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CARNAVAL
Origem social e alegria seduzem jovens para as escolas
Os novos originais do samba
EMILIANO URBIM
RICARDO LISBÔA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
"Todo Carnaval tem seu
fim", canta a banda
Los Hermanos. Para que
ele nunca se acabe é que
grandes e pequenas escolas de samba estão sempre
rebolando para conquistar jovens que defendam
no pé as cores de seus grêmios recreativos.
A Mocidade Alegre, como o próprio nome sugere, é um dos melhores
exemplos. Nessa escola,
do bairro do Limão, existe
um departamento jovem
há um ano, com a missão
de trazer crianças e adolescentes das redondezas
para a vida do samba. Para isso, eles promovem,
durante o ano, festas juninas, peças de teatro e jantares.
Lucienne Calvo, 17, mudou de opinião sobre as
agremiações depois que
entrou para o departamento: "Dizem que nos ensaios só
dá marginal e maloqueiro. Mas isso não tem nada a ver!".
Ala VIP
Para arrecadar foliões, potências
tradicionais como Camisa Verde e
Branco, Nenê de Vila Matilde, Rosas de Ouro, Vai-Vai e X-9 (em ordem alfabética, para evitar controvérsias), valem-se da paixão transmitida de pai para filho, mas também da que se espalha da periferia
para os bairros nobres e dos "manos" para os "playboys".
Graças à atuação dos diretores de
"alas VIP", dos ensaios incrementados e do próprio crescimento da
pompa e da circunstância do Carnaval paulistano, desfilar no Sambódromo do Anhembi vem se tornando uma opção cada vez mais
comum para jovens de classe média.
Foi o que aconteceu com Carla
Rossi, 22, levada pela primeira vez
pelo irmão, há dois anos. Ela diz
que sempre gostou de samba, ouve
em casa e tudo. Neste ano, ela pagou R$ 150 para desfilar como "Imprensa" em uma ala da Camisa
Verde e Branco, mas reconhece
que, no princípio, rolou um preconceito: "Achava que era uma galera muito feia, maloqueira. Fui
preconceituosa, mas vim e adorei.
O ambiente daqui é superfamiliar e
todos têm muito respeito".
Existe até quem tenha cogitado
trocar o feriado na praia pelos desfiles. Foi o caso de Adolfo Ottoni,
14, que mora nos Jardins e frequenta os ensaios da Rosas de Ouro. Ele
conseguiu trazer uma amiga, Isabela Dias, 15, que diz gostar de samba e afirma que tem muitos outros
amigos que também gostam, mas
que não vão aos ensaios porque
suas mães não os liberam para a folia.
"É uma balada como
outra qualquer, a gente
vem para cá mais cedo
e depois vai dançar na
Vila Olímpia. São basicamente as mesmas
pessoas", diz Fernanda
Moscarelle, 23, foliona
da Rosas de Ouro, escola que teve um dos ensaios mais disputados,
especialmente na sexta-feira, quando o ingresso custava R$ 10, o dobro do das concorrentes.
Fora desse contexto
estão os amigos Dimitri
Lima, 16, e Fernando
Coronato, 13, da bateria
da Mocidade. Eles já
podem ser chamados
de veteranos do samba.
Os dois têm a família
inserida nesse meio, e
Dimitri desfila há 11
anos. Segundo ele,
quando se está na passarela, "o barato é muito louco". André Bertoco, 18, amigo deles, saiu
pela primeira e, entre gargalhadas,
dizia não ver a hora de "ver qual é a
desse barato".
Há escolas que não dependem de
divulgação intensa nem da ajuda
de pais para terem mais jovens no
dia do desfile. Seu público vem de
outra paixão nacional: o futebol.
Nascidas das arqui-rivais torcidas
organizadas do Corinthians e do
Palmeiras, respectivamente, a Gaviões da Fiel e a Mancha Verde
montam suas alas com adolescentes oriundos dos estádios.
Mas, às vezes, a rivalidade do
campo descamba em sérios conflitos. No fim-de-semana anterior ao
Carnaval, integrantes do bloco Tricolor Independente, formado por
são paulinos, entraram em confronto com corintianos e palmeirenses, e três pessoas morreram.
Sábado de cinzas.
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