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Clima e pódio movem vela contra elitização
Kevin Marcel Heidmann, da escola Yacht Club Santo Amaro, mesma que Robert Scheidt começou, veleja na represa de Guarapiranga
DA REPORTAGEM LOCAL
No Brasil, muitas pessoas comparam a vela ao automobilismo.
Num raciocínio simplista, é fácil
entender por quê. Os dois são
considerados esportes de elite no
país e são responsáveis por grandes conquistas internacionais.
O iatismo é a modalidade que
mais ouros olímpicos deu ao Brasil. Até hoje foram seis medalhas.
Dois itens principais compõem
essa receita de sucesso: a influência européia e o clima favorável.
Muitos iatistas têm ascendência
estrangeiras e iniciaram no esporte como um passo natural em famílias que contam com velejadores já há algumas gerações.
"A vela é uma atividade de tradição, veio com os estrangeiros,
pessoas que tinham raízes fora",
diz Lars Björkström, 60, sueco naturalizado brasileiro que conquistou o primeiro ouro no esporte
para o país, ao lado de Alex Welter, em Moscou-80, na tornado.
Mas em virtude principalmente
da situação econômica do Brasil,
o esporte não pôde ficar restrito a
descendentes de imigrantes.
"Os clubes, principais formadores de atletas, tiveram que se abrir
para outros sócios ou então não
sobreviveriam", explica o descendente de alemães Mário Buckup,
56, atual campeão brasileiro de
lightning e que praticamente foi
criado à beira da represa de Guarapiranga, em São Paulo.
O segundo fator que muitos
apontam como decisivo para o
sucesso da vela é o clima do Brasil,
que permite a prática do esporte o
ano todo, fato impensável nos
países que cederam o know-how.
"As condições naturais são excepcionais. Alguns países sofrem
com o inverno rigoroso e outros
nem mar têm", diz Björkström.
Mas esses dois ingredientes apenas não seriam suficientes. O fato
de a vela ter poucos praticantes no
país também ajuda. O intercâmbio entre os atletas é fundamental
para seu desenvolvimento.
A tentativa agora é turbinar a
fórmula com mais dois ingredientes: o incremento da estrutura para o alto nível e a popularização.
Com recursos da Lei Piva, a Federação Brasileira de Vela e Motor (FBVM) diz que já está conseguindo suprir o primeiro ponto.
"Montamos uma base na Europa, onde acontece a maior parte
das competições", afirma o presidente da federação brasileira,
Walcles Figueiredo de Osório.
Segundo o dirigente, antes da
medida, os atletas sofriam para
transportar os barcos e, quando
não conseguiam, para alugá-los.
"Agora não. Um atleta de ponta
tem um barco lá e não precisa ficar preocupado com isso."
Popularizar o esporte, porém,
parece ser uma tarefa mais complicada. Todos os barcos de classes olímpicas são importados.
O ouro de Björkström, por
exemplo, veio com a ajuda de um
equipamento "contrabandeado"
-na época, ele pediu que seu tio
mandasse no meio da mudança
de seu patrão um barco usado da
Suécia para que ele treinasse.
"Temos que ser realistas. A vela
é complicada", diz Osório. "Não é
um esporte de arena. Não adianta
ficar sonhando", completa.
A FBVM não possui um centro
de treinamento ou de excelência e
precisa contar com a estrutura
dos clubes. Com as conquistas
olímpicas dos velejadores brasileiros, a procura por cursos de iniciação tende a aumentar.
O que muita gente não sabe, porém, é que não é necessário ter um
barco para velejar. Além da maioria dos clubes emprestar equipamento para quem quer aprender,
muitas classes precisam de tripulantes, pessoas que só precisam de
vontade para competir.
(FERNANDO ITOKAZU E TATIANA CUNHA)
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