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FUTEBOL
Empréstimo ainda é a maneira preferida dos times para contratações
Após 9 meses da Lei Pelé,
clubes insistem em "passe"
MAÉRCIO SANTAMARINA
RICARDO PERRONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Nove meses depois de a Lei Pelé
entrar em vigor, determinando a
extinção do passe, os clubes brasileiros ainda negociam seus atletas
da mesma forma como ocorria
antes da nova regulamentação.
O empréstimo continua sendo a
maneira preferida da maioria dos
times para contratar jogadores,
como se o passe ainda existisse.
Os dirigentes evitam pagar multas rescisórias aos concorrentes,
graças a acordos para ter os jogadores por empréstimo.
Para evitar perder atletas mediante o pagamento de multas, os
clubes têm antecipado a renovação dos contratos. Depois de o
compromisso ser renovado, alguns deles são negociados por
empréstimos temporários.
No São Paulo, esse procedimento foi feito com o meia Souza, que
após a sua renovação foi emprestado ao Atlético-PR. Agora ele deve retornar ao clube paulista.
"Acredito que isso venha ocorrendo por uma acomodação inicial. Os clubes ainda estão se acostumando com a nova lei", afirmou Rogério Caboclo, diretor financeiro do São Paulo.
Em sua proposta para quitar a
dívida que o Flamengo tem com o
Corinthians pela aquisição do atacante Edílson, o vice-presidente
de futebol do clube carioca, Walter Oaquim, tratou a questão do
passe anteontem como se a Lei
Pelé não vigorasse.
Ele disse que o seu clube estava
interessado em ficar com ""metade do passe" do meia Ricardinho
em troca do meia-atacante Petkovic e do perdão da dívida.
Para o advogado Marcílio Krieger, 62, especialista em direito esportivo, a Lei Pelé não conseguiu
na prática alterar a estrutura da legislação do futebol brasileiro.
""A legislação precisa ser melhorada. Os maiores beneficiados pela Lei Pelé não foram os atletas,
mas os empresários. Tanto que
até gente de fora do futebol está
entrando nesse negócio", disse.
O lado positivo da lei, para o advogado, foi alertar sobre a situação do esporte, dando um parâmetro para as correções necessárias. ""Com o conjunto de projetos
de lei no Congresso, fruto da CPI
do Futebol, acho que alguma coisa poderá mudar. Não sei se vão
conseguir resolver totalmente a
questão", afirmou Krieger.
Com a Lei Pelé, as relações de
trabalho entre jogadores e clubes
passaram a ser regidas apenas pelos contratos. Elas se dissolvem,
portanto, assim que suas vigências são vencidas. Na prática, a
prorrogação antecipada foi a forma encontrada pelos clubes para
manter seus jogadores nos moldes parecidos à da época do passe.
""Na prática não mudou nada
com a nova lei porque os contratos ainda estão por vencer. Vamos
poder sentir a mudança a partir
do ano que vem, quando muitos
jogadores serão liberados", disse
o empresário Wagner Ribeiro, 42.
Segundo ele, a dificuldade de
negociação de atletas entre os clubes de grande rivalidade vai acabar. ""Hoje em dia, não é tão comum ver Corinthians, Palmeiras
e São Paulo trocando jogadores.
Em 2002, quando os contratos
vencerem, os atletas é que vão decidir para onde querem ir", disse.
O diretor financeiro do São Paulo aponta como reflexo da Lei Pelé
a redução das negociações envolvendo direitos federativos de jogadores. "Estimamos que, desde
o fim do passe, essas negociações
tenham sido reduzidas em 70%",
disse Rogério Caboclo.
"Mesmo assim, acredito que
muita coisa mudou no relacionamento dos clubes com os jogadores", completou o dirigente.
O meia Carlos Miguel é um dos
poucos casos de jogadores de clubes grandes que cumpriram o
contrato até o fim depois da regulamentação da Lei Pelé.
Afastado do São Paulo pelo técnico Nelsinho Baptista, ele ficou
parado, mas recebendo salário do
clube, desde outubro. Seu contrato terminará nesta segunda-feira.
A partir daí, estará livre para negociar com quem quiser.
A Lei Pelé também não pôs fim
às disputas na Justiça entre jogadores e clubes envolvendo direitos federativos. Os atletas continuaram contratando advogados
para se desvincular de seus times.
Um dos exemplos de maior repercussão foi o caso do meia-atacante Marcelinho, que se transferiu para o Santos sem pagamento
de multa rescisória. Ele ainda exige uma quantia do clube pela quebra de contrato. O Corinthians,
por sua vez, também entrou com
uma ação na Justiça contra ele.
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