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São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2003

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FUTEBOL

Corintianos e são-paulinos colocam dinheiro em casa e celebram fama

Adolescente vira arrimo de família e quer videogame

DA REPORTAGEM LOCAL

Sustentar uma casa, inverter o pátrio poder. Essa é a rotina repetida por um batalhão de garotos que surgiram neste Brasileiro. Os salários desses ilustres desconhecidos não passam dos R$ 10 mil, pouco para o padrão dos craques do país, mas são uma fortuna para quem passou necessidade.
Os poucos conhecidos Jô (16), Wilson (18), Bobô (18) e Wendel (19), todos do Corinthians, já são chefes de família.
O salário deles é o que assegura uma casa melhor, uma TV maior, mais comida na mesa e o videogame de última geração.
A precocidade os assusta, mas não é maior do que a empolgação de estar no time profissional, de ser reconhecido e de ter dinheiro para pequenos luxos.
A primeira coisa que Jô fez com seu salário de jogador profissional foi comprar uma licença de táxi para o seu pai -cerca de R$ 15 mil. A segunda foi um Playstation, o videogame desejado por adolescentes de todas as classes.
"Eu peguei o dinheiro do seguro de vida do meu irmão, que morreu no ano passado, e completei com meu salário. Daí deu para comprar a licença para o meu pai trabalhar. Mas eu ainda ganho mais", diz o atacante, que vai treinar de carona e estuda em colégio particular porque ganhou uma bolsa para jogar futsal pela escola.
"Antes a diretora não gostava muito de mim por causa das coisas que eu aprontava. Mas agora tudo mudou. Ela até já me pediu uma camisa autografada do Corinthians", festeja Jô.
A história de Wilson é bem parecida, mas são sete as pessoas que dependem do seu sucesso para viver. Sozinho em São Paulo, o atacante manda dinheiro para seus pais e quatro irmãos que moram em Araras (SP).
"Tenho um carro popular e moro em um apartamento bem perto do Corinthians. O meu pai, que é aposentado, e o meu procurador cuidam do dinheiro. Eu não me meto muito. Meu pai está reformando a minha casa. Eu também ajudo meus quatro irmãos. É bom ver as coisas melhorando", afirmou Wilson, autor de dois gols no último jogo do Corinthians pelo Brasileiro, contra o Internacional.
No Morumbi as coisas não são diferentes. O deslumbramento pela rápida ascensão social ainda não mexeu de vez com os "moleques" do time de Rojas.
O mais novo deles, Fábio Santos, 17, precisa pegar ônibus e carona para treinar, mas está feliz da vida por poder antecipar a aposentadoria do pai.
"Agora ele vai poder deixar de trabalhar no depósito", disse o lateral-esquerdo, que não vê a hora de se dar um presente maior. "Se meu pai falar que dá, mês que vem, quando completarei 18 anos, vou comprar um carro. Até aqui, eu só me dei roupas."
Para os pais de quem já atingiu o estrelato antes dos 20 anos, muita coisa mudou. O pai do santista Diego, por exemplo, tornou-se empresário do filho. A família de Kaká cogita mudar-se para a Itália para não se distanciar da cria. (PAULO COBOS E MARÍLIA RUIZ)


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