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Jovens não-orientais se dedicam ao estudo do idioma para entender o original das histórias dos mangás e animês
Aventuras em japonês
ALESSANDRA KORMANN
DA REPORTAGEM LOCAL
"Kawaii", "yatta", "sugoi", "baka"... Não sabe o que significam
essas palavras? Pois pode apostar que um monte de jovens não-orientais,
que resolveram estudar japonês por causa
dos mangás e animês, sabe. Esses termos,
que querem dizer, respectivamente, "bonitinho", "consegui", "incrível" e "bobo"
(uma palavra muito feia na terra do sol nascente), são muito comuns em gibis, séries e
games japoneses -um universo que é uma
verdadeira febre entre os adolescentes.
A estudante Renata Maria de Matos Grabaski, 13, começou a entrar nesse mundo
por causa dos Pokémons. "Depois essa fase
passa, a gente pára de gostar desses modismos e resolve partir para títulos mais complexos", explica. "Comecei a aprender japonês porque queria entender o que os
cantores dos animês falavam", diz a estudante, que chegou a aprender um pouco de
kendô, a esgrima japonesa, e também desenha mangás -já participou até de exposições em Curitiba, onde mora.
O interesse cada vez maior de não-orientais pelo japonês chama a atenção dos professores que ensinam o idioma, como a
coordenadora do curso de letras/japonês
da USP, Leiko Matsubara Morales. "Sempre costumo tirar fotos da classe e vejo que
o perfil dos alunos mudou muito nos últimos anos. Hoje, metade dos alunos é de
não-descendentes. E todos tiveram uma
grande influência dos animês e mangás."
Tasuku Nagata, dono da Animangá, escola-loja-editora que oferece um curso que
ensina japonês por meio de mangás, compartilha a surpresa com a professora. "Cerca de 80% dos alunos são ocidentais. Quando abri o curso, nunca imaginei que isso
fosse acontecer."
Um dos principais motivos que leva os
"hi-nikkeys" (não-japoneses) aos cursos é
justamente a vontade de ler os mangás no
original para não perder nada. E eles têm
razão, segundo a professora da Animangá
Alexandra Akemi Matsuda, 28. "Há palavras que, quando são traduzidas, perdem o
sentido original por causa da diferença cultural. "Onîchan", por exemplo, que significa
um "irmãozão", uma coisa muito carinhosa
no Japão, foi traduzido como "mano", que é
mais gíria. "Kakkotsokeman", um elogio
que quer dizer "estiloso" como um super-herói, um verdadeiro "bam-bam-bam", na
tradução virou "posudo", que tem um sentido meio negativo", ensina.
Além disso, existem várias palavras em
japonês para o mesmo termo em português. "Eu", por exemplo, pode ser dito de
pelo menos cinco maneiras diferentes-
tudo depende do contexto. Parece difícil?
Nem falamos na grafia ainda. Como explica a orientadora educacional do Celj
(Centro de Estudos da Língua Japonesa),
Cristina Sanae Matsuzake, são quatro alfabetos: hiragana (para palavras japonesas),
katakana (para palavras estrangeiras), kanji (os ideogramas) e roma-gi (o nosso alfabeto). Mas, apesar de tudo, quem estuda o
idioma diz que é mais fácil do que se pensa.
"Todo mundo acha impossível, mas é superfácil, principalmente a gramática. Não
existe singular, plural. É mais fácil que inglês", afirma Felipe Jean Batistella, 13, que
está estudando japonês há cinco meses e já
está no nível intermediário do curso de inglês. Segundo Felipe, além dos mangás e
animês, a sua motivação também foi outra.
"Foi 60% para aprender um novo idioma,
porque acho importante no meu futuro
profissional, e 40% por causa da modinha
dos mangás", diz ele, que costuma baixar
animês em japonês da internet.
Fernando Mucioli, 20, que trabalha em
um site de notícias sobre mangás e animês
(www.ohayo.com.br), já usa o japonês na
vida profissional. Ele começou a estudar há
quatro anos e agora dá até aulas particulares. Para Fernando, o universo dos mangás
e animês foi só a porta de entrada para a
cultura oriental. "Eu comecei por causa do
mangá, mas depois o Japão foi me fascinando. É gritante a convivência da tradição
com a modernidade. Nos animês, eles passam valores como honra e amizade com
muita intensidade", diz.
A sedução oriental é tanta que todo mundo conhece pelo menos alguém que tenha
um ideograma tatuado no corpo. É preciso,
no entanto, tomar cuidado. "O ator Rodrigo Santoro, por exemplo, apareceu há pouco tempo com uma tatuagem provisória de
um ideograma que significava "grátis". E ele
disse que queria tatuar "liberdade'", conta a
orientadora do Celj, Cristina Sanae Matsuzake. Se o galã desfilasse pelo Japão com essa tatoo, sem dúvida ia causar furor...
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