São Paulo, quinta-feira, 31 de janeiro de 2002

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FUTEBOL

Presidente da Fifa diz que não aceitará intervenção do governo na CBF

Blatter sai em defesa de permanência de Teixeira

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADO ESPECIAL A ASSUNÇÃO

O presidente da Fifa resolveu sair em defesa de Ricardo Teixeira. Assim que chegou ao Paraguai, onde acompanhará hoje o Congresso da Confederação Sul-Americana, o suíço Joseph Blatter, dirigente máximo da entidade que comanda o futebol mundial, deixou claro que a Fifa não aceitará uma intervenção pura e simples do governo na CBF.
Para ele, só haveria três possibilidades para Teixeira sair da presidência da Confederação Brasileira de Futebol no sábado, como quer Carlos Melles, ministro do Esporte de FHC.
A primeira seria o dirigente morrer. A segunda, renunciar. A terceira, ser retirado do cargo pelo colegiado da CBF, dominado pelas federações estaduais, que já deram total apoio a Teixeira.
""O estatuto da Fifa é firme e, mais do que firme, eu diria democrático. Uma federação nacional de futebol é uma entidade autônoma, que não pode ficar sofrendo intervenções por questões políticas", afirmou Blatter, na entrada do Iate e Golfe Clube, hotel-cassino em que está hospedado com os demais participantes do congresso da Conmebol.
Ele citou como exemplo a federação de Bangladesh -""o novo governo simplesmente decidiu mexer no futebol, tirando os dirigentes que tinham sido eleitos para colocar pessoas de sua influência". Resultado: a entidade foi suspensa da Fifa, e a seleção do país retirada de quaisquer competições promovidas por ela.
Indagado pela Folha sobre o caso brasileiro, se não seria diferente do de Bangladesh, pelo peso das denúncias das CPIs da CBF-Nike, na Câmara, e do Futebol, no Senado, contra Teixeira, Blatter disse que não. ""Todo mundo tem direito à defesa e, pelo que eu saiba, ele tem todo o apoio da comunidade do futebol no Brasil."
A mesma tese do suíço era defendida por Manuel Espezim, consultor da Fifa e um dos principais aliados de João Havelange, presidente de honra da entidade, que chegou ao Paraguai com o ex-sogro de Teixeira.
""Foi uma precipitação do ministro [falar na renúncia do presidente da CBF". Não é só o estatuto da Fifa, a própria legislação brasileira não permitiria uma intervenção assim, muito menos que ele force o Ricardo a renunciar. Ele renuncia se quiser e, pelo que estou sentindo, não é o caso."
Nabi Abi Chedid, vice-presidente da CBF e integrante do Comitê Executivo da Conmebol, também negou qualquer possibilidade de Teixeira sair do cargo. ""Ele fica, até porque está mais forte do que nunca, mais uma vez reconduzido a um lugar no Comitê Executivo da Fifa."
Nabi se refere à recondução do presidente da CBF, do paraguaio Nicolás Leoz, da Confederação Sul-Americana, e do argentino Julio Grondona, da Associação de Futebol Argentino, como representantes da América do Sul na cúpula da Fifa.
Reconduzido pela segunda vez ao comitê, Teixeira, que se recusou ontem a conversar com a reportagem da Folha, se torna membro honorário.
Assim sendo, mesmo que deixe a direção da CBF, não sai do Executivo nos próximos quatro anos. E depois, pelo simples fato de ser honorário, poderia tentar uma nova recondução em 2006, independentemente de sua situação na confederação do Brasil.
É nisso que Melles se baseia -no status de honorário de Teixeira, que lhe daria mais força na Fifa- para que ele renuncie.
Mas, pelo que dizem os amigos e assessores do dirigente em Assunção, é melhor o ministro tirar o cavalo da chuva. Honorário ou não, ele continuaria. E sábado seguiria para Riad, onde o Brasil pega a Arábia Saudita no dia 6.


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