São Paulo, sábado, 31 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MOTOR

Finalmente 2004

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

Após duas semanas de discussões sobre a cobertura brasileira da F-1, vamos ao que interessa: a temporada promete, mas apenas promete por enquanto.
A começar pela Ferrari, que tirou o pano vermelho de cima de um carro muito parecido com o do ano passado, tomou tempo da Williams em Valência com o velho e arrancou sorrisos da cúpula e de Schumacher após 34 voltas com o novo no circuito de Fiorano, ilha da fantasia de Maranello.
Os atuais campeões fazem força para mostrar confiança e seria muito bom escrever que finalmente se perderam no desenvolvimento da família mais vitoriosa dos últimos tempos. Ou, pelo menos, que foram ultrapassados pelo atraso/antecipação da McLaren e/ou pelo nariz revolucionário da engenheira da Williams. Mas, claro, é cedo para tanto, teste é teste, mesmo para a mídia.
Seria muito bom também escrever que McLaren e Williams terão graves problemas de relacionamento durante o ano, a primeira sem saber o que fazer exatamente com Coulthard, a segunda, pior ainda, sem saber o que fazer com seu irascível primeiro piloto já contratado pelo rival, Montoya.
Seria o paraíso escrever que Renault e Toyota chegarão forte, que a BAR não é apenas um suspiro de pré-temporada, que o treino oficial duplo no sábado trará verdadeiras surpresas, não apenas na Austrália, e que o motor longa vida diminuirá pelo menos um pouco a distância planetária entre grandes, médios e pequenos.
Tudo isso, no entanto, é puro delírio neste momento. Temos um começo de ano auspicioso, nada mais. Muita coisa vai mudar até os carros embarcarem para Melbourne para a temporada mais longa da história, a primeira em que times e montadoras terão mais poder e uma maior fatia nos lucros, a primeira com corridas na China e no Oriente Médio.
Enfim, o que temos até agora é uma F-1 que se vende como nova, em cenários cinematográficos, mas com os mesmos personagens, liderados pela primadona de sempre. Falta apenas definir o enredo, que depende fundamentalmente dos engenheiros.
O prognóstico seria totalmente pessimista não fosse um único detalhe, digamos técnico, que talvez seja chave para o desenrolar da temporada. Até o ano passado, existia um único projeto de sucesso na categoria, o da Ferrari -a McLaren saiu à pista com um híbrido, que acabou correndo até o final, e a Williams só descobriu o caminho depois que Frank Dernie inventou aquele lastro de aço.
Agora, as três escuderias mostram fôlego e, mais importante, com programas de raízes bem diferentes -a Ferrari naturalmente apostando no aperfeiçoamento, a McLaren, na solidez de um projeto de longo prazo, a Wil-liams, no desenho radical.
Ou seja, a dinâmica da temporada tem uma rara chance de mudança. No lugar de o resto do grid perseguir os resultados de um único projeto eficiente, existirão em tese três em concorrência, o que já é uma perspectiva.
A não ser que a Ferrari tenha algum segredo guardado naquele clone. A não ser que a guerra de pneus mele tudo mais uma vez.

Pizzonia
O amazonense aproveitou bem sua sessão de testes com a nova Williams. Mas, após o recorde, voltou a se envolver em polêmica. Disse ao site da "Autosport" que será o segundo piloto de testes do time nesta temporada. Já a Williams resumiu a produtiva semana a um simples teste: merecedor de elogios, mas sem nenhum significado de compromisso futuro. Coisa parecida aconteceu com Nelson Piquet, o filho. A Williams virou uma porta da esperança para os brasileiros?

Sem cereja
Patrick Faure, chefão da Renault, afirmou que os times vão ganhar cerca de sete milhões de libras a mais nesta temporada apenas por conta da nova divisão do bolo da F-1, acertada com Ecclestone e os bancos alemães. É absurdo dizer isso, mas não parece pouco?

E-mail mariante@uol.com.br


Texto Anterior: CBF e Parreira divergem sobre meta
Próximo Texto: Futebol - José Geraldo Couto: A hora dos urubus
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.