São Paulo, terça-feira, 31 de maio de 2011

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FOCO

Condenada por homicídio, garota faz teste e sonha em jogar pelo Santos

LUCAS REIS
ENVIADO ESPECIAL A SANTOS

Aos 15 anos, ela fez algo de que se arrepende até hoje. Aos 18, tem a chance de jogar o Campeonato Paulista.
"Cento e vinte e um. Homicídio", disse a garota alta e magra, cabelos enrolados e olhar constrangido, ao contar à Folha o motivo de estar há nove meses internada em uma unidade Fundação Casa, ex-Febem, na capital.
Em volta do gramado, funcionários, agentes de segurança e um veículo da instituição a vigiavam.
Mas, no meio de dezenas de meninas, todas elas de camisa, calção, meião e chuteira, Maria (nome fictício), 18, era apenas mais uma candidata a jogadora do Santos.
Era manhã de domingo, e o clube, principal celeiro do futebol feminino no país, fazia uma peneira no litoral.
A garota logo atraiu a atenção de um diretor do São Vicente Atlético Clube, que disputa o Estadual. Maria ainda aguarda o resultado do teste: caso não seja aprovada no Santos, já tem lugar assegurado no São Vicente.
"Eu tenho o sonho de ser jogadora. Gosto muito de futebol. O seu Maurício [Nunes, pedagogo da unidade] falou da peneira, e a gente veio pra cá tentar", contou.
O sonho de jogar futebol por um clube foi adiado na adolescência. Ela tinha apenas 15 anos quando cometeu o crime na cidade de Terra Roxa, interior de São Paulo.
"Foi uma discussão com um rapaz. E acabou acontecendo. Não gosto de falar disso. Já vai fazer quatro anos", contou, sem mais detalhes.
Ficou três anos em liberdade até ser apreendida. Na fundação, continuou a jogar bola. Pelo bom comportamento, ganhou o direito de viajar a Santos para ser vista em ação pelos olheiros.
Se for aprovada, passará por treinamentos com a equipe feminina da Vila Belmiro e pode ser integrada ao time.
Neste caso, aguardará autorização oficial para, mediante escolta, descer a serra quase todos os dias. Ou até mesmo, em uma possibilidade mais remota, receber a liberdade definitiva da Justiça.
Caso não seja aproveitada pelo Santos, ela imediatamente deve ir ao São Vicente. "Ela viria para disputar o Paulistão", disse Hélio Pereira, responsável pelo departamento feminino do clube.
Nos testes, Maria atuou como meia direita. É rápida e mostrou alguma intimidade com a bola. Participou de dois jogos de 30 minutos cada um. "Jogo de lateral, zagueira, o que for preciso."
Ela também diz fazer de tudo para reparar o passado. "Fiz uma besteira forte na vida. Eu me arrependo todos os dias. Estou tentando consertar. Apesar de que isso não se conserta, né? Mas estou tentando mudar, sair outra pessoa", falou a menina.
O próximo desejo, agora, parece mais factível: Maria quer conhecer o mar. Para ela, um primeiro contato com a liberdade e uma nova chance de viver a sua vida.


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