São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 2000

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Vice-presidente do Clube dos 13, dirigente ataca governador, televisão, agride jornalista e toca feridos de campo

Eurico vira o protagonista de sua "criação"

DO ENVIADO AO RIO

E DA SUCURSAL DO RIO

O deputado federal Eurico Miranda, presidente eleito do Vasco e vice-presidente do Clube dos 13, acabou virando o grande protagonista da Copa João Havelange, versão 2000 do Brasileiro criada exatamente pela entidade que reúne os grandes times do país.
O dirigente, ensopado de suor e agredindo jornalista, entrou no campo após a queda de grades e torcedores em São Januário cercado por cerca de 20 policiais militares -alguns torcedores se revoltaram contra ele.
"Quem manda aqui sou eu", dizia o dirigente, que, em vez de acudir os torcedores feridos no gramado, buscava mais tirá-los de campo para reiniciar a partida.
"Se você pode andar, cai fora. Se não pode andar, fica aí", disse o dirigente vascaíno aos torcedores.
Esbaforido, dava ordens a todos que o cercavam, tentando mostrar que resolveria o problema e retomaria a partida.
"Vem cá, meu filho, vai para lá", disse a um garoto sentado no chão à espera de atendimento.
Revoltado com a possibilidade de o jogo não continuar, como queria o time do São Caetano, passou a atacar os torcedores paulistas, que ele nem deixou ter acesso ao estádio ontem.
"O que os paulistas estão falando? Não tem nenhum paulista aqui", declarou Eurico Miranda, que elogiou o trabalho de segurança e de socorro destacado para a decisão de ontem.
Ele ameaçou jornalistas que lhe faziam perguntas incômodas.
"Se isso tivesse ocorrido no campo do São Caetano, o jogo continuaria?", perguntou um repórter do "Jornal dos Sports", que é do Rio de Janeiro.
"Você é um idiota", berrou Eurico, partindo para agredir o jornalista, que se esquivou.
Como não o alcançava, o dirigente vascaíno incitou um linchamento. "Pega ele, pega", ordenava aos seguranças do Vasco e PMs que o cercavam.
Apesar de levar alguns safanões, o repórter conseguiu escapar.
Em meio à confusão no estádio de São Januário ontem, o dirigente falou que a Rede Globo estaria querendo o adiamento da partida. ""Vai dar problema para a televisão. Tem emissora que está com medo do que vai acontecer com sua programação", disse.
Eurico, que já havia cancelado uma partida nas semifinais contra o Cruzeiro -o jogo passou de quinta-feira para sábado para os jogadores do Vasco não atuarem duas vezes em menos de 48 horas-, tentou intimidar o árbitro Oscar Roberto Godoi, para que ele desse prosseguimento ao jogo.
"A segurança está à altura da partida. Os socorristas estão à altura", disse o dirigente vascaíno.
Quando uma ordem do governador do Rio, Antony Garotinho, para cancelar a partida foi anunciada, Eurico protestou e atacou com veemência o político.
"O governador é um frouxo, incompetente. Ele manda no coronel (militar destacado para cuidar da segurança do estádio), não manda no Vasco. Ele fica num gabinete com ar condicionado, fazendo preces para Jesus", disse.
Eurico disse que o coronel responsável pela segurança do estádio deu condições de jogo e que Godoi estaria decidido a realizar a partida, mas a ordem de Garotinho mudou os planos do juiz.
O dirigente deve ser processado agora pelo Estado.
Eurico defendia que os torcedores presentes ao estádio queriam a continuidade da partida. ""A massa quer o jogo", disse.
O líder vascaíno autorizou queima de fogos ontem e a entrada dos jogadores em campo após a partida ter sido cancelada para comemorar o título da Copa JH.
O dirigente não tem intenção de realizar outra partida, uma vez que entende que o Vasco é campeão -o 0 a 0 daria o título do torneio ao clube carioca.
"O Vasco já tinha sido campeão em Minas Gerais, contra o Cruzeiro. O jogo hoje foi só formalidade. Acho que eles nunca mais voltarão a jogar com o Vasco", disse, menosprezando o São Caetano.
A Copa JH teve a presença firme de Eurico Miranda em seu nascimento e epílogo. (FV, RGO e SR)



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