LUÍS AUGUSTO FISCHER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em algum lugar da Alemanha, uma mulher chamada Christiane, beirando os 40 anos, está fazendo alguma coisa. É uma mulher real, que está respirando, caminhando por aí. Vai ver está dando comida para sua filha, olhando para ela e pensando em como será bom se, no futuro, ela não enfrentar a barra da droga.
Christiane, como todo o Ocidente ficou sabendo a partir de 1978, começou a se drogar na adolescência. A coisa degringolou, e ela chegou à prostituição para sustentar o vício. Durante os piores anos de sua vida, os momentos de alegria ou de boa e fraterna convivência humana eram raríssimos. Um namorado bacana, uns amigos que morriam à toa, uma família pirada, inclusive por causa dela.
A história de Christiane F., em livro e filme há uns 20 anos, agora é relançada no Brasil, em edição retraduzida e acompanhada de fotos, inclusive da própria protagonista. (A gente olha para a carinha dela e fica imaginando: o que é mesmo que vai acontecer com ela daqui a dez minutos? Ela tirou essa foto e foi meter nos canos? Com essa carinha!?)
O relato é duro de ler, não por dificuldade de linguagem ou complexidade narrativa. É porque ali tem uma menina sofrendo e porque, do lado de cá, no coração do leitor, o sofrimento se espelha. É só fazer as contas: Christiane, interiorana, aos seis anos vai para Berlim, acompanhando a ilusão de seus pais, que queriam subir na vida -como todos nós, falando nisso. Não dá pé, e eles acabam num megaconjunto habitacional com outras 45 mil pessoas. Alguma semelhança com uma situação nossa conhecida?
No conjunto, tudo é ruim, feio ou proibido. Que saídas inventa uma menina de 12, 13 anos, na Alemanha e no Brasil? Que riscos corre? Todos, os piores, a menos que certas coisas como escola, diversão e arte, além de comida e casa, sejam providenciadas pelos adultos, especialmente os que dispõem de algum poder -você e eu, por exemplo, com nosso voto.

E-mail: fischerl@uol.com.br


Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada, Prostituída...
Autor: Depoimentos recolhidos por Kai Hermann e Horst Rieck
Editora: Bertand Brasil
Quanto: R$ 35, em média


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