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FUTEBOL
Liderados pelo governador Blairo Maggi, o "rei da soja", produtores do Estado viram mecenas da maioria dos times
Barões da soja criam a "agroliga" do MT
DO ENVIADO A RONDONÓPOLIS (MT)
Os barões da soja partiram para
a briga no Mato Grosso, a meca
do valioso grão no Brasil. Mas não
é pela disputa de novos mercados
para seus produtos.
Os fazendeiros do Estado, recordista na produção de soja no
país, fizeram do futebol local uma
espécie de "agroliga". A começar
pelo "rei da soja", o governador
Blairo Maggi (PPS), megaprodutores são os mecenas de mais da
metade dos clubes que disputam
o Campeonato Mato-grossense.
Sem perspectiva alguma de retorno financeiro, gente que planta
milhares de hectares de soja e outras culturas, como algodão e milho, investe ou consegue com parceiros verbas que variam entre R$
50 mil e R$ 100 mil mensais para
bancar clubes de cidades em que,
na maioria dos casos, tem interesses em outra nova paixão da milionária turma -a política.
E, na bola, o líder da turma não
repete o mesmo sucesso.
O União de Rondonópolis é
uma espécie de primo rico do futebol de Mato Grosso. Isso graças
ao apoio do Grupo Amaggi, da família do governador, que planta
quase 200 mil hectares de soja e
tem a cidade, 212 km ao sul de
Cuiabá, como sua base política.
O clube, que tem como presidente o principal executivo das
empresas do governador, diz gastar R$ 60 mil por mês durante o
Estadual, mas os adversários dizem que o clube consome quase o
dobro disso. Está construindo um
moderno centro de treinamento,
tem um site de primeira na internet e veste uniforme de grife internacional. Mas tudo isso não foi
capaz de dar um título para o clube. Maggi, porém, não desiste.
"A minha parte vou continuar
fazendo. Vamos manter a ajuda
do Grupo Amaggi", disse o governador, após a eliminação no Estadual deste ano -ele também patrocina o Mixto, time de Cuiabá.
Guru da leva de migrantes sulistas que descobriu o eldorado da
soja no Mato Grosso, é tratado
com reverência, mas seus pares
não escondem a satisfação de superarem o "rei da soja".
A começar pelo homem-forte
do Vila Aurora, que trouxe, neste
temporada, o primeiro título estadual para Rondonópolis.
Tarcisio Sachetti, 38, é o comandante de um grupo com 70 mil
hectares de plantações em Mato
Grosso. Sua família, velha conhecida dos Maggi, sempre torceu
para o União, mas, "sem concordar com algumas coisas na gestão
do clube rival", resolveu agir no
Vila Aurora e viu o clube ficar
com o título. "A rivalidade dos
clubes é muito grande", diz, com
um imenso sorriso irônico no
rosto, Sachetti, cujo irmão mais
velho, Adilton, é o prefeito de
Rondonópolis e aliado e vizinho
de Maggi na cidade.
Parceiros
A ação de Sachetti no Vila Aurora é um exemplo do envolvimento do agronegócio no futebol mato-grossense. Para angariar fundos, ele vai atrás dos bilionários
fornecedores do setor.
A coisa é simples. Se alguém
tem que fazer um pagamento ao
seu grupo, Sachetti dá um abatimento em troca de apoio ao clube, que consegue vender cotas de
patrocínio para cada camisa do time. A "pressão" do empresário
dá resultados até em multinacionais -a Bunge e os ingleses da
Wakefield estampam suas marcas
na camisa azul do Vila Aurora.
Foi um dos grandes no mercado
de sementes, outro nicho milionário da sojicultura, um dos principais incentivadores para outros
fazendeiros mergulharem no futebol. Orlando Polato, vice-presidente do União, conclamou colegas a investirem no futebol.
"Não temos lazer aqui. Precisamos de um hobby", diz Polato,
que logo teve seus pedidos atendidos por produtores com interesses políticos.
Em Jaciara, o Grêmio local é
mantido com os recursos do patrocínio de Gilberto Goellner, suplente do senador Jonas Pinheiro,
e dono de mais de 60 mil hectares
de lavouras em Mato Grosso.
O primeiro suplente de deputado federal de Mato Grosso, Helmute Lawisch, fundou o Luverdense no ano passado e já está na
Série C do Nacional. "Nós só trabalhamos. O futebol acaba sendo
um lazer para a gente", diz o produtor, que usa a mesma tática de
Sachetti no Vila Aurora para angariar fundos para seu time.
Lawisch, assim como os colegas
de fazenda, promete levar o projeto de seu time para frente, mas
deixa claro qual é sua prioridade.
"Somos produtores de soja, não
cartolas de futebol", explica o migrante gaúcho.
(PAULO COBOS)
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