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Eu encarei Marilyn, o anticristo
Escritora sai à caça do ídolo freak
por três dias, no Rio e em São Paulo
MAYRA DIAS GOMES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
No amor de uma fã reside
uma força violenta:
uma conexão real entre
o querer e o poder, um conchavo com as leis do universo. Me
perguntam como faço para
chegar perto dos meus ídolos:
para quem dou, quanto pago
para os seguranças. Não acreditam quando digo que não é assim que funciona e que tenho
sorte. Sorte e um bom planejamento.
Dizem que sou groupie, mas
se me vissem no backstage não
acreditariam. Não sei controlar
a tremedeira, o coração acelerado e a ausência da fala. Não
incomodo e só falo quando sinto que devo.
Minha sorte é acreditar nos
meus sonhos. O fato de sentir-me abençoada e de saber que
sou capaz. Não de correr atrás
de um monte de homens, mas
sim de fazer o que eu quiser da
vida. Essa semana estabeleci
uma meta: conhecer o Marilyn
Manson.
Venho o perseguindo há três
dias sem encontrá-lo. Nunca
havia visto um rockstar tão recluso, intocável e cercado. Seu
segurança particular ameaça
pessoas de morte. Não é brincadeira, isso realmente aconteceu. No backstage, pulseiras e
passes são ignorados. Não colocam homens para dentro e não
respeitam ninguém.
Quando o roqueiro passa, é
melhor sair da frente! Estava
começando a ficar frustrada, a
achar que não devia ter dito para ninguém que estava cobrindo a estadia dele no Brasil. Dediquei todas as minhas forças a encontrá-lo, pois tinha certeza
de que faria uma entrevista incrível. Afinal, li "The Long Hard
Road Out of Hell", sua biografia, de cabo a rabo.
Ele escreve tão bem quanto
canta e compõe. Tem 1.001 utilidades. Foi na exposição de
suas pinturas lúgubres que finalmente realizei meu sonho.
Ela se chamava "As Flores do
Mal".
Quando tive a oportunidade
de vê-lo na minha frente, acompanhado pela namorada de 19
anos e cercado por jornalistas,
não pude deixar passar.
-Manson! Você é fã do Baudelaire? Se inspirou nos temas
do livro dele para pintar?
-Sim- ele respondeu, com
uma expressão surpresa. -"As
Flores do Mal" é meu livro preferido, falei.
-O meu também.
E assim consegui sua atenção. Numa coletiva inesperada,
consegui conversar com aquele
que sempre considerei gênio.
Às vezes perguntava coisas para quais ele não tinha resposta.
Como a razão por qual seus
quadros não têm fundo.
-Manson, o que você está
ouvindo?
-Yeah Yeah Yeahs e Jeff
Buckley, ele respondeu.
Pensa que ouvi-lo falar de
amor, de sentimentos e de fé
me impressionou? Não tanto
quanto o que ele anda ouvindo.
E depois me pergunto por que
sua música mudou tanto.
Olhando para Evan Rachel
Wood ao seu lado, tive um palpite. Talvez ele devesse andar
com alguém da sua idade. Mas
droga... É a minha idade também. E agora?
MAYRA DIAS GOMES , 19, é autora do romance
"Fugalaça" (ed. Record)
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