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FUTEBOL
Azar uma ova
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
"A beleza do futebol não
está imune a azares."
Foi assim que a Fifa respondeu
à Folha sobre a morte de Serginho
no duelo São Paulo x São Caetano pelo Campeonato Brasileiro.
Não tenho a menor dúvida de
que o futebol é bonito, mesmo
após mais essa tragédia. Mas
azar? Está bem claro que não foi
falta de sorte a causa do óbito.
A entidade máxima do futebol
teve que rebolar no ano passado
para explicar a morte de Foé em
uma de suas competições -o
atendimento com eletrochoque
oferecido ao camaronês demorou
o dobro do tempo do atendimento com desfibrilador a Serginho.
Mas, independentemente do
tempo gasto na tentativa de ""ressuscitação" de atletas, já são tantas ""fatalidades" recentes no futebol que o esporte está ficando
mais fatal que o alpinismo ou o
automobilismo -há dez anos
não morre um piloto na F-1.
Foé, Fehér e Serginho são casos
que tiveram muita repercussão
porque aconteceram em jogos de
grande visibilidade. Mas, se atletas de times de ponta, submetidos
a inúmeros testes e atuando em
estádios de porte, têm o ""azar" de
morrer em campo, qual será a
""sorte" dos milhões que não têm
acesso a Incor ou Morumbi etc?
O futebol europeu, como era de
esperar, já está alguns anos na
frente no que se refere à descoberta de problemas cardíacos. Cardiologistas do Milan notaram no
meio da década passada, por
exemplo, uma tendência a problemas desse tipo em atletas africanos. Em 1996, ano em que a
pesquisa foi revelada, Kanu surpreendeu o mundo ao quase encerrar uma vitoriosa carreira. A
Inter descobriu que ele tinha sérios problemas na artéria aorta.
Naquele ano, outros dois atletas
nigerianos morreram em decorrência de problemas no coração.
O futebol italiano descobriu
ainda outros atletas africanos
com disfunções cardíacas -o nigeriano Onyabor Monye Precious
foi rejeitado pela Reggiana por isso. O Milan chegou a vetar a contratação de um jogador nigeriano
de 17 anos que sofria de arritmia.
Por trás dessa preocupação
crescente com o coração, a mola
mestra do futebol contemporâneo: dinheiro. Alguns clubes acreditam que os atletas são seus patrimônios e fazem exames minuciosos para não investir em jogador ""condenado" -o senegalês
Fadiga foi descartado pela Inter
por isso. Outros clubes assumem o
risco de ter um jogador com problema cardíaco deixando o
""azar" de uma possível morte em
suas mãos -Fadiga encontrou
espaço no Bolton assim. A ""mercadoria com defeito" está em segundo plano nas duas ocasiões.
A Fifa, que não têm jogadores
sob contrato, só trata de lamentar
as sucessivas mortes em campo.
Antes de impor normas para estádios, para gramados, para uniformes e para um monte de amenidades, poderia exigir de clubes e
seleções atestado completo de
saúde dos atletas e punir quem escalar um jogador sem condição.
Se ""lavou as mãos" no caso Foé,
nem quer pôr um dedo perto de
Serginho. O futebol dele não primava pela beleza, mas Serginho
não estava imune ao descaso de
quem o deixou jogar doente.
A sorte de Maradona
O ex-meia argentino, um dos que mais contribuíram para a beleza
do futebol, completou ontem 44 anos de vida na clínica em Cuba onde está hospedado e onde tenta se recuperar de sua dependência química. Seu coração, quase tão dilatado quanto o de Serginho nos últimos meses, teve a sorte de suportar overdose, hipertensão e miocardiopatia. Dieguito festejou o aniversário com as filhas (Dalma e Giannina), os pais (Diego e ""Tota") e as irmãs (Ana e Rita).
O azar de Van Basten
O ex-atacante holandês, outro que contribuiu muito para a beleza do
futebol, completa hoje 40 anos em seu país, onde treina a seleção. Seu
tornozelo, vítima de várias cirurgias, teve o azar de ser tratado por
pelo menos um médico que o lesionou mais que qualquer zagueiro.
E-mail rbueno@folhasp.com.br
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