São Paulo, segunda-feira, 02 de janeiro de 2006

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SURFE

Jovens surfistas contam ao Folhateen por que resolveram voltar às raízes do esporte a bordo das pranchas grandes

Surfando com os reis

LUCRECIA ZAPPI
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Na conversa minimalista do surfe, o que se ouve é que o longboard é mais "style" porque é "roots".
E o que se vê é que o pranchão, sinônimo de surfe de tiozão até pouco tempo atrás, tem sido a escolha de surfistas mais novos.
"É uma tendência. A galera da minha idade gosta porque é o surfe clássico, que é mais bonito", diz Roger Barros, 16, que ocupa o 10º lugar no ranking brasileiro na categoria de longboard.
Roger diz que começou a surfar na prancha do pai e, pelo que se lembra, surfa "desde que nasceu".
Profissional na modalidade longboard desde 2005, Roger é bicampeão brasileiro na categoria júnior (2003 e 2004). Ele conta que o longboard virou seu estilo de vida, que carimba como "zen ".
"Até hoje quando me vêem carregando o longboard me perguntam se eu estou em fim de carreira!", conta Roger, rindo, que depois retoma o ar científico: "Acho que a vontade de fazer longboard cresceu porque as pessoas querem voltar às raízes", explica o surfista carioca, que freqüenta todos os dias a praia da Macumba e pensa fazer faculdade de medicina.
Danilo Rodrigo dos Santos, 20, o Mullinha, também só surfa com longboard. "Tentei a pranchinha dos nove aos 12, mas depois voltei para o longboard", conta. Sétimo do circuito brasileiro, Mullinha gosta da modalidade porque os movimentos são mais clássicos. "É mais performático", diz.
Assim como ele, o baiano Carlos Bahia, 22, que mora em Maresias desde os 13 e ocupa o 37º lugar no ranking mundial, também trocou uma prancha pela outra.
"Conheci o surfe com a pranchinha, mas, quando ganhei um longboard, me apaixonei na hora", conta Carlos que terminou o ano de 2005 como vice-campeão no circuito brasileiro de longboard.
"Dizem que o longboard é coisa de velho. Deve ser porque os reis do Havaí já surfavam assim", ironiza Carlos, que, quando era criança, via campeonatos de surfe na TV e arrastava uma tábua para o rio em seu sítio para tentar se equilibrar sobre a água.
Mesmo sem nunca ter visto o mar e sem saber que já testava um surfe muito próximo ao que pratica hoje, Carlos, com seu pranchão improvisado, já sentia a estabilidade que uma prancha maior dá.
"Quem nunca surfou consegue subir mais rápido no longboard. E ainda dá para movimentar os pés na prancha. A pranchinha é boa para manobras radicais, mas não dá para mexer o pé de cima dela porque senão você cai", diz Bahia.
Mas o havaianos, ou os "quase anfíbios", como o capitão Cook os chamou no final do século 18, não são para Carlos só história remota. Em 2000, quando disputava uma etapa do campeonato mundial em Maresias, caiu na simpatia da estrela do surfe mundial, o havaiano Bonga Perkins, que lhe deu de presente seu longboard.
Foi sua primeira prancha "de verdade". Quando Carlos conheceu o havaiano, competia com uma prancha "costurada", feita de restos de outras duas. Em fevereiro, ele deve embarcar para a Austrália, onde rola a primeira etapa do WCT (World Championship Tournament).
Em dezembro, junto com Roger e Mullinha, Carlos participou do Festival Petrobras de Surfe, entre os dias 16 e 18, na praia da Barra da Tijuca. A praia carioca é ideal para a pranchinha, com ondas mais irregulares e que arrebentam com mais força, mas os pranchões marcaram presença.
Eram 12 equipes com três atletas cada, escolhidos por sorteio. Além de dois shortboarders, um homem e uma mulher, havia o longboarder.
Como no surfe só se respira água salgada, sair da rotina é só mudar de praia. "Passei o ano surfando em Maresias. Agora vou ver se eu vou, nas férias, surfar em outro pico", diz Carlos.


A jornalista Lucrecia Zappi viajou à convite da organização do evento


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