação do futebol brasileiro.
""A legislação precisa ser melhorada. Os maiores beneficiados pela Lei Pelé não foram os atletas, mas os empresários. Tanto que até gente de fora do futebol está entrando nesse negócio", disse.
O lado positivo da lei, para o advogado, foi alertar sobre a situação do esporte, dando um parâmetro para as correções necessárias. ""Com o conjunto de projetos de lei no Congresso, fruto da CPI do Futebol, acho que alguma coisa poderá mudar. Não sei se vão conseguir resolver totalmente a questão", afirmou Krieger.
Com a Lei Pelé, as relações de trabalho entre jogadores e clubes passaram a ser regidas apenas pelos contratos. Elas se dissolvem, portanto, assim que suas vigências são vencidas. Na prática, a prorrogação antecipada foi a forma encontrada pelos clubes para manter seus jogadores nos moldes parecidos à da época do passe.
""Na prática não mudou nada com a nova lei porque os contratos ainda estão por vencer. Vamos poder sentir a mudança a partir do ano que vem, quando muitos jogadores serão liberados", disse o empresário Wagner Ribeiro, 42.
Segundo ele, a dificuldade de negociação de atletas entre os clubes de grande rivalidade vai acabar. ""Hoje em dia, não é tão comum ver Corinthians, Palmeiras e São Paulo trocando jogadores. Em 2002, quando os contratos vencerem, os atletas é que vão decidir para onde querem ir", disse.
O diretor financeiro do São Paulo aponta como reflexo da Lei Pelé a redução das negociações envolvendo direitos federativos de jogadores. "Estimamos que, desde o fim do passe, essas negociações tenham sido reduzidas em 70%", disse Rogério Caboclo.
"Mesmo assim, acredito que muita coisa mudou no relacionamento dos clubes com os jogadores", completou o dirigente.
O meia Carlos Miguel é um dos poucos casos de jogadores de clubes grandes que cumpriram o contrato até o fim depois da regulamentação da Lei Pelé.
Afastado do São Paulo pelo técnico Nelsinho Baptista, ele ficou parado, mas recebendo salário do clube, desde outubro. Seu contrato terminará nesta segunda-feira. A partir daí, estará livre para negociar com quem quiser.
A Lei Pelé também não pôs fim às disputas na Justiça entre jogadores e clubes envolvendo direitos federativos. Os atletas continuaram contratando advogados para se desvincular de seus times.
Um dos exemplos de maior repercussão foi o caso do meia-atacante Marcelinho, que se transferiu para o Santos sem pagamento de multa rescisória. Ele ainda exige uma quantia do clube pela quebra de contrato. O Corinthians, por sua vez, também entrou com uma ação na Justiça contra ele.


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