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Raiz nipônica ainda impulsiona o judô
DA REPORTAGEM LOCAL
Os ideogramas "ju" (suave) e
"do" (caminho), além de nomearem a única modalidade na qual o
Brasil sempre conquista medalha
desde os Jogos de Los Angeles-84,
servem também para explicar o
sucesso do país nos tatames.
Influenciado pelos efeitos da
imigração japonesa, o judô brasileiro nasceu e se desenvolveu tendo como modelo a técnica oriental em contraponto ao estilo baseado na força dos europeus.
A habilidade nipônica, que dominou o pódio de Atenas (conquistou oito dos 14 ouros e mais
duas pratas), é citada por atletas,
treinadores, dirigentes e historiadores como um dos fatores do sucesso dos judocas nacionais.
"Há o lado histórico. Em razão
da imigração japonesa, conseguimos nos formar calcados em uma
qualidade técnica muito apurada", afirma o coordenador técnico da CBJ (Confederação Brasileira de Judô), Ney Wilson.
"O europeu busca ganhar na
força, pegar na perna. O judô brasileiro, que é mais parecido com o
japonês, usa mais a técnica", analisa Leonardo Eduardo, campeão
mundial júnior, cuja iniciação foi
feita por um professor japonês.
Outro discípulo da escola oriental trouxe um bronze de Atenas.
"Foi o estilo que me ensinaram,
que meus mestres disseram que
era o mais certo, que é mais natural para mim e que acho ser o
mais eficiente, embora respeite o
europeu", diz Leandro Guilheiro.
No início, a prática estava restrita à comunidade, em academias
que eram comandadas por "sensei" (professor em japonês).
"No início, os japoneses boicotavam mesmo a participação dos
não-orientais. Foi somente na década de 40 que os ocidentais passaram a praticar mais", declara
Stanley Virgílio, pesquisador e
autor de sete livros sobre judô.
Ele aponta que a influência européia começa a ser sentida no
país, mas que o judô nacional ainda é o que mais lembra o japonês.
A abertura aconteceu em academias como a de Massao Shinohara, que começou a dar aula perto
de sua casa porque conhecidos japoneses haviam pedido. O judô
não era a fonte de renda principal.
Um dos alunos de Shinohara foi
o maior judoca brasileiro da história, Aurélio Miguel, que conquistou o ouro em Barcelona-1992 e o bronze em Atlanta-1996.
O sucesso desta geração despertou o interesse dos clubes, que
passaram a investir no esporte.
As opções se ampliaram, algumas escolas passaram a incluir o
judô em seu currículo, e os descendentes de japoneses passaram
a ter novos colegas nos tatames.
"Hoje em dia 70% dos alunos
são ocidentais e 30%, orientais",
calcula o professor Shinohara.
"A maioria, atualmente, é mesmo de não-descendentes de japoneses", concorda Mario Tsutsui,
ex-membro da seleção brasileira e
coordenador de judô do São Caetano, clube de vários atletas da
equipe olímpica, como Carlos
Honorato e Edinanci Silva. "Por
causa do sucesso dos últimos
anos, todo mundo já ficou mais
familiarizado com o esporte."
Da seleção que competiu na
Grécia, apenas 3 dos 12 integrantes têm ascendência japonesa.
Além da ampliação do leque de
opções, outro fator que permitiu a
popularização foi a filosofia. "O
judô deixa o aluno mais disciplinado. E isso é um chamariz para
os pais", aponta Mario Tsutsui.
De acordo com a CBJ, em todos
os 27 Estados do país há praticantes registrados. "Da quantidade
acabamos tirando a qualidade",
afirma Wilson. "A renovação acaba sendo constante."
(EDUARDO OHATA E FERNANDO ITOKAZU)
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