São Paulo, terça-feira, 31 de agosto de 2004

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FUTEBOL

A outra cara do Brasil

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO

Concordo com o que escreveu aqui Mário Magalhães sobre o caráter simbólico da medalha de prata obtida pelo futebol feminino. De fato, aquela seleção tem a cara do Brasil -embora, como bem observou, o Brasil nem sempre tenha a cara dela.
No mesmo sentido, mas de maneira bastante diferente, creio que a seleção masculina de vôlei também tem a cara de um Brasil que todos gostaríamos de ver -um Brasil também potencial, que nem sempre se concretiza. É o Brasil não apenas do "talento", mas do planejamento, da preparação e do método, que valoriza o processo e não apenas o episódio fortuito. A seleção de Bernardinho não é, como se sabe, um caso isolado, um fenômeno inexplicável ou, na imagem célebre de Karl Marx, um raio em céu azul.
O vôlei brasileiro é um caso de sucesso que veio conquistando objetivos e galgando degraus ao longo do tempo. Se a medalha de prata em Los Angeles já tinha atrás de si um esforço de modernização do esporte, de atração de investimentos e de busca de objetivos técnicos, de lá para cá, deu-se algo raro no país: continuidade, persistência no aperfeiçoamento e aposta de longo prazo.
A presença de Bernardinho à frente da equipe é a confirmação desse processo, ele que estava na equipe de prata de Los Angeles. É exigente, metódico e moderno. Não se trata apenas de um sujeito durão que cobra desempenho exaustivamente. Trabalha em equipe, investe em tecnologia e informação, e é capaz de puxar um grupo como poucos.
Certa vez perguntei a Bernardinho o que faria a diferença num quadro extremamente competitivo como o do vôlei, no qual o Brasil, apesar do nível de excelência, tinha lá algumas desvantagens, como a altura dos jogadores. Queria saber o que levava a "sua" seleção brasileira a sair constantemente vitoriosa nesse cenário de nivelamento, no qual as conquistas são freqüentemente apertadíssimas, por poucos pontos -como demonstrou de modo espetacular aquele histórico "tie break" em que o Brasil bateu a Iitália por incríveis 33 a 31.
Bernardinho respondeu que era a consciência dos jogadores de que fizeram tudo, mas tudo mesmo, o que poderia ser feito para se preparar. Que nada além restava, que não houve nenhuma concessão em detrimento da melhor preparação. Isso, segundo ele, conferia ao time aquele algo mais de segurança e tranquilidade mental na hora de decidir.
O Brasil do vôlei, dirão alguns, é na verdade a cara da elite do Brasil. Não é, mas antes fosse. Quer dizer: seria ótimo se a elite do país tivesse a cara dessa seleção.
 
Um leitor observou que não é justo cobrar do governo federal -como fiz aqui na última coluna- medidas de saneamento do futebol e esquecer que o Ministério Público tem à sua disposição elementos para investir contra dirigentes suspeitos e não o faz. Fica registrado o protesto.

Vacilo santista
O Santos achou que já tinha vencido a partida contra o Cruzeiro e entregou o empate. O time, que apesar de suas vulnerabilidades, ainda é, a meu ver, o melhor do campeonato, não pode se esquecer daquele antigo slogan da saudosa "Buzina do Chacrinha" -"um programa que acaba quando termina". O jogo de futebol também é assim.

Campeonato feminino
Galvão Bueno anunciou na semana passada um projeto envolvendo o canal por assinatura SporTV para ajudar a montar um campeonato de futebol feminino no país. Tomara que não seja entusiasmo de momento e de fato aconteça. Mas quem teria mesmo a obrigação de se mexer é a CBF -embora isso talvez seja querer demais.

E-mail mag@folhasp.com.br

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