São Paulo, segunda, 3 de agosto de 1998

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pop star
O astro mais rock and roll do cinema

Reuters
Johnny Deep e a namorada Kate Moss em festa no Festival de Cannes


THALES DE MENEZES
da Reportagem Local

Johnny Depp é uma das principais figuras do pop planetário. É ator de cinema, diretor, guitarrista, dono de um bar roqueiro, ex da Winona Ryder, atual da Kate Moss, amigo do Marlon Brando, do Al Pacino e do Paul McCartney.
Seu último filme lançado nos EUA, "Medo e Nojo em Las Vegas", estréia no Brasil no próximo mês. Mas as locadoras já receberam "O Bravo", filme esquisitão que Depp dirigiu em 97 (e no qual interpreta o papel principal).
No Havaí, onde descansava com a top Kate Moss ("Não brigamos, apenas temos um outro tipo de namoro", diz) e checava locações para um filme, ele deu entrevista exclusiva à Folha, por telefone.

Folha - Seu filme de estréia na direção, "O Bravo", acaba de ser lançado em vídeo no Brasil. As críticas foram desanimadoras. Como você as recebeu?
Johnny Depp -
Eu não preciso me preocupar com elas. Um monte de coisas que eu adoro e valorizo muito são atacadas pelos críticos. Claro que eu gostaria de ser elogiado, mas tenho a sorte de não ser um cineasta, quer dizer, não é meu único trabalho. Se eu dependesse do sucesso do filme para continuar a carreira, estaria encrencado.
Folha - Por que a crítica não gostou de "O Bravo"?
Depp -
É um filme estranho, todos dizem. Ainda bem que é. Quis fazer um filme que desprezasse o padrão americano de cinema. Não é MTV, é uma história angustiante, tem ritmo próprio. O destino de um cara que aceita ser torturado até a morte para devolver a dignidade para sua família não é muito agradável, eu sei, mas para mim o cinema existe para despertar reações. Nem tudo é entretenimento.
Folha - Como é dirigir Marlon Brando, que está em "O Bravo" e contracenou com você em "Don Juan DeMarco"?
Depp -
Ninguém pode responder essa pergunta, porque ninguém consegue dirigir Marlon Brando, ninguém tem essa capacidade. O cara é maior do que a vida! Um deus, um guru. Ele fez o que quis nas gravações, e ficou ótimo.
Folha - Além de Brando, você se tornou amigo de outros veteranos que trabalharam com você, não?
Depp -
É verdade. Faye Dunaway, Christopher Walken, Al Pacino. Vou fazer outro filme com Al Pacino. Cara, eu nunca me diverti tanto na vida quanto nas filmagens de "Donnie Brasco". Eu e Al ficávamos a madrugada inteira dando gargalhadas. Todos dormiam, mas a gente ficava no bar. Ele não bebe mais, então falava, falava e falava. E eu ouvia e enchia a cara.
Folha - Você buscou o reconhecimento desses grandes atores para apagar a imagem de ídolo das teens americanas, por causa da série "Anjos da Lei"?
Depp -
Eu não calculei nada na minha vida. Dei sorte de trabalhar com as pessoas certas, ou talvez eu tenha um bom instinto para reconhecer pessoas interessantes. Mas nunca planejei nada. Só virei um ator porque Nicolas Cage era meu amigo e insistiu que eu fizesse um teste para "A Hora do Pesadelo". Aceitei fazer "Anjos da Lei" porque não tinha oferta melhor. Pensei eu ficar uma temporada na TV e acabei passando quatro.
Folha - Cage levou você ao cinema? Você era amigo de atores?
Depp -
Não. Nick era amigo da minha primeira mulher, que é maquiadora de cinema. Mas eu nunca consegui ter muitos amigos atores. Não é porque eu selecione minhas amizades pela profissão, é que eu convivo muito mais com gente ligada à música do que ao cinema. Eu sou um roqueiro, antes de ser um ator. Ganhei guitarra da minha mãe aos 10 anos, larguei a escola para tentar a sorte com uma banda. Fui roadie, toquei em bar...
Folha - Você tem uma banda.
Depp -
Eu tenho mais carinho pela P do que pela maioria dos filmes que fiz. Quando eu comecei a ganhar algum dinheiro com o cinema, minha primeira decisão foi comprar um bar e transformá-lo num lugar para bandas de rock. O Viper Room é assim até hoje: um lugar pequeno, com um palco pequeno. Um refúgio para os músicos encherem a cara.
Minha vida é rock and roll. Vivo na estrada, fico doente se fico dois ou três dias sem ver um show. Não desprezo o cinema, mas entre ser Bob Dylan ou Orson Welles, eu escolheria o primeiro.



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