São Paulo, segunda-feira, 03 de maio de 2010

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INTERNETS

Ronaldo Lemos - ronaldolemos09@gmail.com

Mas que droga é essa?

Não é novidade que a política de combate às drogas precisa ser repensada. Um exemplo é o surgimento do "miau-miau" (mefedrona), nova droga que produz efeitos semelhantes ao ecstasy e à cocaína. Com uma diferença: é considerada legal na maioria dos países e vendida principalmente pela internet, na forma de pó ou de cápsula.
Sintetizada a partir de uma substância presente no qat (planta comum na região entre a África e o Oriente Médio), ela rapidamente se tornou popular nas baladas europeias. Depois de relatos de gente hospitalizada e de mortes, o governo inglês decidiu, enfim, incluir a substância na lista de drogas ilícitas.
A mefedrona chama a atenção para um fenômeno maior, das "design drugs", drogas desenvolvidas especificamente para fugir das proibições existentes (mas nem por isso menos nocivas). E a internet é o lugar certo para encontrá-las. São inúmeros os sites especializados, inclusive no Brasil, que entregam os produtos em casa, até mesmo no dia seguinte ao pedido.
Isso mostra que a rede transformou profundamente também a indústria das drogas, como fez com tudo mais. Ela criou um mercado estável para que aprendizes de química inventem novas substâncias. E multiplicou e pulverizou canais de fornecimento. O resultado é o surgimento constante de novas drogas, tornando praticamente impossível qualquer resposta legal efetiva.
Nesse sentido, passam-se muitas vezes anos até que uma nova substância seja estudada ou criminalizada. O "miau-miau" foi proibido, mas são muitos os candidatos a substituí-lo: flefedrona, bufedrona, MDVP, MDAI, desoxipipradrol e assim por diante.
Logo, tem razão a Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia (cbdd.org.br ) quando propõe uma política mais racional de combate às drogas, com ênfase na educação, na saúde pública e na redução de danos. E não apenas na criminalização cega e inconsequente. Que, diga-se, pouco adianta contra esses novos arranjos.


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