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Pesquisa diz que letras agressivas estimulam a violência
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA
Jovens que escutam músicas com letras
agressivas passam a ter, logo que a música
acaba, pensamentos e sensações violentos. E
essa reação é diretamente proporcional à
agressividade das letras. Quanto mais barra-pesada elas forem, mais o cara fica "doidão".
Quem está dizendo não sou eu, nem sua
mãe, que reclama de você escutar Sepultura
no volume 12. A conclusão é de um grupo de
cientistas da Universidade do Estado de Iowa
e da Secretaria de Serviço Social do Texas
(EUA). O trabalho foi publicado na revista
científica "Journal of Personality and Social
Psychology". Um bom resumo do trabalho
está em www.eurekalert.org/pub_releases/2003-05/apavml042903.php.
O estudo é interessante por diversas razões.
Uma delas é que contraria a noção popular de
que as letras agressivas funcionariam
como uma espécie
de catarse, de válvula de escape para a
molecada. Na verdade, se os cientistas
estiverem corretos, a agressividade das letras
só provoca uma coisa -agressividade em
quem as está ouvindo.
E atenção: o trabalho refere-se especificamente às letras. Se o som for pesado, mas a letra levinha, o efeito agressivo não aparece.
Basicamente, os pesquisadores botaram um
grupo de mais de 500 universitários para ouvir sete músicas violentas de sete artistas e
também músicas não-violentas dos mesmos
artistas. E usaram uma série de testes psicológicos para ver se o pessoal ficava com pensamentos agressivos na cabeça depois de escutar as letras violentas.
Um exemplo de teste é pedir que o jovem
complete uma palavra na qual falta uma letra.
Por exemplo: s-co.
Pode ser "saco" ou "suco". Agora, se a escolha for "soco", há um sinal de agressividade.
Está curioso para saber quais as músicas
violentas? Então lá vai: "Jerk-Off", do Tool;
"Shoot 'Em Up", do Cypress Hill; "I Wouldn't
Mind", do Suicidal Tendencies; "Hit 'Em
Hard", do Run DMC; "A Boy Named Sue", de
Johnny Cash; "The Night Santa Went Crazy",
de Weird Al Yankovic; e "Country Death
Song", dos Violent Femmes.
Claro que ainda falta descobrir quais são as
implicações de longo prazo -se é que elas
existem. Os pesquisadores só mediram a
agressividade nos instantes imediatos ao fim
da música. Não se sabe se essa tendência violenta permanece por muito tempo, nem se
tem algum efeito mais profundo na formação
da personalidade.
E, aqui no Brasil, é bom lembrar que tudo
muda de figura, porque a imensa maioria dos
jovens não sabe inglês
suficiente para entender o que os gringos
estão cantando. Ainda
bem!
Álvaro Pereira Júnior, 40, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo
E-mail: cby2k@uol.com.br
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