São Paulo, terça-feira, 31 de dezembro de 2002

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BASQUETE

Feliz ano velho

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Se assombra nos lances do jogo, tantas as possibilidades de desenho, o basquete não costuma surpreender no desfecho do jogo. É um esporte transparente. O time mais alto, forte, ágil e habilidoso quase sempre triunfa.
Mas o sistema dos campeonatos de vez em quando afronta essa lógica, anima as coisas.
Nos EUA, por exemplo, disputa-se até quatro partidas por semana. A massacrante rotina de treino-jogo-viagem inviabiliza os ajustes. Assim, como acontece nas Copas do Mundo de futebol, é muito frequente uma equipe ou um jogador desandar, esquecer o prumo, perder o eixo.
É o caso do Los Angeles Lakers, potência que nos últimos anos dominou o torneio mais acirrado do mundo e que hoje parece clamar aos fãs pelo tiro de misericórdia.
A equipe californiana ocupa a 20ª colocação entre os 29 participantes da NBA, com somente 13 vitórias depois de 32 rodadas, uma campanha ainda mais patética do que a de times patéticos como Atlanta e Washington.
O aproveitamento, 40%, é idêntico ao do vizinho, os Clippers, eterno saco de pancadas da liga. Não chega à metade do índice do Dallas (86%), o líder na tabela.
Se o início claudicante (3v e 9d) já era esperado, dada a ausência por contusão de Shaquille O'Neal, o torcedor não previu que o desempenho seguiria medíocre (10v e 10d) depois da volta dele. Nem que fosse justamente o superpivô o responsável pelo "engasgo".
O'Neal nunca foi um jogador completo na marcação. Seus mais de 140 kg atrasam-lhe na volta para a quadra defensiva, deixando sua equipe exposta a contra-ataques. Essa fenda foi explorada pelo Houston de Hakeem Olajuwon, que apostou corrida contra o Orlando, de O'Neal, na decisão do campeonato de 94/95.
No torneio passado, a admirável máquina ofensiva do Sacramento mostrou que o gigante também não marca o "pick and roll". Para guardar energias, ele geralmente sabota as rotações que a defesa deve executar para acompanhar os corta-luzes.
Ao longo da trajetória do tricampeonato, os Lakers desdobraram-se para cobrir esses buracos. Mas a conta ficou salgada demais neste fim de ano, talvez porque os coadjuvantes já sintam o peso da idade -Rick Fox tem 33 anos; Robert Horry, 32; Brian Shaw, 36.
Isso fica evidente pelos tiros de três pontos. Agrupado em torno de O'Neal sob o aro, o time permite mais de seis cestas de longa distância por jogo, um crescimento de 30% em relação a 01/02.
Desde que O'Neal voltou, os adversários acertaram mais de 42% dos arremessos desse tipo. Um vexame. Basta lembrar que apenas 12 dos mais de 400 jogadores da NBA possuem tal precisão.
Na última temporada, os Lakers exibiam a melhor defesa em FG% (precisão nos arremessos). Em 02/03, ficam em 15º. Se possuíam a 9ª defesa menos vazada, agora têm a 22ª (96,9 pontos).
Reconstruir o sistema de marcação encabeça a lista de resoluções de fim de ano do técnico Phil Jackson. Ele precisará de todo o arsenal zen-budista para destruir a barreira psicológica que tomou conta da equipe. Não será fácil.
Se consideradas as "notas de corte" históricas, os Lakers terão de ganhar 30 das 50 partidas restantes para avançar aos playoffs, 40 para mandar em seu ginásio o primeiro "round" dos mata-matas e 50 para repetir a classificação do campeonato passado.

NBA 1
Finalmente o brasileiro poderá ver Nenê em ação. A ESPN International transmite na noite desta sexta-feira o jogo Denver x Seattle.

NBA 2
Mas não espere muito. A direção do Denver fez (e faz) de tudo para que o time de Nenê acabe na lanterna, o que ampliaria suas chances de "draftar" o fenômeno adolescente LeBron James em 2003.

NBA 3
Quer ficar por dentro da liga e não lê inglês? Confira o jovem site www.rebote.blogspot.com, diário minucioso, nada deslumbrado.

CQD
"Quero checar se está mesmo tudo certo para que Lula assuma a seleção tão logo Hélio Rubens saia." O bom Noel esperou a sua semana e atendeu à indagação-pedido da coluna de 22 de janeiro.

E-mail melk@uol.com.br



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