São Paulo, sexta-feira, 31 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Colonizados versus colonizadores

France Presse
Cissé, um dos astros da campeã França


Começa hoje, com o jogo entre França e Senegal, a Copa do Mundo que mais vezes vai opor em uma primeira fase antigas colônias e metrópoles. Nada menos do que quatro duelos irão reunir dominadores e dominados, levando ao campo ressentimentos antigos. Se hoje são livres, países africanos e sul-americanos continuam a depender de seus ex-colonizadores no futebol. Pobres, mandam seus melhores atletas, que se aproveitam da língua em comum, para a Europa. E trazem técnicos da "metrópole" para comandarem suas seleções. Com o fortalecimento da África e os cruzamentos entre ex-metrópoles e ex-colônias, o Mundial na Ásia é o que tem a maior chance de ver pela primeira na final dois "povos irmãos".

DOS ENVIADOS A SEUL

Se antes dominavam tribos africanas e sul-americanas com a força, as grandes potências européias contam hoje com o futebol para repetirem, obviamente em menor escala, a relação colônia x metrópole do passado.
Os quatro jogos da primeira fase do Mundial de 2002 que irão reunir países que tiveram essa relação ilustram bem a situação.
Senegal, Camarões, Nigéria e Paraguai têm com, respectivamente, França, Alemanha, Inglaterra e Espanha uma relação de dependência no futebol.
São para as ex-metrópoles que os principais jogadores dos quatro primeiros países, todos muito pobres, partem em busca de bons contratos e fama.
São nas ricas nações na Europa que as ex-colônias vão buscar treinadores para tocarem suas seleções, mostrando que não confiam na mão-de-obra local.
Ninguém representa tal situação melhor do que o Senegal. Dos 23 atletas africanos inscritos para a disputa da Copa-2002, 21 jogam na França, um dos países com mais aversão à imigração.
"Temos muito respeito pela França, mas vamos jogar para representar a África e a dignidade do futebol de Senegal", diz o atacante Diouf, estrela de seu país, que ganha a vida no Lens, obviamente um time francês.
Se é capaz de produzir jogadores que servem para grandes clubes europeus, Senegal parece não acreditar em seus treinadores.
Quem vai comandar o país na Copa é justamente um francês. "Eles são os melhores do mundo", afirma Bruno Metsu, técnico da equipe africana, que faz questão de exaltar a seleção do país onde nasceu, que deixou no Senegal muita pobreza e um caminho aberto para a instalação de uma ditadura sangrenta.
Em menor escala, Camarões, Paraguai e Nigéria fazem o mesmo com seus rivais na primeira fase da Copa e ex-dominadores.
Os primeiros têm fortes vínculos futebolísticos com os alemães, seus rivais no Grupo E e de quem foram colônia por algumas décadas entre os séculos 19 e 20.
Alguns astros camaroneses, como o zagueiro Song, jogam em clubes do país europeu.
Assim como o Senegal, Camarões, que depois dos alemães foi dividido entre Inglaterra e França, também foi buscar um treinador da sua ex-metrópole para disputar mais um Mundial.
O alemão Winfried Schaefer irá comandar os "Leões Indomáveis" na Copa da Coréia e do Japão, dando valor especial para um eventual triunfo contra seu país. "Será uma emoção especial ganhar da Alemanha", diz ele.
É para a "coroa britânica", de que fazia parte até a década de 60, que a Nigéria manda alguns de seus mais ilustres jogadores.
Na Inglaterra, adversária dos africanos pelo Grupo F do Mundial, atuam alguns dos principais jogadores nigerianos.
Estão lá, por exemplo, o zagueiro Babayaro, que atua pelo Chelsea, e o atacante Kanu, que defende o Arsenal.
Desta vez, pelo menos, a Nigéria não trouxe um técnico de fora -vai disputar a Copa-2002 com o local Adegboye Onigbinde. Antes, o time tinha forte tradição de contratar treinadores europeus.
Longe da África, o Paraguai, um dos países mais pobres da América do Sul, ainda conta com a ex-metrópole para tocar seu futebol. Na Espanha, com que joga no dia 7, estão ou passaram boa parte dos astros paraguaios, como os zagueiros Gamarra e Ayala.
Sob fortes protestos nacionalistas, a federação local também apostou em um treinador europeu para tocar a seleção.
Durante a Copa do Mundo, no banco paraguaio estará o italiano Cesare Maldini.
Na Ásia, a Espanha ainda poderá enfrentar mais cinco ex-colônias -Argentina, Equador, Uruguai, México e Costa Rica. (PAULO COBOS E ROBERTO DIAS)



Texto Anterior: COPA 2002/ CORÉIA/ JAPÃO
Acorda! Vai começar

Próximo Texto: Perfil: Vieira francês faz "marcação" sobre Vieira senegalês
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.