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Geração de prata inaugura escalada do vôlei
DA REPORTAGEM LOCAL
Um projeto gestado há pelo
menos 25 anos para alavancar
uma das modalidades mais praticados pelo país ajuda a explicar o
fenômeno do vôlei, único esporte
coletivo brasileiro a figurar no topo do pódio olímpico.
No fim dos anos 70, sob a gestão
de Carlos Arthur Nuzman, o vôlei
recebeu uma injeção de investimento. A seleção foi lapidada, viajou para competir e fazer intercâmbio e, em 82, apareceu na TV.
"A gente ganhou o Mundialito
no Rio, depois veio a prata no
Mundial [82] e na Olimpíada. A
partir daí, criou-se uma bola de
neve", recorda Montanaro.
"O público nos conheceu e gostou, atraiu mais investimentos
que levaram a mais resultados",
avalia o vice-campeão nos Jogos
de Los Angeles-1984 e hoje gerente de vôlei do Banespa.
A experiência da geração de
prata também ajudou a criar o
que pode até ser chamado de "escola brasileira de vôlei". Nos anos
80, o esporte se dividia entre a força dos europeus e a criatividade e
a velocidade dos asiáticos. O Brasil mesclou as duas escolas.
Hoje, o país conta com jogadores de até 2,12 m nas categorias de
base e 2,05 m no time adulto, que
têm bloqueio pesado e ataque potente, mas também consegue emplacar Giba, só 1,92 m, como melhor atacante dos Jogos de Atenas.
"Nós usamos a criatividade em
função da necessidade. Criamos
saques [viagem, hoje usado por
todos os países, e jornada nas estrelas], jogadas para superar nossas limitações", diz Montanaro.
O boom do vôlei, potencializado pela medalha de ouro em Barcelona-1992, também ajudou a
popularizar o esporte. Crianças
que só jogavam na rua ou na escola encontraram chance de entrar nos clubes, antes reduto da
classe endinheirada. O objetivo
deles era recrutar talentos.
Esse processo ajudou a criar
uma cadeia de desenvolvimento
dos atletas. Eles são recrutados
crus nas peneiras e trabalhados
pelos clubes. Os destaques têm
chance de, desde cedo, figurar nas
seleções estaduais e nas equipes
nacionais de base. Confirmadas
as apostas, ganham espaço nos times adultos dos clubes.
Reflexos do exemplo pontual
do líbero Escadinha, que saiu da
periferia de São Paulo, podem ser
vistos hoje nas seleções de base.
"É curioso o que tem acontecido. Os times têm fugido do estereótipo de que o vôlei é um esporte de classe média, elite. Agora, a
maioria é de atletas humildes",
diz Marcos Lerbach, técnico da
equipe masculina juvenil.
A excelência das seleções brasileiras, no entanto, ainda não se
reflete na estrutura dos clubes e
tem até prejudicado o nível das
equipes que atuam no país.
Com pouca verba para manter
um elenco competitivo em campeonatos caros, a maioria delas
não consegue segurar seus jogadores, cada vez mais seduzidos
por propostas do exterior.
Caminho diverso trilhou o vôlei
de praia. O Brasil já contava com
atletas de ponta quando a modalidade foi incluída no cardápio
olímpico, em Atlanta-1996.
O país possui as condições
ideais para o esporte -praias,
sol, regiões com pouco vento-,
que pode ser praticado durante o
ano todo. É, aliás, prática difundida de lazer no litoral, o que contribui para a sua popularização.
Em países europeus, por exemplo, os treinos migram para ginásios durante o inverno.
O Brasil possui também um
Circuito Brasileiro forte, que permite aos atletas terem jogos de alto nível durante o ano todo.
(MARIANA LAJOLO)
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