São Paulo, segunda-feira, 05 de março de 2001

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CAPA
Jovens bandeirantes inovam e usam rap e jogos para ensinar outros adolescentes sobre prevenção à Aids, às DSTs e à gravidez
Ed Vigianni/Folha Imagem
A bandeirante Márcia Regina Francisco (à frente), coordenadora do distrito de Rio Claro (interior de SP)


Blitz contra as DSTs

Queremos mostrar que não existe mais grupo de risco, qualquer pessoa pode pegar. Muita gente acha que só porque está namorando firme pode transar sem camisinha. Não é assim: o parceiro pode pular a cerca"
Edemilton Lima, 18 AUGUSTO PINHEIRO

DA REPORTAGEM LOCAL

Os bandeirantes resolveram arregaçar as mangas e levar informações sobre prevenção à Aids, às DSTs (doenças sexualmente transmissíveis) e à gravidez precoce para outros adolescentes e para a comunidade. É que a Federação de Bandeirantes do Brasil escolheu este ano para desenvolver o projeto Ouça, Aprenda, Viva, parte de uma campanha mundial da entidade, com o objetivo de alertar as pessoas sobre o assunto (leia mais informações sobre Aids e DSTs na pág. 8).
E, para chegar até os jovens, o que vale são as atividades lúdicas, que envolvem música, teatro, jogos e dinâmicas de grupo. "Nós utilizamos o rap para passar a mensagem", diz Magno Alexandre Francisco, 18, bandeirante de Rio Claro (interior de São Paulo). "Nós escrevemos as letras, tiramos cópias e distribuímos para os jovens cantarem junto." As letras tratam de meios de prevenção e de transmissão das doenças, entre outros assuntos, e são acompanhadas por uma base musical própria para rap, gravada em um CD.
Leandro Leme Soares, 17, bandeirante, diz que "cantando rap os jovens pegam a informação rapidinho". As apresentações acontecem em centros comunitários e até em igrejas. "Vamos a qualquer instituição que trabalhe com crianças e adolescentes", diz Márcia Regina Francisco, 24, coordenadora do distrito de Rio Claro.
O projeto dos garotos de Rio Claro já foi até premiado: recebeu o troféu Jovens Voluntários, promovido pela Fundação Odebrecht, Instituto C&A e Programa Voluntários. "Foi um grande incentivo. Quando inscrevemos o projeto, não tínhamos muita esperança de ganhar. Então, quando saiu o resultado, ficamos muito contentes. Recebemos R$ 2 mil para colocar o projeto em prática", diz Magno.
Com o dinheiro, os bandeirantes compraram materiais para tornar as atividades mais divertidas. "A gente chegou à conclusão de que, em uma palestra, o adolescente até pega as informações, mas às vezes acaba não associando com a realidade. Então, os bandeirantes enfocam o lado prático: ensinam a colocar a camisinha em uma banana, por exemplo", explica Márcia.
Ela conta que os próximos passos serão utilizar o correio eletrônico para disseminar informação e montar peças de teatro. "Como os meninos estão na era da Internet, a gente está bolando um texto, com figuras, para eles passarem para os amigos deles por e-mail."
Tanto em São Paulo como nos outros 15 Estados do Brasil em que estão presentes, os bandeirantes recebem treinamento para transmitir as informações sobre Aids, DSTs e gravidez para a comunidade. Geralmente, os participantes têm entre 13 e 18 anos. Em alguns casos, há parceria da federação com outras instituições.
Em Salvador (BA), há participação do Gapa (Grupo de Apoio à Prevenção à Aids). "Nós recebemos treinamento deles", diz Edemilton Lima, 18, que participou de uma exposição do projeto montada em um shopping da capital baiana. "Nós criamos um jogo grande de dados, em que, para avançar casas, as pessoas precisam acertar as perguntas relacionadas aos temas", explica. "Por se tratar de uma brincadeira, os jovens participaram mais, ficaram curiosos. É uma boa forma de aprendizado, pois o adolescente fixa as informações."
Foram distribuídos também brindes para os participantes, como um cartão com um espelho e a inscrição "olha a cara de quem pega Aids". "É para mostrar que não existe mais grupo de risco, qualquer pessoa pode pegar. Muita gente acha que só porque está namorando firme pode transar sem camisinha. Não é assim: o parceiro pode pular a cerca", diz Edemilton.
A colega Jamile Santos Freitas de Jesus, 17, acha que os jovens preferem receber informações de pessoas da mesma idade. "Senão fica uma coisa de pai e mãe", diz.
Os bandeirantes de Salvador, como parte do treinamento, assistiram a uma peça da Cia. Urbana de Teatro, sobre Aids e DSTs. "A apresentação prendeu a atenção de todos. Não foi cansativo, tedioso. Foi durante um fim-de-semana que passamos em uma escola para aprender mais sobre o tema", conta Edemilton.
Em Boa Vista (RR), a federação fez uma parceria com a ALV (Associação de Luta pela Vida), que trabalha com portadores de HIV e prevenção. "O nosso trabalho é contra o preconceito. Nós também fazemos uma ação solidária para conseguir recursos para os portadores", explica Maria Lúcia Dias Casarin, coordenadora regional de Roraima. "Nós convidamos um jovem com Aids para dar um depoimento para os bandeirantes. Foi importante, tocou a sensibilidade de todos", diz.
A bandeirante Franciane Dias Mendes, 16, acha fundamental esse tipo de atividade. "Nós ficamos informados e preparados. Muitos não têm essa oportunidade, então vamos passar as informações adiante", afirma.
Segundo Maria Lúcia, o projeto está na fase de "mobilização". "Não podemos falar "conscientizar" ainda, pois é uma palavra muito forte para colocar nessa altura das atividades. Mas vamos desenvolver os trabalhos em oficinas em parceria com instituições da área de saúde."
A coordenação nacional da federação, no Rio de Janeiro, criou o serviço Tecle-Aids. É um e-mail (tecleaids@ bandeirantes.org.br) que tira dúvidas sobre Aids e DSTs. A Federação de Bandeirantes do Brasil conta com o apoio de profissionais especializados, que prestam consultoria gratuita à instituição. As perguntas são respondidas por voluntários do projeto Ouça, Aprenda, Viva. "O índice de contaminação entre os jovens está absurdo. Tem de se falar sempre sobre Aids e DSTs", finaliza Edemilton.



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