São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 2006

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FUTEBOL

Segredos do ponto eletrônico

XICO SÁ
COLUNISTA DA FOLHA

Amigo torcedor, amigo secador, você sabe o que o trio de arbitragem conversa mesmo pelo aparelho eletrônico?
É uma fuzarca.
O disse-me-disse que anulou o golaço de Tevez é fábula infantil diante da prosa, proibida para menores, x-rated perde, que rola solta. Um verdadeiro museu da língua, senhor.
Se o jogo é chato e modorrento, então, haja papo para fazer passar o tempo. Pensam que é mole apitar um União São João x Mirassol, pela série A-2 do Paulista?
A bandeirinha (-"assistente é uma ova!", grita aqui meu anacrônico papagaio Flobé) Ana Paula de Oliveira que o diga.
O pior, para a musa do apito, é que o papo dos colegas Cléber Wellington Abade e Evandro Luiz Silveira -os mesmos de Palmeiras x Corinthians-, ainda conseguia ser mais pavoroso do que o próprio jogo.
Tanto que a brava moçoila arrancou o ponto eletrônico das oiças antes mesmo do final da peleja. Ah, melhor ouvir o coro de "gostosa" das arquibancadas do que as impropriedades e "malices" dos rapazes. Sem ela no circuito, imaginem então o nível de testosterona do diálogo dos cabróns?!
Todo juiz de futebol é um tarado. Ou vocês acham que alguém escolhe uma missão dessas na vida à toa? No mínimo tem um edipianismo monstro e mal resolvido. Além das perversões de varejo, óbvio, e do sadomasoquismo incorrigível.
Pela arrojada leitura labial que tenho feito durante os jogos de São Paulo, e também de algumas partidas da Europa, onde se inventou o uso do equipamento, a baixaria rola mesmo solta.
Durante o golaço de Tevez, por exemplo, rolava uma velha piada sobre argentino. Aquela da traição de Jesus por um Judas portenho, claro: "Esta noite um de vocês me trairá!", disse Cristo. "Serei yo?", entrega-se o suposto traidor da lorota. Algo assim.
No velho continente não é nada diferente.
Outro dia, diante de mais um garrinchismo hipnótico de Ronaldinho Gaúcho, um árbitro mané lá qualquer não se conteve, olhou para um dos colegas da bandeira e sapecou, com o perdão aos ouvidos mais delicados, um sonoro e grandiloquente "vai jugar assí en la puta que o pariu!". E no melhor estilo possível, de fazer inveja ao Douglas Diegues, inventor do "portunhol selvagem", língua que utiliza nos seus livros.
O perfume afetado dos cremes de David Beckham, de cuja costela Deus criou o metrossexual, é outro assunto corrente no ponto eletrônico d'além-mar.
Pior seria, para os colegas de arbitragem, enfrentar uma assistente com TPM. "Já pensou que inferno?", perguntou-me outro dia, via e-mail, uma leitora corintiana que condenou o uso do recurso tecnológico depois daquele malfadado clássico.
"Rolaria até uma tremenda D.R.", escreveu a fiel missivista. D.R., para quem não sabe, significa "discussão de relação", essa mitológica treta que atinge todos os nossos lares doces lares.

Perdido no espaço
O vício de secar é mesmo uma doença. Sequei até o astronauta brasileiro que apareceu subindo aos céus, no canto da tela, durante o jogo do Santos com o Bragantino. Pára com isso, menino! E toda a sorte ao nosso homem representante em outras galáxias.

Solidão da estrela
Como cantava o Jorge Ben das antigas, "a cegonha me deixou em Madureira". Pois é, sou Madureira desde criancinha. Viva o time dos suburbanos corações cariocas. Que o Maraca lhe seja leve na decisão com o Bota.

Secando em Minas
Além da estrela solitária, seco também o Cruzeiro contra o Ipatinga, na decisão do Mineiro. Que vinguem todas as zebras possíveis da domingueira.


E-mail - xico.folha@uol.com.br

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