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Água demais pode derrubar corredor
Especialistas apontam para o perigo do excesso de líquidos e revisam antigos conselhos para atletas de provas como a SS
Problema pode ser até mais grave que desidratação e tem sintomas como dor no estômago e fadiga causados pela queda do nível de sódio
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Beber muita água é um conselho comum, sinônimo de
mais disposição, boa saúde e
até quilos a menos. Para aqueles que se aventuram em competições extenuantes, como a
São Silvestre, no entanto, pode
se tornar uma armadilha.
Nos últimos cinco anos, pesquisas mostraram que o excesso de água tende a ser até mais
perigoso que a desidratação. E
mudaram as orientações dadas
aos competidores.
Os efeitos do excesso de água
podem se resumir só a desconforto estomacal, com náuseas e
vômitos. Casos graves, porém,
levam até ao risco de morte.
O problema mais sério é a hiponatremia. Com a alta ingestão de líquidos e a perda de sais
pelo suor, o atleta dilui a quantidade de sódio no sangue. A
substância ajuda a levar impulsos elétricos para os músculos.
"Bebendo só água, não há a
reposição do sódio. E isso pode
levar à dificuldade de contração
muscular, fadiga e, em casos
mais sérios, arritmia cardíaca",
diz Hélio Ventura, especialista
em medicina do esporte.
Um dos alertas foi dado em
estudo da Universidade Harvard (EUA). A pesquisa analisou 488 corredores na Maratona de Boston de 2002.
Embora a maioria estivesse
bem hidratada, 13% bebeu tanta água que apresentava quadro
de hiponatremia, com estômago inchado, vômito, fadiga e
perda de coordenação motora.
Os atletas haviam bebido, em
média, 3 litros de água -três
corriam até risco de morte.
Estudo semelhante foi feito
na Maratona de São Paulo pela
equipe de Nabil Gorayeb, do
Instituto Dante Pazzanese. Dos
50 testados, nenhum apresentou queda do nível de sódio.
Em provas mais curtas, como
a São Silvestre, de 15 km (uma
maratona tem 42,195 km), as
chances de óbito são muito pequenas. Os problemas mais
graves ocorrem em longas distâncias e triatlos, com várias
horas de atividade física.
A vendedora Rosana Souza,
37, teve hiponatremia há dois
anos. Começou a correr em
2003 para emagrecer, por contra própria. Logo empolgou-se
com o esporte e passou a competir em São Paulo.
"Eu achava que tinha de beber muita água para não desidratar. Em uma meia-maratona, sob sol forte, bebi sem parar, tomava vários copinhos de
cada vez. Tive tontura e dor de
estômago. No fim, fui para o
hospital. Só então pedi orientação ao médico", diz.
Falar com especialistas é a
principal medida para evitar
problemas. Os atletas respondem de forma diferente ao esforço e ao calor nas provas.
E, se o excesso de água é prejudicial, a desidratação também pode causar graves danos.
"Quem não é profissional está mais exposto a riscos e pode
não conhecer suas deficiências
e seus limites", diz André Pedrinelli, ortopedista e especialista em medicina esportiva.
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