São Paulo, segunda-feira, 03 de outubro de 2005

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LITERATURA

Escritor do livro "Geração T.E.E.N." fala sobre o amor e a solidão e diz que se inspirou nas novas feministas para construir um retrato de um mundo "desumanizado"

Sexo e tristeza

LUCRECIA ZAPPI DA REPORTAGEM LOCAL

A sociedade conservadora americana, a liberdade, a solidão e o consumismo desenfreado que cerca as pessoas. Junte tudo e fale sobre sexo. Esse é o alvo de reflexão de Marty Beckerman em seu livro "Geração T.E.E.N." (ed. Ediouro, R$ 29,90), que acaba de sair no Brasil.
Como diz o autor de 22 anos, o livro oscila entre ficção e não-ficção e é simples de ler, daqueles em que você abre em qualquer página e, ainda assim, capta o vazio do sexo casual e do desprendimento afetivo a que o autor se refere.
Agora ele trabalha em seu próximo livro, "Retarded Nation" ("Nação Retardada"), que deve sair nos EUA em fevereiro de 2006. Aos 17, publicou e editou seu primeiro livro, "Death to All Cheeleaders" ("Morte a Todas as Animadoras de Torcida").
Desde sua casa, em Washington D.C., Marty falou ao Folhateen sobre sua geração, sexo, amor, solidão e outras intempéries da vida. Diz também que não quer dar lição de moral a ninguém.
Folha - Você tem andado irritado com a sua geração?
Marty Beckerman - Sinto mais tristeza do que raiva, mas a mensagem do livro não é do tipo "você vai queimar no inferno porque você está fazendo sexo desse jeito". É mais sobre o que acontece a jovens que começam a ter um desprendimento afetivo das coisas. Não é um livro sobre sexo, é um livro sobre o amor. E sobre o que acontece às pessoas quando não acreditam mais no amor.
Folha - Você acha que as pessoas não acreditam mais no amor?
Marty - É essa a impressão que eu tenho. Talvez eu tenha me tornado mais cínico, os jovens andam tão infelizes...
Folha - Infelizes por causa da idade ou da geração?
Marty - A cada geração isso se repete, mas, mais do que antes, há mais pessoas socialmente instáveis. Por que esses adolescentes estão emocionalmente aos pedaços e por que eles são tão destrutivos?
Folha - É. Por que?
Marty - Eu acho que se trata da cultura do instantâneo -você só quer se divertir, não quer envolvimento. Se você quer ser feliz, tem que experimentar a dor. Senão é como se tornar um zumbi, sem emoções. Eu acho que a coisa ficou desumanizada.
Folha - Desumanizada do ponto de vista do alto consumo sexual? Em que corpo você se inspirou para fazer seu livro?
Marty - Nas novas feministas. As americanas não são tão dominadoras, mas a atitude delas tende a ser cada vez mais sexualmente agressiva. Hoje pega bem se uma menina ficar com milhares de meninos.
Folha - Você tem medo dessas meninas?
Marty - Eu não tenho medo delas. Mas eu acho que elas não estão felizes. Elas acham que quanto mais transas tiverem menos vão se sentir sozinhas.
Folha - Em seu livro você usa um pouco de estatística, de diário, de novela, de quadrinhos. Por que você usou essa fórmula?
Marty - Alguns gostam de ficção, outros de estatística. É uma novela e não é, é para todo o tipo de gente. Dá para abrir em qualquer página e ler.
Também foi pensado para pessoas que não lêem muito, ou seja, os adolescentes. Mas há muitos que não estão acostumados a ler, daí eu tento ser engraçado.

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