São Paulo, quarta-feira, 31 de julho de 2002

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FUTEBOL

Filho do prefeito de São Caetano usa o símbolo do time em campanha

Clube volta a se confundir com política antes da final

DA REPORTAGEM LOCAL

A pouco mais de dois meses das eleições, a superexposição do São Caetano com a chegada à final da Libertadores volta a gerar suspeitas de utilização política do clube.
Amparado pela Prefeitura de São Caetano do Sul, o time tem como entusiasta e presidente de honra o prefeito Luiz Tortorello (PTB), cujo filho, Marquinho Tortorello (PPS), concorre à reeleição como deputado estadual.
Opositores do grupo político dos Tortorello acusam Marquinho e seu pai de terem aproveitado a festa em comemoração aos 125 anos da cidade, organizada pela prefeitura, no último domingo, para promover a candidatura do primeiro, utilizando no evento símbolos do "Azulão".
Durante o desfile cívico que antecedeu o discurso do prefeito, foram distribuídas centenas de bandeirolas com a logomarca da campanha de Marquinho ao lado do escudo do São Caetano.
Vereadores de oposição do município afirmam que funcionários da prefeitura ajudaram na distribuição das bandeirolas. Vários veículos da administração municipal ostentavam a propaganda de Marquinho com o distintivo da equipe finalista da Libertadores.
Durante o seu discurso, o prefeito Luiz Tortorello pediu à população para "adquirir" a bandeira do clube e colocá-la em automóveis e residências para torcer para o São Caetano.
Nesta semana, o prefeito enviou à mídia, por intermédio da Diretoria de Comunicação Social da prefeitura, um e-mail com um texto de sua autoria, intitulado "Tudo azul", em que exalta sua administração e os feitos do time que leva o nome da cidade.
"O clube é largamente utilizado pelo prefeito e pelo Marquinho. Há uma ligação estreita e promíscua entre o público e o privado", diz o vereador Horácio Neto (PT).
O parlamentar cita o fato de a prefeitura ceder gratuitamente veículos para o clube sem autorização da Câmara Municipal e ironiza o orgulho que o time tem de não atrasar salários e manter as finanças em dia. "O São Caetano não tem crise porque o dinheiro que ele utiliza é público."
O vereador Hamilton Lacerda, também do PT, declara que o terreno onde está localizada a sede do clube, obtido com a prefeitura em regime de comodato, só foi conseguido pela ligação de Tortorello com o São Caetano.
"A lei do comodato determina que terrenos públicos só podem ser cedidos a entidades de bairros. Para viabilizar o processo, eles inventaram uma tal de Sociedade de Amigos do Bairro Cerâmica", relata Lacerda.
O vereador vai além, ao afirmar que a sede "foi construída com dinheiro público".
Os parlamentares de oposição alegam ter dificuldade de coibir o que consideram ser um abuso por serem minoria na Câmara Municipal -18 dos 21 vereadores da cidade apóiam o prefeito.
No caso da cessão gratuita de veículos para o clube sem autorização da Câmara, Horácio Neto diz já ter entrado com uma representação no Ministério Público que inclui o tema, mas, segundo ele, o órgão tem sido lento na apuração das denúncias.
O campo onde o São Caetano manda seus jogos, o Anacleto Campanella, é da prefeitura, que promoveu recentemente uma reforma substancial no estádio para que ele pudesse abrigar jogos do Paulista e do Brasileiro.
Além disso, a administração municipal ajuda a bancar as divisões de base do clube.
O presidente do São Caetano, Nairo Ferreira, tem um cargo no primeiro escalão da prefeitura -é diretor da Deplan, órgão que corresponde à secretaria de Planejamento. "O São Caetano não mistura futebol com política. Não há nada que envolva a final da Libertadores com política", disse o dirigente, que nos últimos dias alternou sua obrigação profissional com os compromissos da grande final. (FÁBIO VICTOR, PAULO GALDIERI E RODRIGO BERTOLOTTO)



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