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São Paulo, segunda-feira, 03 de março de 2003

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CARNAVAL

Origem social e alegria seduzem jovens para as escolas

Os novos originais do samba

EMILIANO URBIM
RICARDO LISBÔA

FREE-LANCE PARA A FOLHA

"Todo Carnaval tem seu fim", canta a banda Los Hermanos. Para que ele nunca se acabe é que grandes e pequenas escolas de samba estão sempre rebolando para conquistar jovens que defendam no pé as cores de seus grêmios recreativos.
A Mocidade Alegre, como o próprio nome sugere, é um dos melhores exemplos. Nessa escola, do bairro do Limão, existe um departamento jovem há um ano, com a missão de trazer crianças e adolescentes das redondezas para a vida do samba. Para isso, eles promovem, durante o ano, festas juninas, peças de teatro e jantares.
Lucienne Calvo, 17, mudou de opinião sobre as agremiações depois que entrou para o departamento: "Dizem que nos ensaios só dá marginal e maloqueiro. Mas isso não tem nada a ver!".

Ala VIP
Para arrecadar foliões, potências tradicionais como Camisa Verde e Branco, Nenê de Vila Matilde, Rosas de Ouro, Vai-Vai e X-9 (em ordem alfabética, para evitar controvérsias), valem-se da paixão transmitida de pai para filho, mas também da que se espalha da periferia para os bairros nobres e dos "manos" para os "playboys".
Graças à atuação dos diretores de "alas VIP", dos ensaios incrementados e do próprio crescimento da pompa e da circunstância do Carnaval paulistano, desfilar no Sambódromo do Anhembi vem se tornando uma opção cada vez mais comum para jovens de classe média.
Foi o que aconteceu com Carla Rossi, 22, levada pela primeira vez pelo irmão, há dois anos. Ela diz que sempre gostou de samba, ouve em casa e tudo. Neste ano, ela pagou R$ 150 para desfilar como "Imprensa" em uma ala da Camisa Verde e Branco, mas reconhece que, no princípio, rolou um preconceito: "Achava que era uma galera muito feia, maloqueira. Fui preconceituosa, mas vim e adorei. O ambiente daqui é superfamiliar e todos têm muito respeito".
Existe até quem tenha cogitado trocar o feriado na praia pelos desfiles. Foi o caso de Adolfo Ottoni, 14, que mora nos Jardins e frequenta os ensaios da Rosas de Ouro. Ele conseguiu trazer uma amiga, Isabela Dias, 15, que diz gostar de samba e afirma que tem muitos outros amigos que também gostam, mas que não vão aos ensaios porque suas mães não os liberam para a folia.
"É uma balada como outra qualquer, a gente vem para cá mais cedo e depois vai dançar na Vila Olímpia. São basicamente as mesmas pessoas", diz Fernanda Moscarelle, 23, foliona da Rosas de Ouro, escola que teve um dos ensaios mais disputados, especialmente na sexta-feira, quando o ingresso custava R$ 10, o dobro do das concorrentes.
Fora desse contexto estão os amigos Dimitri Lima, 16, e Fernando Coronato, 13, da bateria da Mocidade. Eles já podem ser chamados de veteranos do samba. Os dois têm a família inserida nesse meio, e Dimitri desfila há 11 anos. Segundo ele, quando se está na passarela, "o barato é muito louco". André Bertoco, 18, amigo deles, saiu pela primeira e, entre gargalhadas, dizia não ver a hora de "ver qual é a desse barato".
Há escolas que não dependem de divulgação intensa nem da ajuda de pais para terem mais jovens no dia do desfile. Seu público vem de outra paixão nacional: o futebol. Nascidas das arqui-rivais torcidas organizadas do Corinthians e do Palmeiras, respectivamente, a Gaviões da Fiel e a Mancha Verde montam suas alas com adolescentes oriundos dos estádios.
Mas, às vezes, a rivalidade do campo descamba em sérios conflitos. No fim-de-semana anterior ao Carnaval, integrantes do bloco Tricolor Independente, formado por são paulinos, entraram em confronto com corintianos e palmeirenses, e três pessoas morreram. Sábado de cinzas.


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