São Paulo, segunda-feira, 01 de novembro de 2004

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Jovens não-orientais se dedicam ao estudo do idioma para entender o original das histórias dos mangás e animês

Aventuras em japonês

ALESSANDRA KORMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

"Kawaii", "yatta", "sugoi", "baka"... Não sabe o que significam essas palavras? Pois pode apostar que um monte de jovens não-orientais, que resolveram estudar japonês por causa dos mangás e animês, sabe. Esses termos, que querem dizer, respectivamente, "bonitinho", "consegui", "incrível" e "bobo" (uma palavra muito feia na terra do sol nascente), são muito comuns em gibis, séries e games japoneses -um universo que é uma verdadeira febre entre os adolescentes.
A estudante Renata Maria de Matos Grabaski, 13, começou a entrar nesse mundo por causa dos Pokémons. "Depois essa fase passa, a gente pára de gostar desses modismos e resolve partir para títulos mais complexos", explica. "Comecei a aprender japonês porque queria entender o que os cantores dos animês falavam", diz a estudante, que chegou a aprender um pouco de kendô, a esgrima japonesa, e também desenha mangás -já participou até de exposições em Curitiba, onde mora.
O interesse cada vez maior de não-orientais pelo japonês chama a atenção dos professores que ensinam o idioma, como a coordenadora do curso de letras/japonês da USP, Leiko Matsubara Morales. "Sempre costumo tirar fotos da classe e vejo que o perfil dos alunos mudou muito nos últimos anos. Hoje, metade dos alunos é de não-descendentes. E todos tiveram uma grande influência dos animês e mangás."
Tasuku Nagata, dono da Animangá, escola-loja-editora que oferece um curso que ensina japonês por meio de mangás, compartilha a surpresa com a professora. "Cerca de 80% dos alunos são ocidentais. Quando abri o curso, nunca imaginei que isso fosse acontecer."
Um dos principais motivos que leva os "hi-nikkeys" (não-japoneses) aos cursos é justamente a vontade de ler os mangás no original para não perder nada. E eles têm razão, segundo a professora da Animangá Alexandra Akemi Matsuda, 28. "Há palavras que, quando são traduzidas, perdem o sentido original por causa da diferença cultural. "Onîchan", por exemplo, que significa um "irmãozão", uma coisa muito carinhosa no Japão, foi traduzido como "mano", que é mais gíria. "Kakkotsokeman", um elogio que quer dizer "estiloso" como um super-herói, um verdadeiro "bam-bam-bam", na tradução virou "posudo", que tem um sentido meio negativo", ensina.
Além disso, existem várias palavras em japonês para o mesmo termo em português. "Eu", por exemplo, pode ser dito de pelo menos cinco maneiras diferentes- tudo depende do contexto. Parece difícil?
Nem falamos na grafia ainda. Como explica a orientadora educacional do Celj (Centro de Estudos da Língua Japonesa), Cristina Sanae Matsuzake, são quatro alfabetos: hiragana (para palavras japonesas), katakana (para palavras estrangeiras), kanji (os ideogramas) e roma-gi (o nosso alfabeto). Mas, apesar de tudo, quem estuda o idioma diz que é mais fácil do que se pensa.
"Todo mundo acha impossível, mas é superfácil, principalmente a gramática. Não existe singular, plural. É mais fácil que inglês", afirma Felipe Jean Batistella, 13, que está estudando japonês há cinco meses e já está no nível intermediário do curso de inglês. Segundo Felipe, além dos mangás e animês, a sua motivação também foi outra. "Foi 60% para aprender um novo idioma, porque acho importante no meu futuro profissional, e 40% por causa da modinha dos mangás", diz ele, que costuma baixar animês em japonês da internet.
Fernando Mucioli, 20, que trabalha em um site de notícias sobre mangás e animês (www.ohayo.com.br), já usa o japonês na vida profissional. Ele começou a estudar há quatro anos e agora dá até aulas particulares. Para Fernando, o universo dos mangás e animês foi só a porta de entrada para a cultura oriental. "Eu comecei por causa do mangá, mas depois o Japão foi me fascinando. É gritante a convivência da tradição com a modernidade. Nos animês, eles passam valores como honra e amizade com muita intensidade", diz.
A sedução oriental é tanta que todo mundo conhece pelo menos alguém que tenha um ideograma tatuado no corpo. É preciso, no entanto, tomar cuidado. "O ator Rodrigo Santoro, por exemplo, apareceu há pouco tempo com uma tatuagem provisória de um ideograma que significava "grátis". E ele disse que queria tatuar "liberdade'", conta a orientadora do Celj, Cristina Sanae Matsuzake. Se o galã desfilasse pelo Japão com essa tatoo, sem dúvida ia causar furor...


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