São Paulo, terça-feira, 31 de agosto de 2004

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Clima e pódio movem vela contra elitização

Kevin Marcel Heidmann, da escola Yacht Club Santo Amaro, mesma que Robert Scheidt começou, veleja na represa de Guarapiranga

DA REPORTAGEM LOCAL

No Brasil, muitas pessoas comparam a vela ao automobilismo. Num raciocínio simplista, é fácil entender por quê. Os dois são considerados esportes de elite no país e são responsáveis por grandes conquistas internacionais.
O iatismo é a modalidade que mais ouros olímpicos deu ao Brasil. Até hoje foram seis medalhas.
Dois itens principais compõem essa receita de sucesso: a influência européia e o clima favorável.
Muitos iatistas têm ascendência estrangeiras e iniciaram no esporte como um passo natural em famílias que contam com velejadores já há algumas gerações.
"A vela é uma atividade de tradição, veio com os estrangeiros, pessoas que tinham raízes fora", diz Lars Björkström, 60, sueco naturalizado brasileiro que conquistou o primeiro ouro no esporte para o país, ao lado de Alex Welter, em Moscou-80, na tornado.
Mas em virtude principalmente da situação econômica do Brasil, o esporte não pôde ficar restrito a descendentes de imigrantes.
"Os clubes, principais formadores de atletas, tiveram que se abrir para outros sócios ou então não sobreviveriam", explica o descendente de alemães Mário Buckup, 56, atual campeão brasileiro de lightning e que praticamente foi criado à beira da represa de Guarapiranga, em São Paulo.
O segundo fator que muitos apontam como decisivo para o sucesso da vela é o clima do Brasil, que permite a prática do esporte o ano todo, fato impensável nos países que cederam o know-how.
"As condições naturais são excepcionais. Alguns países sofrem com o inverno rigoroso e outros nem mar têm", diz Björkström.
Mas esses dois ingredientes apenas não seriam suficientes. O fato de a vela ter poucos praticantes no país também ajuda. O intercâmbio entre os atletas é fundamental para seu desenvolvimento.
A tentativa agora é turbinar a fórmula com mais dois ingredientes: o incremento da estrutura para o alto nível e a popularização.
Com recursos da Lei Piva, a Federação Brasileira de Vela e Motor (FBVM) diz que já está conseguindo suprir o primeiro ponto.
"Montamos uma base na Europa, onde acontece a maior parte das competições", afirma o presidente da federação brasileira, Walcles Figueiredo de Osório.
Segundo o dirigente, antes da medida, os atletas sofriam para transportar os barcos e, quando não conseguiam, para alugá-los.
"Agora não. Um atleta de ponta tem um barco lá e não precisa ficar preocupado com isso."
Popularizar o esporte, porém, parece ser uma tarefa mais complicada. Todos os barcos de classes olímpicas são importados.
O ouro de Björkström, por exemplo, veio com a ajuda de um equipamento "contrabandeado" -na época, ele pediu que seu tio mandasse no meio da mudança de seu patrão um barco usado da Suécia para que ele treinasse.
"Temos que ser realistas. A vela é complicada", diz Osório. "Não é um esporte de arena. Não adianta ficar sonhando", completa.
A FBVM não possui um centro de treinamento ou de excelência e precisa contar com a estrutura dos clubes. Com as conquistas olímpicas dos velejadores brasileiros, a procura por cursos de iniciação tende a aumentar.
O que muita gente não sabe, porém, é que não é necessário ter um barco para velejar. Além da maioria dos clubes emprestar equipamento para quem quer aprender, muitas classes precisam de tripulantes, pessoas que só precisam de vontade para competir. (FERNANDO ITOKAZU E TATIANA CUNHA)

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