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FUTEBOL
A outra cara do Brasil
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO
Concordo com o que escreveu aqui Mário Magalhães
sobre o caráter simbólico da medalha de prata obtida pelo futebol
feminino. De fato, aquela seleção
tem a cara do Brasil -embora,
como bem observou, o Brasil nem
sempre tenha a cara dela.
No mesmo sentido, mas de maneira bastante diferente, creio
que a seleção masculina de vôlei
também tem a cara de um Brasil
que todos gostaríamos de ver
-um Brasil também potencial,
que nem sempre se concretiza. É o
Brasil não apenas do "talento",
mas do planejamento, da preparação e do método, que valoriza o
processo e não apenas o episódio
fortuito. A seleção de Bernardinho não é, como se sabe, um caso
isolado, um fenômeno inexplicável ou, na imagem célebre de Karl
Marx, um raio em céu azul.
O vôlei brasileiro é um caso de
sucesso que veio conquistando
objetivos e galgando degraus ao
longo do tempo. Se a medalha de
prata em Los Angeles já tinha
atrás de si um esforço de modernização do esporte, de atração de
investimentos e de busca de objetivos técnicos, de lá para cá, deu-se algo raro no país: continuidade, persistência no aperfeiçoamento e aposta de longo prazo.
A presença de Bernardinho à
frente da equipe é a confirmação
desse processo, ele que estava na
equipe de prata de Los Angeles. É
exigente, metódico e moderno.
Não se trata apenas de um sujeito
durão que cobra desempenho
exaustivamente. Trabalha em
equipe, investe em tecnologia e
informação, e é capaz de puxar
um grupo como poucos.
Certa vez perguntei a Bernardinho o que faria a diferença num
quadro extremamente competitivo como o do vôlei, no qual o Brasil, apesar do nível de excelência,
tinha lá algumas desvantagens,
como a altura dos jogadores. Queria saber o que levava a "sua" seleção brasileira a sair constantemente vitoriosa nesse cenário de
nivelamento, no qual as conquistas são freqüentemente apertadíssimas, por poucos pontos -como demonstrou de modo espetacular aquele histórico "tie break"
em que o Brasil bateu a Iitália por
incríveis 33 a 31.
Bernardinho respondeu que era
a consciência dos jogadores de
que fizeram tudo, mas tudo mesmo, o que poderia ser feito para se
preparar. Que nada além restava,
que não houve nenhuma concessão em detrimento da melhor
preparação. Isso, segundo ele,
conferia ao time aquele algo mais
de segurança e tranquilidade
mental na hora de decidir.
O Brasil do vôlei, dirão alguns, é
na verdade a cara da elite do Brasil. Não é, mas antes fosse. Quer
dizer: seria ótimo se a elite do país
tivesse a cara dessa seleção.
Um leitor observou que não é
justo cobrar do governo federal
-como fiz aqui na última coluna- medidas de saneamento do
futebol e esquecer que o Ministério Público tem à sua disposição
elementos para investir contra dirigentes suspeitos e não o faz. Fica
registrado o protesto.
Vacilo santista
O Santos achou que já tinha
vencido a partida contra o Cruzeiro e entregou o empate. O time, que apesar de suas vulnerabilidades, ainda é, a meu ver, o
melhor do campeonato, não
pode se esquecer daquele antigo slogan da saudosa "Buzina
do Chacrinha" -"um programa que acaba quando termina". O jogo de futebol também
é assim.
Campeonato feminino
Galvão Bueno anunciou na semana passada um projeto envolvendo o canal por assinatura
SporTV para ajudar a montar
um campeonato de futebol feminino no país. Tomara que
não seja entusiasmo de momento e de fato aconteça. Mas
quem teria mesmo a obrigação
de se mexer é a CBF -embora
isso talvez seja querer demais.
E-mail mag@folhasp.com.br
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