São Paulo, quarta-feira, 31 de janeiro de 2001

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FUTEBOL

Congresso suspeita de superfaturamento de reforma da sede da federação

CPIs aumentam foco de investigação sobre Farah

FÁBIO VICTOR
DA REPORTAGEM LOCAL

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DO PAINEL FC

As CPIs sobre o futebol no Congresso não querem se limitar a analisar as transações de jogadores feitas por intermédio da Federação Paulista de Futebol.
Além da investigação sobre o esquema de compra e venda de atletas entre 1997 e 2000 -o principal é a transferência do meia-atacante Marcelinho do Valencia para o Corinthians-, as CPIs começam a analisar os detalhes da aquisição da nova sede da entidade, localizada na Barra Funda.
A suspeita dos membros das duas CPIs é que a obra tenha sido superfaturada e servido para lavar dinheiro para o exterior.
Segundo Eduardo José Farah, presidente da FPF, a compra do prédio custou R$ 3,2 milhões à entidade. Após sete meses de obra, teriam sido gastos cerca de R$ 9 milhões.
Movimentações bancárias da federração, no entanto, indicariam valores muito maiores -superiores a R$ 15 milhões.
Para a CPI da CBF/Nike, na Câmara, e a do Futebol, no Senado, Farah terá que explicar se a diferença não foi mandada para fora do país -suspeitas das duas comissões, a partir de documentos que circulam no Congresso e estão em mãos de seus integrantes.
Outro foco de ação será a investigação do que já vem sendo chamado na Câmara de ""conexão Uruguai".
Assim como acontecem com diversos atletas argentinos, chama a atenção dos parlamentares o número de jogadores brasileiros que, antes de serem vendidos para a Europa, têm seu passe cedido para um time de pequena expressão do Uruguai.
Foi assim em 1997, com o meia-lateral Zé Roberto, da Lusa. Vendido ao Real Madrid por US$ 9,9 milhões, o passe do atleta foi antes cedido para o Central Espanõl, do Uruguai. Nos cofres da Lusa só entraram US$ 4,6 milhões.
O caso Piekarski, revelado pela Folha no domingo e que fez as CPIs voltarem o foco a Farah, também começa no Uruguai.
Em 1998, a FPF contratou o atleta polonês do Rentistas. Segundo a entidade, ela desembolsou R$ 800 mil para contratá-lo.
Após cedê-lo ao Mogi por seis meses, vendeu-o ao Bastia, da França, por US$ 1,8 milhão.
Apesar de ter recebido cheque nominal, cruzado e não-endossável em seu nome -valor de US$ 600 mil- em julho de 1998, Farah só enviou o dinheiro, em nome da FPF, ao Brasil, em novembro do ano passado.
O mesmo ocorreu com letra de câmbio ,também de US$ 600 mil, datada de dezembro de 1998 -o dinheiro só entrou no Brasil no ano passado, quando as CPIs estudavam a quebra de sigilo bancário e fiscal de Farah e da FPF.
Como o empresário Juan Figer, suspeito de usar as equipes uruguaias para negociar jogadores e lavar dinheiro, tem ligações tanto com o Rentistas quanto com o Central Español, ele terá suas contas analisadas.
""Vamos estudar a movimentação bancária do Figer. É evidente que existe um vínculo ente ele e os dois times do Uruguai", disse Álvaro Dias, presidente da CPI do Senado.
Já os integrantes da CPI da Câmara resolveram pedir ao Banco Central o detalhamento do registro cambial da entrada no Brasil das duas parcelas de US$ 600 mil do caso Piekarski.
O que os deputados da comissão querem saber é em nome de quem foi feito o registro do ingresso do dinheiro no ano passado. "Se o Bastia pagou em 1998, quem pagou em novembro do ano passado?", questionou o deputado Sílvio Torres (PSDB-SP), relator da CPI na Câmara.
A comissão deve decidir em reunião marcada para a tarde de hoje o dia em que Eduardo José Farah, presidente da federação paulista, em nome do qual foi emitido o cheque, irá depor.
O depoimento, que seria em março, pode ser antecipado para fevereiro.
Além das investigações sobre Farah, a CPI do Futebol solicitou à Advocacia Geral da União, que integra um grupo especial montado pelo governo para rastreamento de operações no exterior, que verifique a possível compra de um imóvel que teria sido feita pelo técnico Wanderley Luxemburgo nos EUA.

Colaborou a Sucursal de Brasília

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