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Golpe de Estado
Olimpíada de emergentes premia quem banca atleta com dinheiro público e reabre debate sobre gestão do esporte
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A China ameaçou a supremacia
americana. O Japão foi o que mais
aumentou o número de ouros, 11
a mais que em Sydney. O Brasil
voltou ao G-20 das medalhas após
20 anos e, no grupo, destacou-se
como o que mais galgou posições.
Em comum, os emergentes que
brilharam em Atenas-2004, encerrada anteontem, têm por trás
das delegações olímpicas a sombra acolhedora do Estado, atletas
e equipes técnicas mantidos basicamente com verba do governo.
Na rota contrária, estão os países do Leste Europeu, que trocaram o suporte público pelo da livre iniciativa -o comitê russo
tem 18 parceiros privados- e fizeram seu pior papel histórico.
Ou a União Européia. Há quatro
anos, os então 15 integrantes do
bloco acumularam 79 ouros. Na
Grécia, eles somaram 68.
Cruzar o quadro de medalhas
com a origem dos recursos mostra que a Olimpíada foi pródiga
para as "delegações estatais".
O Brasil está no olho do furacão
do debate. O comitê olímpico nacional depende como nunca do
governo, com quem mantém estreita relação, por meio do ministro do Esporte, Agnelo Queiroz.
Desde 2001, o COB recebeu R$
158 milhões da Lei Piva, verba das
loterias federais. Só a "operação
Atenas" consumiu R$ 10 milhões,
na mais cara Olimpíada da história. Houve mais dinheiro e mais
ouros, mas menos medalhas e
menos esportes premiados.
Além da Lei Piva, cinco estatais
patrocinam seis confederações
(150 atletas). Dos 10 pódios, 6 foram do grupo, incluídos os ouros.
E, sob o governo Lula, tudo
aponta para uma intervenção
crescente do Estado. Nuzman e
Agnelo estão certos de que, no dia
7, quando o presidente receber a
delegação olímpica em Brasília,
anunciará o envio ao Congresso
do projeto de lei de incentivo fiscal para o esporte -que poderá
gerar até R$ 300 milhões/ano.
Às vésperas dos Jogos, Lula sancionou a Bolsa-Atleta, que provém competidores sem patrocínio com auxílios mensais de R$
300 a R$ 2.500. Em 2005, o governo deve gastar até R$ 10 milhões.
Na China, o
quadro está
consolidado.
Sem contar
aportes diretos
do governo,
nos últimos dez
anos a loteria
esportiva arrecadou US$ 600
milhões, dos
quais US$ 150
milhões foram
para massificar a prática de atividades físicas. Neste mês, duas loterias surgiram para capitalizar
Pequim-2008.
O apetite chinês, aliás, sacudiu
os EUA. O comitê olímpico do
país agora faz reservas ao modelo
privado e pede ajuda ao governo.
Até o Japão, segunda economia
do planeta, deve muito do êxito
na Grécia à escora do Estado. Em
1998, foi aprovada uma lei de fomento ao esporte via concursos
esportivos. Desde 2001, quando
surgiu uma bem-sucedida loteria
da liga de futebol, mais de US$ 100
milhões foram repassados a sete
modalidades, que faturaram dois
terços dos 16 ouros do país.
A confirmar a tendência está
Cuba, única nação à margem da
globalização a se manter competitiva entre as potências, raspando
nos "top ten" -foi 11ª em Atenas.
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