São Paulo, segunda-feira, 01 de outubro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Eu encarei Marilyn, o anticristo

Escritora sai à caça do ídolo freak por três dias, no Rio e em São Paulo

MAYRA DIAS GOMES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

No amor de uma fã reside uma força violenta: uma conexão real entre o querer e o poder, um conchavo com as leis do universo. Me perguntam como faço para chegar perto dos meus ídolos: para quem dou, quanto pago para os seguranças. Não acreditam quando digo que não é assim que funciona e que tenho sorte. Sorte e um bom planejamento.
Dizem que sou groupie, mas se me vissem no backstage não acreditariam. Não sei controlar a tremedeira, o coração acelerado e a ausência da fala. Não incomodo e só falo quando sinto que devo.
Minha sorte é acreditar nos meus sonhos. O fato de sentir-me abençoada e de saber que sou capaz. Não de correr atrás de um monte de homens, mas sim de fazer o que eu quiser da vida. Essa semana estabeleci uma meta: conhecer o Marilyn Manson.
Venho o perseguindo há três dias sem encontrá-lo. Nunca havia visto um rockstar tão recluso, intocável e cercado. Seu segurança particular ameaça pessoas de morte. Não é brincadeira, isso realmente aconteceu. No backstage, pulseiras e passes são ignorados. Não colocam homens para dentro e não respeitam ninguém.
Quando o roqueiro passa, é melhor sair da frente! Estava começando a ficar frustrada, a achar que não devia ter dito para ninguém que estava cobrindo a estadia dele no Brasil. Dediquei todas as minhas forças a encontrá-lo, pois tinha certeza de que faria uma entrevista incrível. Afinal, li "The Long Hard Road Out of Hell", sua biografia, de cabo a rabo.
Ele escreve tão bem quanto canta e compõe. Tem 1.001 utilidades. Foi na exposição de suas pinturas lúgubres que finalmente realizei meu sonho. Ela se chamava "As Flores do Mal".
Quando tive a oportunidade de vê-lo na minha frente, acompanhado pela namorada de 19 anos e cercado por jornalistas, não pude deixar passar.
-Manson! Você é fã do Baudelaire? Se inspirou nos temas do livro dele para pintar?
-Sim- ele respondeu, com uma expressão surpresa. -"As Flores do Mal" é meu livro preferido, falei.
-O meu também.
E assim consegui sua atenção. Numa coletiva inesperada, consegui conversar com aquele que sempre considerei gênio.
Às vezes perguntava coisas para quais ele não tinha resposta. Como a razão por qual seus quadros não têm fundo.
-Manson, o que você está ouvindo?
-Yeah Yeah Yeahs e Jeff Buckley, ele respondeu.
Pensa que ouvi-lo falar de amor, de sentimentos e de fé me impressionou? Não tanto quanto o que ele anda ouvindo.
E depois me pergunto por que sua música mudou tanto.
Olhando para Evan Rachel Wood ao seu lado, tive um palpite. Talvez ele devesse andar com alguém da sua idade. Mas droga... É a minha idade também. E agora?


MAYRA DIAS GOMES , 19, é autora do romance "Fugalaça" (ed. Record)


Texto Anterior: + Cds
Próximo Texto: Escuta aqui - Álvaro Pereira Júnior: O Gossip cansou de ser indie
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.