São Paulo, sexta-feira, 31 de dezembro de 2004

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Luxemburgo chora e leva 'profissionalismo' ao Real

Negociação de 7 dias faz o maior clube do mundo descobrir o técnico mais vitorioso no Brasil, que estabelece marco na profissão e prevê unir galácticos

MÁRVIO DOS ANJOS
PAULO GALDIERI
RICARDO PERRONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma fulminante negociação feita em sete dias colocou Vanderlei Luxemburgo, 52, uma incógnita para a maioria dos espanhóis, no comando do Real Madrid, mais badalado time do mundo.
Ontem, em sua apresentação, falou, em portunhol, que vai levar profissionalismo à equipe mais recheada de craques do planeta.
"Tenho quatro fatores fundamentais: disciplina, união, profissionalismo e trabalho", disse na entrevista coletiva, de 30 minutos.
Sua chegada ao clube estabelece um marco: nunca um técnico brasileiro esteve no comando de um time europeu tão poderoso. Luxemburgo poderá agora realizar o sonho de "abrir as portas" para os treinadores do país.
O início das atividades como técnico do Real foi tão rápido quanto a ação coordenada por empresários para levá-lo ao clube. Menos de 24 horas após ouvir que estava contratado, Luxemburgo desembarcou em Madri.
Anteontem, por volta das 18h, chorou copiosamente ao receber a informação de que se transformara no primeiro brasileiro a dirigir o maior clube do século passado, segundo a Fifa.
O último dia de contatos com os espanhóis começou cedo para Marcel Figer, um dos empresários do treinador. Ele conversou das 5h às 18h com os dirigentes. Foram mais de 50 telefonemas.
Figer procurou o Real para sugerir Luxemburgo no último dia 22. Na véspera, recebera uma procuração para cuidar dos contratos do ex-técnico da seleção.
"Depois que o Real perdeu para o Sevilla (1 a 0) senti que era hora de apresentar o Vanderlei a eles."
O maior obstáculo foi convencer a diretoria a apostar em um técnico pouco conhecido por ela.
Ramón Martinez era quem mais sabia do trabalho do brasileiro. Responsável pela observação de jogadores na América do Sul, ele defendeu a contratação.
"A dificuldade existiu porque eles estão acostumados a analisar só o trabalho dos jogadores brasileiros, e não dá para editar uma fita com os melhores momentos do Luxemburgo", disse Figer.
O estilo do treinador começará a ser conhecido pelo Real hoje, quando comanda o seu primeiro treino. Ontem ele apenas acompanhou o trabalho da equipe.
A estréia será tão atípica quanto a contratação de um brasileiro para treinar o clube, num jogo de apenas sete minutos. Será quarta-feira, contra o Real Sociedad, jogo pelo Espanhol, duelo interrompido por causa de uma ameaça de bomba no estádio Santiago Bernabeu, que não se confirmou.
No dia 9, ele comandará pela primeira vez a equipe numa partida de 90 minutos, no clássico contra o Atlético de Madri.
Luxemburgo chegou à cidade de seu novo time às 13h03 (horário local), no mesmo vôo em que estavam Ronaldo e Roberto Carlos, agora seus comandados.
"O verdadeiro futebol está chegando", disse o lateral da seleção.
A apresentação oficial no Santiago Bernabeu ocorreu às 14h30, quando o vice-presidente do Real, Emilio Butragueño, e o diretor de futebol, Arrigo Sacchi, anunciaram o nome do ex-santista como o 40º técnico da história do Real.
"Das diferentes opções que tínhamos, pensamos que Vanderlei é a melhor para sairmos da situação atual", disse Butragueño.
Na entrevista, o treinador misturou palavras em português e espanhol. Falou sobre a possibilidade de trabalhar com o atacante Robinho. "Robinho é o melhor jogador em atividade no futebol brasileiro. Mas jogar na Europa é diferente, é preciso ir com calma."
Às 17h20, Sacchi e Butragueño o apresentaram ao elenco. O primeiro a cumprimentá-lo foi Zidane. Os preparadores físicos da equipe dirigiram o treino. Luxemburgo assume hoje com o auxiliar Marco Moura Teixeira e o preparador Antônio Mello.


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