São Paulo, domingo, 31 de julho de 2011 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
TOSTÃO Perder é morrer
ONTEM, COMEÇARAM, oficialmente, a festança e a gastança da Copa de 2014, com um evento pago pela prefeitura e pelo governo estadual do Rio, com a presença e o apoio dos amigos, novos e antigos. Todos querem mamar nas tetas do poder. A agressão do jogador Gustavo, do Sport, ao atleta Elivélton, do Vasco, pela Taça BH de Juniores, mesmo mais grave que outras, tem a ver com a violência que existe na sociedade, nas ruas, nas arquibancadas e nos gramados. As partidas são, a cada dia, mais tumultuadas, com cotoveladas, pontapés e ofensas. Muitos chamam isso de futebol competitivo, emocionante e intenso. O espetacular jogo entre Santos e Flamengo foi atípico e uma exceção. Neymar e Ronaldinho foram magistrais, facilitados pela péssima atuação individual e coletiva da maioria dos defensores. O gol de Neymar foi tão bonito quanto os maiores gols de Pelé. Os jovens, encantados, ficaram perplexos. Parecia outro esporte, que existia apenas na imaginação dos saudosistas e dos românticos. Os mais velhos, assim como eu, emocionados, lembraram os grandes jogos entre o Santos, de Pelé, e o Botafogo, de Garrincha. Difícil é voltar à realidade. O futebol atual é outro. Quanto mais violência nos gramados, mais se fala em fair play. Jogar a bola para fora quando o adversário está no chão, o que deveria ser um ato espontâneo, de solidariedade e de delicadeza, tornou-se uma obrigação, muitas vezes, sem motivo. Alguns jogadores se aproveitam para simular contusões graves. É o árbitro que deve decidir se para ou não o jogo. O esporte de alto rendimento é um espelho da sociedade. Não é um bom lugar para incorporar os valores éticos. O atleta, pressionado e sonhando com a glória, costuma usar de todos os meios para levar vantagem. Mesmo com tantos exames, os atletas continuam se dopando. O ser humano não nasceu santo. Nasce, cresce e corre atrás do prazer. É a sociedade que tem de impor limites para desmedidas ambições humanas, por meio de educação, exemplos e punições. Os atletas se preparam somente para vencer. Além da tristeza, os derrotados se sentem mo- ralmente culpados, como se tivessem feito algo incorreto. A sala onde os nadadores ficam, antes de uma prova olímpica, é chamada de sala da morte. Quem perde morre. Tenho mais admiração pelos perdedores, pelos marginalizados e pelos inadaptados ao mundo, que, mesmo assim, continuam dignos, do que pelos vencedores, apaixonados pelo sucesso. Texto Anterior: A rodada: Fluminense enfrenta o Ceará em meio a polêmica sobre Engenhão Próximo Texto: Equilíbrio Índice | Comunicar Erros |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |