São Paulo, segunda-feira, 01 de julho de 2002

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FOLHATEEN EXPLICA

Seca, corrupçãp e problemas econômicos são os principais aliados da desnutrição

Por que a população da África continua a morrer de fome?

PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO

Não é à toa que a ONU, a Organização das Nações Unidas, vem definindo a luta contra a fome no mundo como um enorme fracasso. Nosso planeta produz mais alimentos do que o necessário para atender as necessidades de seus habitantes, mas apenas no sul da África 13 milhões de pessoas correm risco de morrer de fome, de acordo com agências de auxílio humanitário. Em Angola, mais da metade da população está desnutrida.
A principal causa é a seca severa, mas outros fatores que agravam a tragédia são as enchentes -que assolam a região em certas épocas-, a instabilidade econômica e a recusa dos países desenvolvidos em transferir tecnologia ao continente, além da corrupção, da má administração, das guerras civis e da devastação provocada pela Aids.
Em 2001, ao menos 3 milhões de pessoas morreram por causa da Aids -a maioria delas na África subsaariana.
A comunidade internacional continua a relegar a África: a Cúpula da Alimentação da ONU (realizada no início de junho, em Roma), um encontro com líderes de mais de 180 países, não conseguiu nem aprovar a criação de um código de conduta sobre o "o direito à alimentação adequada para todos". A União Européia, o Vaticano e países em desenvolvimento endossaram o conceito, mas os EUA ainda se opõem. A medida dificultaria a manutenção de embargos econômicos como aqueles contra o Iraque e Cuba, que castigam a população sem afetar os governantes.
Não há um consenso entre os governos sobre o que deve ser feito para combater a fome, mas é certa a necessidade de desenvolvimento agrário. Para isso, a ONU pedia US$ 24 bilhões adicionais em auxílio -a proposta foi rejeitada pelos EUA e pela União Européia.
A África tem o maior número de pobres do mundo, quase metade de sua população -cerca de 300 milhões de pessoas- vive com menos de US$ 1 por dia. A quantidade de africanos que vive em extrema pobreza cresceu 25% entre 90 e 99. A manter-se a tendência, a pobreza e a desnutrição vão piorar apesar de a ONU ter adotado como meta reduzir o número de famintos pela metade até 2015.
Ao descrever a morte de quatro dos seis filhos de um angolano, um membro da ONG Médicos Sem Fronteiras disse que "imaginar que tantas crianças tenham morrido por causa de algo ridículo como a falta de alimentos deveria enfurecer qualquer um". E as outras duas crianças estão doentes.
Como ponderou Andrew MacMillan, diretor de operações da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação, "só falta vontade política". Mas não é pouco...



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