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CAPA
Uso de uma escrita alterada em blogs e em chats não preocupa educadores
LÍNGUA CIFRADA
Antônio Gaudério/Folha Imagem
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A blogueira Erika de Oliveira com o computador mostrando
o "template" do seu blog |
RICARDO LISBÔA
DA REPORTAGEM LOCAL
Nem precisa ser poliglota para falar
várias línguas. Só com o português
já dá para se comunicar de um monte
de jeitos diferentes. Afinal, o modo como a gente fala com pessoas da família
já é diferente daquele que se usa com
um desconhecido na rua ou com o diretor do colégio.
Para escrever é a mesma coisa. Só
que, em tempos de internet, isso radicalizou. "Engolir" algumas letras, pontuação, acentuação gráfica e colocar
vogais de acordo com a entonação que
se quer dar à palavra ficou muuuuito
comum. No princípio, era por conta
do programa mIRC, que permitia o
bate-papo bem antes de os chats se espalharem pela internet. A falta de
acentos e a agilidade da conversa produziu, a partir dali, uma série de alterações na linguagem usada na rede.
Mas isso não corre o risco de virar
linguagem "oficial"? O jeito de descobrir foi perguntar como seus usuários
escrevem quando estão na escola, que
tem outras regras.
"Escrever desse jeito é mais fácil e rápido. Também temos preguiça de escrever direito", defende Erika de Oliveira, 15, que mantém há seis meses o
blog sweetdreamsalone.weblogger.com.br, com todos os "mt", "qq" e
"naum" a que tem direito.
Ela diz que também usa essa linguagem em mensagens automáticas pela
internet e em salas de bate-papo, mas,
em trabalhos escolares, nunca. "Não
escrevi assim na escola, mas, se tivesse
escrito, acho que os professores não
iriam gostar muito", brinca ela.
Carla Minamihara, 16, também defende a agilidade e a rapidez da escrita
"mircada". "Quando teclamos do jeito
informal, não esquentamos a cabeça
com normas gramaticais, acentos etc.
A linguagem "mircada" acabou se tornando universal. Falando de um jeito
ou de outro, seremos entendidos. Mas
é claro que, para cada situação, há uma
linguagem diferente."
Dona do blog nkcarlinha.weblogger.com.br, Carla se sente à vontade para usar "emoticons" (as carinhas
feitas com sinais gráficos, como : ( e : ])
dentro de seus textos "bloguísticos".
"Às vezes, ficamos sem palavras e, para expressar o que sentimos ou até
mesmo para não deixar o assunto
morrer, as carinhas são bem úteis."
Pela força do hábito, Carla revela que
já escreveu alguns "pq" na escola, mas
conseguiu se corrigir a tempo.
Como a maioria dos blogs tem a função de diário aberto, seus escritores, os
blogueiros, colocam nele a linguagem
mais informal possível, a que conversam com os seus amigos.
Erika, por exemplo, diz que criou
seu blog para desabafar quando não
tem amigos por perto e para expor
suas idéias, opiniões e críticas. Já Carla
assume que entrou nessa porque era
uma grande moda no ano passado,
quando ela começou, mas hoje serve
para que as pessoas a conheçam melhor e para aqueles que estão longe ficarem sabendo o que se passa no cotidiano dela.
A professora de português do colégio Bandeirantes Lenira Buscato afirma que não é usual encontrar os termos típicos da internet em textos escolares. "Há uns três anos, era mais frequente encontrar um "naum" em prova, mas, atualmente, não. Basta uma
conversa para que os alunos que ainda
não sabem aprendam a discernir entre
o que é produzido para a internet e o
que é utilizado em sala de aula", diz.
Questão de moda
É certo que se leva um susto quando
se vê pela primeira vez um texto escrito
em bloguês. Por conta disso, há quem
se canse da afetação de tanto "cumigu"
para cá e "bjaum" para lá.
Já houve até campanha, promovida
por blogs que utilizam um português
mais formal, contra a linguagem "mircada". Sem precisar chegar a ser um
"antibloguês", o estudante Guilherme
Pastore, 13, acha que esse tipo de linguagem não passa de modismo. "Já escrevi daquele jeito; hoje, acho assassinato da língua portuguesa. Isso começa com uma idéia de digitar mais rápido, mas um vê o outro escrevendo daquele jeito e acaba virando uma questão de moda", considera.
Guilherme, que já desenvolveu vários sites, vai ainda mais fundo em sua
crítica: "O maior empobrecimento não
é tirar ou trocar letras de uma palavra,
o pior é o empobrecimento da estrutura do texto".
Seja moda, seja o começo de uma nova linguagem, o que importa é não
misturar as coisas para não ter complicações na escola. Afinal, a língua escrita é bem mais lenta que a oral e, até que
certeza apareça numa gramática como
"ctza", vai demorar um bocado.
"Fmz"?
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