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PROTESTO
Ato pede "paz com Justiça" após morte de Liana e Felipe e expõe mudança na relação com os pais
Movidos por perda, jovens pedem penas duras
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
No último dia 23, cerca
de 4.000 pessoas se
reuniram na avenida Paulista para um ato organizado pelos pais e por amigos do casal de adolescentes Felipe Caffé, 19, e Liana
Friedenbach, 16, assassinados no mês passado em
Embu-Guaçu.
Do trio elétrico que
guiou o protesto, era
anunciada a proposta oficial dos manifestantes: a
discussão das penas aplicadas a menores de 18
anos que cometem crimes
bárbaros (de acordo com
a polícia, o mentor do assassinato do casal, o Xampinha, tem 16 anos).
No meio da multidão,
no entanto, o tom das reivindicações era mais duro, motivado pela revolta
de uma perda muito próxima. Muitos pais de outros adolescentes exigiam
a pena de morte. E muitos
estudantes pediam a diminuição da maioridade
penal (idade a partir da
qual o jovem pode ser
condenado à prisão por
crimes que cometer), segurando faixas com frases
como "responsabilidade
não tem idade" e "temos
16 anos, somos responsáveis por nossos atos".
Carregada de emoções e de revolta, a
opinião da maioria dos jovens presentes
no ato -quase todos vestidos com camisetas que traziam uma foto de Liana
com Felipe abaixo do slogan "paz com
Justiça"- era radical. Mesmo assim,
não havia posição unânime.
"A pena para esse Xampinha será muito branda. Além disso, a Febem não recupera ninguém", criticou Sabrina Chebat, 16, colega de escola dos jovens assassinados. Sua mãe, Suzana Heri Chebat,
41, foi mais incisiva: "Se houver plebiscito sobre a pena de morte, voto a favor."
Para Tiago Barbosa da Silva, 18, que segurava uma faixa com a frase "os moradores de Embu-Guaçu repudiam a violência e querem segurança", o crime
marcou a história do município da Grande São Paulo, onde mora. "Fiquei com
medo de andar pela cidade. Acho que esse assassino tem de cumprir uma pena
maior e ir para a cadeia comum", disse.
Benedito Lima Solteiro, 64, e sua filha,
Gabriela Farah, 17, foram diretos: "Em
casos assim, o menor de idade tem que
morrer", anunciou a jovem, apoiada pelo pai. "Se a Febem é uma escola de bandidos, para que colocá-lo lá? Em caso de
crime hediondo, sou a favor da pena de
morte, sim", defendeu Solteiro.
Luis Fernando Fontes Teixeira, 16, um
dos organizadores da manifestação,
ponderou os pedidos de prisão perpétua,
de pena de morte e de redução da maioridade penal. "As pessoas deveriam ser
contra a redução. Se cair a
idade penal, vão prender
tudo o que é moleque de
rua que rouba pão porque
tem fome", argumentou.
"A solução é dar educação
para as pessoas e não deixar as periferias abandonadas como estão."
Em casa
Além das diferentes opiniões de jovens sobre a
questão da maioridade
penal, a manifestação deixou claro que a dinâmica
de confiança entre pais e
filhos da classe média mudou depois do crime de
Embu-Guaçu.
"Depois disso, fiquei
com receio de fazer determinadas coisas. Penso
duas vezes antes de mentir. Ficou claro que eu tenho de me cuidar e de saber lidar com o medo",
admitiu Chebat.
Camila Veiga, 17, colega
de classe de Caffé, disse
que, depois do crime, passou a "escutar mais os
conselhos da mãe". "Procuro levar sempre o celular comigo e informá-la
sobre onde estou. Se bem
que, depois da morte do
Caffé, nem tive mais coragem de sair."
Para Marilu Vianello,
40, mãe de Loredana Vianello, 17, colega de classe e
uma das melhores amigas
de Liana, depois do crime, o que mudou
foi "o temor dos pais". "Sabíamos que a
violência estava próxima de nós, mas esse
crime foi a gota d'água."
A mãe de Luis Fernando, Tereza Fontes, 53, disse que sempre teve medo de o
filho não voltar para casa. "Os jovens estão ficando cada vez mais revoltados. E o
direito do meu filho de ir e vir?", reclamou. "Numa situação dessas, o melhor é
que pais e filhos estejam unidos e tenham
um diálogo muito franco", recomendou.
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