São Paulo, domingo, 30 de dezembro de 2007

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Água demais pode derrubar corredor

Especialistas apontam para o perigo do excesso de líquidos e revisam antigos conselhos para atletas de provas como a SS

Problema pode ser até mais grave que desidratação e tem sintomas como dor no estômago e fadiga causados pela queda do nível de sódio

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Beber muita água é um conselho comum, sinônimo de mais disposição, boa saúde e até quilos a menos. Para aqueles que se aventuram em competições extenuantes, como a São Silvestre, no entanto, pode se tornar uma armadilha.
Nos últimos cinco anos, pesquisas mostraram que o excesso de água tende a ser até mais perigoso que a desidratação. E mudaram as orientações dadas aos competidores.
Os efeitos do excesso de água podem se resumir só a desconforto estomacal, com náuseas e vômitos. Casos graves, porém, levam até ao risco de morte.
O problema mais sério é a hiponatremia. Com a alta ingestão de líquidos e a perda de sais pelo suor, o atleta dilui a quantidade de sódio no sangue. A substância ajuda a levar impulsos elétricos para os músculos.
"Bebendo só água, não há a reposição do sódio. E isso pode levar à dificuldade de contração muscular, fadiga e, em casos mais sérios, arritmia cardíaca", diz Hélio Ventura, especialista em medicina do esporte.
Um dos alertas foi dado em estudo da Universidade Harvard (EUA). A pesquisa analisou 488 corredores na Maratona de Boston de 2002.
Embora a maioria estivesse bem hidratada, 13% bebeu tanta água que apresentava quadro de hiponatremia, com estômago inchado, vômito, fadiga e perda de coordenação motora. Os atletas haviam bebido, em média, 3 litros de água -três corriam até risco de morte.
Estudo semelhante foi feito na Maratona de São Paulo pela equipe de Nabil Gorayeb, do Instituto Dante Pazzanese. Dos 50 testados, nenhum apresentou queda do nível de sódio.
Em provas mais curtas, como a São Silvestre, de 15 km (uma maratona tem 42,195 km), as chances de óbito são muito pequenas. Os problemas mais graves ocorrem em longas distâncias e triatlos, com várias horas de atividade física.
A vendedora Rosana Souza, 37, teve hiponatremia há dois anos. Começou a correr em 2003 para emagrecer, por contra própria. Logo empolgou-se com o esporte e passou a competir em São Paulo.
"Eu achava que tinha de beber muita água para não desidratar. Em uma meia-maratona, sob sol forte, bebi sem parar, tomava vários copinhos de cada vez. Tive tontura e dor de estômago. No fim, fui para o hospital. Só então pedi orientação ao médico", diz.
Falar com especialistas é a principal medida para evitar problemas. Os atletas respondem de forma diferente ao esforço e ao calor nas provas.
E, se o excesso de água é prejudicial, a desidratação também pode causar graves danos.
"Quem não é profissional está mais exposto a riscos e pode não conhecer suas deficiências e seus limites", diz André Pedrinelli, ortopedista e especialista em medicina esportiva.


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