São Paulo, domingo, 31 de julho de 2005

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FUTEBOL

Liderados pelo governador Blairo Maggi, o "rei da soja", produtores do Estado viram mecenas da maioria dos times

Barões da soja criam a "agroliga" do MT

DO ENVIADO A RONDONÓPOLIS (MT)

Os barões da soja partiram para a briga no Mato Grosso, a meca do valioso grão no Brasil. Mas não é pela disputa de novos mercados para seus produtos.
Os fazendeiros do Estado, recordista na produção de soja no país, fizeram do futebol local uma espécie de "agroliga". A começar pelo "rei da soja", o governador Blairo Maggi (PPS), megaprodutores são os mecenas de mais da metade dos clubes que disputam o Campeonato Mato-grossense.
Sem perspectiva alguma de retorno financeiro, gente que planta milhares de hectares de soja e outras culturas, como algodão e milho, investe ou consegue com parceiros verbas que variam entre R$ 50 mil e R$ 100 mil mensais para bancar clubes de cidades em que, na maioria dos casos, tem interesses em outra nova paixão da milionária turma -a política.
E, na bola, o líder da turma não repete o mesmo sucesso.
O União de Rondonópolis é uma espécie de primo rico do futebol de Mato Grosso. Isso graças ao apoio do Grupo Amaggi, da família do governador, que planta quase 200 mil hectares de soja e tem a cidade, 212 km ao sul de Cuiabá, como sua base política.
O clube, que tem como presidente o principal executivo das empresas do governador, diz gastar R$ 60 mil por mês durante o Estadual, mas os adversários dizem que o clube consome quase o dobro disso. Está construindo um moderno centro de treinamento, tem um site de primeira na internet e veste uniforme de grife internacional. Mas tudo isso não foi capaz de dar um título para o clube. Maggi, porém, não desiste.
"A minha parte vou continuar fazendo. Vamos manter a ajuda do Grupo Amaggi", disse o governador, após a eliminação no Estadual deste ano -ele também patrocina o Mixto, time de Cuiabá.
Guru da leva de migrantes sulistas que descobriu o eldorado da soja no Mato Grosso, é tratado com reverência, mas seus pares não escondem a satisfação de superarem o "rei da soja".
A começar pelo homem-forte do Vila Aurora, que trouxe, neste temporada, o primeiro título estadual para Rondonópolis.
Tarcisio Sachetti, 38, é o comandante de um grupo com 70 mil hectares de plantações em Mato Grosso. Sua família, velha conhecida dos Maggi, sempre torceu para o União, mas, "sem concordar com algumas coisas na gestão do clube rival", resolveu agir no Vila Aurora e viu o clube ficar com o título. "A rivalidade dos clubes é muito grande", diz, com um imenso sorriso irônico no rosto, Sachetti, cujo irmão mais velho, Adilton, é o prefeito de Rondonópolis e aliado e vizinho de Maggi na cidade.

Parceiros
A ação de Sachetti no Vila Aurora é um exemplo do envolvimento do agronegócio no futebol mato-grossense. Para angariar fundos, ele vai atrás dos bilionários fornecedores do setor.
A coisa é simples. Se alguém tem que fazer um pagamento ao seu grupo, Sachetti dá um abatimento em troca de apoio ao clube, que consegue vender cotas de patrocínio para cada camisa do time. A "pressão" do empresário dá resultados até em multinacionais -a Bunge e os ingleses da Wakefield estampam suas marcas na camisa azul do Vila Aurora.
Foi um dos grandes no mercado de sementes, outro nicho milionário da sojicultura, um dos principais incentivadores para outros fazendeiros mergulharem no futebol. Orlando Polato, vice-presidente do União, conclamou colegas a investirem no futebol.
"Não temos lazer aqui. Precisamos de um hobby", diz Polato, que logo teve seus pedidos atendidos por produtores com interesses políticos.
Em Jaciara, o Grêmio local é mantido com os recursos do patrocínio de Gilberto Goellner, suplente do senador Jonas Pinheiro, e dono de mais de 60 mil hectares de lavouras em Mato Grosso.
O primeiro suplente de deputado federal de Mato Grosso, Helmute Lawisch, fundou o Luverdense no ano passado e já está na Série C do Nacional. "Nós só trabalhamos. O futebol acaba sendo um lazer para a gente", diz o produtor, que usa a mesma tática de Sachetti no Vila Aurora para angariar fundos para seu time.
Lawisch, assim como os colegas de fazenda, promete levar o projeto de seu time para frente, mas deixa claro qual é sua prioridade. "Somos produtores de soja, não cartolas de futebol", explica o migrante gaúcho. (PAULO COBOS)


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