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São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2003

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PROTESTO

Ato pede "paz com Justiça" após morte de Liana e Felipe e expõe mudança na relação com os pais

Movidos por perda, jovens pedem penas duras

FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

No último dia 23, cerca de 4.000 pessoas se reuniram na avenida Paulista para um ato organizado pelos pais e por amigos do casal de adolescentes Felipe Caffé, 19, e Liana Friedenbach, 16, assassinados no mês passado em Embu-Guaçu.
Do trio elétrico que guiou o protesto, era anunciada a proposta oficial dos manifestantes: a discussão das penas aplicadas a menores de 18 anos que cometem crimes bárbaros (de acordo com a polícia, o mentor do assassinato do casal, o Xampinha, tem 16 anos).
No meio da multidão, no entanto, o tom das reivindicações era mais duro, motivado pela revolta de uma perda muito próxima. Muitos pais de outros adolescentes exigiam a pena de morte. E muitos estudantes pediam a diminuição da maioridade penal (idade a partir da qual o jovem pode ser condenado à prisão por crimes que cometer), segurando faixas com frases como "responsabilidade não tem idade" e "temos 16 anos, somos responsáveis por nossos atos".
Carregada de emoções e de revolta, a opinião da maioria dos jovens presentes no ato -quase todos vestidos com camisetas que traziam uma foto de Liana com Felipe abaixo do slogan "paz com Justiça"- era radical. Mesmo assim, não havia posição unânime.
"A pena para esse Xampinha será muito branda. Além disso, a Febem não recupera ninguém", criticou Sabrina Chebat, 16, colega de escola dos jovens assassinados. Sua mãe, Suzana Heri Chebat, 41, foi mais incisiva: "Se houver plebiscito sobre a pena de morte, voto a favor."
Para Tiago Barbosa da Silva, 18, que segurava uma faixa com a frase "os moradores de Embu-Guaçu repudiam a violência e querem segurança", o crime marcou a história do município da Grande São Paulo, onde mora. "Fiquei com medo de andar pela cidade. Acho que esse assassino tem de cumprir uma pena maior e ir para a cadeia comum", disse.
Benedito Lima Solteiro, 64, e sua filha, Gabriela Farah, 17, foram diretos: "Em casos assim, o menor de idade tem que morrer", anunciou a jovem, apoiada pelo pai. "Se a Febem é uma escola de bandidos, para que colocá-lo lá? Em caso de crime hediondo, sou a favor da pena de morte, sim", defendeu Solteiro.
Luis Fernando Fontes Teixeira, 16, um dos organizadores da manifestação, ponderou os pedidos de prisão perpétua, de pena de morte e de redução da maioridade penal. "As pessoas deveriam ser contra a redução. Se cair a idade penal, vão prender tudo o que é moleque de rua que rouba pão porque tem fome", argumentou. "A solução é dar educação para as pessoas e não deixar as periferias abandonadas como estão."

Em casa
Além das diferentes opiniões de jovens sobre a questão da maioridade penal, a manifestação deixou claro que a dinâmica de confiança entre pais e filhos da classe média mudou depois do crime de Embu-Guaçu.
"Depois disso, fiquei com receio de fazer determinadas coisas. Penso duas vezes antes de mentir. Ficou claro que eu tenho de me cuidar e de saber lidar com o medo", admitiu Chebat.
Camila Veiga, 17, colega de classe de Caffé, disse que, depois do crime, passou a "escutar mais os conselhos da mãe". "Procuro levar sempre o celular comigo e informá-la sobre onde estou. Se bem que, depois da morte do Caffé, nem tive mais coragem de sair."
Para Marilu Vianello, 40, mãe de Loredana Vianello, 17, colega de classe e uma das melhores amigas de Liana, depois do crime, o que mudou foi "o temor dos pais". "Sabíamos que a violência estava próxima de nós, mas esse crime foi a gota d'água."
A mãe de Luis Fernando, Tereza Fontes, 53, disse que sempre teve medo de o filho não voltar para casa. "Os jovens estão ficando cada vez mais revoltados. E o direito do meu filho de ir e vir?", reclamou. "Numa situação dessas, o melhor é que pais e filhos estejam unidos e tenham um diálogo muito franco", recomendou.



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